Era uma vez Malu, uma distinta senhora de 63 anos, de uma pequena cidade de um grande Estado do Brasil. Malu vivia uma situação dramática, que descrevia assim: “Sou casada há 30 anos e tenho dois filhos: Leandro e Alexandre. Meu esposo se parece com as pessoas da sua família, é nervoso e se irrita com muita facilidade. Leandro, o mais novo, é como o pai, exaltase por qualquer coisa, xinga, ralha. Faço de tudo para evitar brigas.” De fato, ela se empenhava em evitar embates na família, especialmente entre o esposo e Leandro, o mais novo, por quem ela parecia nutrir um afeto especial.
Mas o que Malu fazia? Ela revela: “Já faz tempo que não tenho mais desejo pelo Oswaldo, mas, quando ele me toca, me procura na cama, acabo cedendo, mesmo contra a minha ontade. Teve uma época em que eu dizia que não queria ter relação e no dia seguinte era um ‘deus nos acuda’. Ele ficava irritado, ninguém escapava de seus xingamentos.” O que Malu mais temia era presenciar um embate entre o esposo e seu dileto Leandro; temia que uma tragédia pudesse acontecer.
Na verdade, existem muitas Malus espalhadas pelo Brasil. E Oswaldos. Inúmeras mulheres oferecem seu corpo diariamente sem desejo algum. Cumprem uma obrigação. Entregam o corpo ao esposo como se fosse um objeto a ser consumido pelo outro.
Nossa questão é: qual a razão para as mulheres terem relação sexual com o esposo sem desejarem? Evitar desarmonia conjugal e desavenças na família pode levar uma mulher a encarar o ato sexual como uma prática mecânica. Na tentativa de evitar conflitos, crê em algumas “verdades”, como a de que o papel da mulher no casamento é satisfazer os desejos do marido. Outro argumento muito utilizado pelas mulheres é este: se o que diferencia o casamento da amizade é a prática sexual, para eu estar casada preciso ter relações sexuais regulares com meu parceiro. Há ainda aquelas que obedecem ao que seu lado racional diz (que é importante o sexo) e desrespeitam o corpo quando ignoram a sensação de desprazer e repulsa. E assim por diante.
Criam-se verdades absolutas e, em nome delas, muitas mulheres fazem de seu corpo verdadeiro objeto, por livre e espontânea vontade. Com isso, evitam a emergência de conflitos no casal e na família, como crê a nossa Malu. Evitam-se conflitos com o outro real.
Mas a vontade de evitar conflitos pode estar encobrindo uma vontade de evitar conflitos consigo mesma. Como assim? Talvez Malu dissesse: “Não é em nome do desejo de meu marido que me entrego como objeto. Nem em nome do meu desejo de ser desejada por ele, mas... Entregome como objeto em nome de meus ideais de felicidade e casamento.” Ideais e verdades inquestionáveis. O pacto, muitas vezes inconsciente, é na maioria das vezes consigo própria.
O que fazer quando isso acontece? Difícil dizer, mas é crucial que o corpo seja sempre colocado em primeiro lugar. Se o corpo não sente vontade, se não deseja, não se deve forçá-lo a nada. Conversas com o esposo sobre essa questão são bem-vindas, assim como buscar orientação de um profissional. Trocar ideias com amigos para saber como lidam com esses problemas pode ser bom, mas preste atenção nisto: o corpo não gosta de ser feito de gato e sapato.