Prestes a estrear a temporada paulistana da peça ‘Dorotéia’, de Nelson Rodrigues, Alinne Moraes fala dos pontos em comum com a protagonista da obra – uma ex-prostituta que sofre com sua beleza
Em sua segunda experiência no teatro (a primeira foi com a peça Dhrama – O Incrível Diálogo entre Krishna e Arjuna, em 2007), Alinne Moraes (29) vive um papel desafiador em Dorotéia, montagem de João Fonseca (48) para um clássico de Nelson Rodrigues (1912 -1980). “Esse trabalho me exigia o amadurecimento profissional que eu tenho hoje, por isso quis tanto fazer”, afirmou a atriz em entrevista coletiva em São Paulo, nesta segunda-feira, 23.
A partir de 28 de julho, Dorotéia faz temporada na capital paulista no Teatro Raul Cortez. Vivendo a protagonista da obra, Alinne soma mais uma personagem ao seu leque de papéis ousados. “Eu já levantei muitas bandeiras em minha carreira”, disse. “Já vivi uma mãe solteira, uma lésbica, uma psicopata e uma tetraplégica na televisão. É uma grande responsabilidade para mim”, definiu a bela, que atualmente namora o diretor Mauro Lima (43). “Não gosto de falar sobre isso. É bom a gente preservar um pouco a vida quando ela está muito exposta”, declarou ao ser questionada sobre o novo relacionamento.
Na história escrita por Nelson Rodrigues em 1949, Dorotéia é uma ex-prostituta que procura mudar totalmente de vida após a morte de seu filho. Por conta dessa busca, ela passa a morar com suas primas viúvas, que a condenam por sua beleza. “Esse texto critica uma cobrança da sociedade que pensa que a beleza é um pecado”, esclareceu o diretor João Fonseca. “Parece que a mulher bonita é culpada pelo desejo que provoca nas pessoas e tem sempre que provar que é muito mais do que a estética aparenta”, ressaltou.
Dona de uma beleza incontestável, Alinne Moraes sabe muito bem como é isso – e esse ponto em comum com a personagem a ajudou com o trabalho. “Eu já tentei me ‘enfeiar’ para ser aceita”, revelou. “Quando eu era modelo, eu pegava ônibus para ir aos testes e sempre colocava um boné na cabeça para evitar o assédio. Eu sempre ouvia aquelas ‘cantadas de pedreiro’ e me incomodava muito. Assim como a Dorotéia, naquela época eu não queria chamar atenção”, disse.
“Hoje eu entendo que a beleza é minha aliada. Consegui muitas coisas porque eu precisava ser bonita para fazer alguns papéis. Mas também sei que isso é uma coisa que passa, que tem prazo de validade. Não tem como passar um spray na cara e ficar bonita para sempre. Na verdade, considero as rugas necessárias para trabalhar, para emocionar o público e contar uma história”, complementou, exemplificando sua tese ao citar a veterana Laura Cardoso (84), uma das atrizes que mais admira.
Dorotéia, entretanto, obrigou Alinne Moraes a deixar a vaidade de lado. A atriz considerou essa lição como um grande desafio, já que não contaria com maquiagem e nem próteses. “Eu fico feia em apenas 20 segundos nessa peça, sendo que não teve como olhar no espelho e montar uma cara, sabe? Veio de dentro para fora, eu tive que acreditar que eu estava feia para que o público também pudesse acreditar. É a fé cênica”, justificou. “E não tem peso algum nisso. Estou me divertindo muito com esse trabalho. Estou lá no palco para ser feliz”, concluiu.