Na música Mudança dos Ventos, de Ivan Lins (68) e Vitor Martins (69), Nana Caymmi (72) canta o seguinte: “Ah, vem cá meu menino/ Do jeito que imagino/ Me tira essa vergonha/ Me mostre, me exponha/ Me tire uns 20 anos/ Deixa eu causar inveja/ Deixa eu causar remorsos/ Nos meus, nos seus, nos nossos...”. O tema desta nossa conversa é justamente a relação amorosa entre um homem jovem com mulher mais madura. A diferença de idade muitas vezes chega a 40 anos, o que deixa o rapaz “doidinho”, como está um funcionário envolvido com uma moradora do condomínio onde moro, no Rio. Socialmente, é uma situação que causa desconforto, porque a maldade toma a frente da história. É comum dizerem que “a coroa deve estar sustentando o garotão!”. Mas o contrário, a união do homem mais velho com uma jovem, em geral é mais bem-aceito.
O que faz um jovem se interessar — e sentir desejo — por uma mulher com mais idade que sua mãe? A maturidade precoce pode fazê-lo buscar conversas mais profundas, aprendizado e incentivo para crescer. Sexualmente, a experiência e o ‘saber o que quer’ da mulher mais velha é fonte de fantasias. Mas não é só isso. Tem o outro lado da história, que está ssociado às relações afetivas do rapaz na infância.
Psicologicamente, ele pode estar projetando nessa mulher a figura materna, buscando a segurança, proteção e “estabilidade” emocional que lhe faltaram quando era criança. De uma maneira inconsciente, essa mulher — que acredita ser amada — estaria cumprindo esse papel para ele. Na Psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939) formulou o chamado complexo de Édipo, que é quando a criança, na fase fálica, por volta dos 3 anos, sente forte amor pela mãe e ódio pelo pai (ou por qualquer outra pessoa que desvie a atenção que ela tem para com o filho). A consequência é que o homem pode vir a buscar, nas relações maduras, a figura da sua mãe projetada na mulher mais velha para suprir a carência da infância.
O nó dessa história pode estar neste ponto: enquanto o rapaz se divide entre o desejo da experiência para uns e a imagem materna para outros, para a mulher há só a busca da jovialidade, a emoção, leveza, diversão e aventura. O namoro com um “garoto de apenas 20 anos” a faz se sentir desejada e valorizada.
A que os dois devem ficar atentos, então? Primeiro, é preciso ter clareza: identificar se ambos têm os mesmos olhares e expectativas e se não estão querendo suprir carências. O rapaz deve buscar descobrir quem é essa mulher para ele, que papel está ocupando em sua vida. Outro ponto importante para o homem é lembrar que, por ser jovem, pode não ter disponibilidade financeira para acompanhar a parceira em programas de que gosta. O casal deve conversar a respeito.
De outro lado, a mulher precisa ser forte para enfrentar o preconceito. Pode vir a ser rotulada de iludida e ouvir que vai “levar o golpe”. Se ficar insegura, pode sofrer com o ciúme e criar o “fantasma” da “competição” com a juventude de outras mulheres. Enfim, a diferença de idade e de momentos de vida pode ajudar ou ser empecilho para a união. Mas o amor pode ultrapassar tudo. E, se for passageiro, “que seja infinito enquanto dure”, como escreveu o poeta carioca Vinicius de Moraes (1913-1980).