Em entrevista à CARAS Brasil, Carol Costa relembra trabalhos que marcaram sua trajetória e revela desafios em viver personalidades históricas
Publicado em 20/09/2024, às 11h30
Em cartaz comoBibi Ferreira em Clara Nunes — A Tal Guerreira, até o dia 29 de setembro em São Paulo, Carol Costa (38) agrega mais uma personalidade histórica ao currículo e consolida a carreira nos palcos com mulheres fortes. Em entrevista à CARAS Brasil, a atriz comenta desafios da interpretação e revisita trabalhos em que viveu personalidades femininas marcantes: "Apontaram o caminho", afirma.
Antes de viver Bibi Ferreira, Carol deu vida à Patrícia Galvão, a Pagu, no musical Tarsila, a Brasileira, e conquistou o público com uma interpretação forte dessa figura que a intérprete entende como silenciada pela história. "Depois de muito estudo, a dificuldade foi em passar toda a força e tamanho dessa mulher em apenas um recorte do musical. No musical, só havia espaço cenicamente para mostrar um episódio da vida dela que resultou num apagamento histórico talvez. Num silenciamento", explica.
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Mesmo com o tempo limitado de palco, através de uma imersão na vida da artista, a atriz conseguiu entregar uma face de Pagu desconhecida pelo público: "Me alimentar de tudo que envolve o universo da Pagu, por exemplo, me fez estar internalizada e me apropriar da força dela, intenção, pensamento, postura e ideologias", diz.
Confiar em si também é uma parte importante do processo de dar vida a personagens como Pagu. "Internamente, eu preciso acreditar e defender a minha intuição como artista em relação ao que é representar uma figura tão importante. Eu, como artista mulher, me sinto na responsabilidade de externalizar, nem que seja em um olhar, um gesto, um canto, o que for", reforça.
Depois de Pagu, a intérprete encarou a responsabilidade de levar Bibi Ferreira aos palcos: "Mais uma mulher relevante na nossa história e na minha história como artista", diz. Carol enxerga Pagu e Bibi como duas mulheres que fizeram da sua arte a voz de outras mulheres, e assim, "apontaram o caminho". "Foram mulheres armadas pela palavra", define.
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Para Carol, uma mudança pessoal acontece a cada personalidade que ela interpreta. Em 2019, a artista integrou o elenco da peça Cangaceiras Guerreiras do Sertão, onde participava de um grupo de mulheres que lutavam contra os mecanismos de opressão, inclusive no cangaço. A experiência a fez encarar convicções sob novas perspectivas: "Com certeza, mergulhar nesse universo e encarar uma personagem que retrata a violência contra a mulher me fez enxergar situações, relações e até posturas diante do feminino e do meu próprio feminino, de uma maneira muito mais fortalecida e diferente".
Até a conquista do papel de Bibi, segundo ela, foi muito influenciada por sua aproximação com Pagu. "Ela era tão corajosa e obstinada que peguei e coloquei na minha cabeça que o meu próximo projeto seria viver a Bibi no musical Clara Nunes — A Tal Guerreira, quando abriram as audições", conta.
O reconhecimento e os prêmios, é claro, não chegaram sem esforço. Carol compartilha que houve um amadurecimento em sua carreira através de todas as experiências que viveu. A artista destaca que a união de escolhas inteligentes e boas oportunidades a fizeram chegar aonde está.
"Parece clichê. Mas não é. Nunca desisti. Tenho consciência de que sou muito privilegiada em conseguir pegar papéis tão diferentes uns dos outros, mas também nunca foi sorte. Foi correr muito atrás e me mostrar disponível. Foi querer sair da caixa que muitas pessoas nos colocam", fala.
A caixa a que ela se refere seria a de "atriz de musical". Carol se define apenas como "atriz e ponto". "Existe muito preconceito com atores de musicais. Sou atriz, só que eu também sei dançar e cantar, por exemplo. Não é legal?! Não é um diferencial?! Então, se eu me limito a ser uma artista de uma ferramenta só, de fazer somente o que é cômodo, eu acabo me limitando a viver o óbvio. E isso eu não quero. Eu vivo de Arte", declara.
A artista se afirma inquieta, curiosa e uma intérprete que se entrega totalmente, sem criar resistência para se caracterizar para personagens. "É zero vaidade", fala. Para ela, isso é um diferencial na hora de ser vista pelos colegas do meio:
"Quando você se coloca disponível e realiza um bom trabalho, com profissionalismo, você acaba expandindo o radar para que produtores e diretores te olhem de uma maneira diferente, te enxerguem capaz. Fácil? Certamente não é. Mas também não dá para ficar no rasinho", conclui.
Depois de viver grandes personalidades históricas, a atriz destaca como desafios "lidar com as expectativas do público e captar exatamente o signo daquela personagem, que faça o espectador te reconhecer e te validar naquele papel".
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Como Bibi, ela recebe muitos comentários positivos, o que confirma a sua entrega e dedicação nos palcos. Falas como "você está idêntica, encarnou a Bibi", são comuns, mas Carol devolve, de bom humor, dizendo que "não tem encarnação, é trabalho duro, minha gente". Para o futuro, ela revela o desejo de acrescentar outra mulher icônica na lista e levar sua versão de Dercy Gonçalves ao teatro.