Prestes a lançar o primeiro álbum, Mateus Carrilho reflete sobre representatividade, política e sonhos
Foram quase dez anos de estrada com os amigos Candy Mel (30) e Davi Sabbag (33) na Banda Uó, encerrada em 2018. Mateus Carrilho (34) precisava entender, porém, o que realmente o representava para, assim, alçar voo solo. Após bem-sucedidas investidas no cenário musical ao lado de nomes como Pabllo Vittar (29) e Gloria Groove (27), o cantor se sente pronto e conta os minutos para o lançamento de seu primeiro álbum solo, marcado para o primeiro semestre de 2023. “Esse disco vem com muita maturidade de composição e da parte instrumental. Bebi muito dos ritmos nacionais. Ele brinda a história que construí nesses dez anos, da minha brasilidade. Tem samba, bossa nova, brega, funk. As pessoas só vão entender quando ouvirem”, promete ele, durante papo com CARAS direto do hotel INNSiDE, em SP.
Nos tempos em que o pop brasileiro ainda engatinhava, Mateus e os companheiros de banda abriram espaço, ao lado de nomes como Anitta (29) e Ludmilla (27), para que o gênero se firmasse no País. “Sou muito feliz com a estrada que construímos. A gente chegou na era da internet. O que passava na nossa cabeça: a música pop internacional era feita de forma eletrônica e já tinham gêneros brasileiros eletrônicos, como o tecnobrega e o funk. Queríamos fazer música pop brasileira assim. Hoje, é muito mais fácil. Existe pop. A cena está acontecendo. O que a gente quis foi trazer as referências que consumimos quando éramos crianças. Queríamos clipes que parecessem gringos”, relembra. “O TikTok, hoje, também é uma forma ótima de divulgação, tem muita gente tendo oportunidade de fazer sucesso e não teria se não fosse pela plataforma. Ela veio para somar”, festeja ele, com mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais.
A estrada, porém, nem sempre é tranquila. Mateus entende as dificuldades e a resistência que o grande público ainda tem em consumir músicas que venham do pop ou mesmo do funk e do brega. “Esse confronto acontece exatamente porque não estamos mais no underground. As pessoas tradicionalistas têm que conviver com tudo isso, querendo ou não. Essa ruptura vai acontecer, esse atrito vai causar
choque. Quanto mais informação e acesso chegar para todo mundo, mais isso mudará. Os filhos dessas pessoas vão chegar com outra cabeça. Sou muito feliz de termos espaço hoje, de estarmos nos comerciais. Mas ainda falta muita coisa! Por exemplo, raramente vai ter um artista pop ou LGBT nos mais ouvidos do Brasil”, alerta.
A questão também é política. Depois das eleições acirradas no Brasil, Mateus admite que sentiu medo da possibilidade de Jair Bolsonaro (67) se reeleger presidente. Mesmo em um cenário com cada vez mais espaço para artistas LGBTQIAP+, o País ainda segue por um caminho de preconceito e intolerância que afeta justamente esse público. “Me entristece saber que uma pessoa como o Bolsonaro pudesse ter sido reeleito, os números me assustaram. A gente vai continuar aqui para o que acontecer, seremos resistência sempre, mas poderia ser melhor. A desinformação ainda é muito grande”, lamenta.
Mesmo não convivendo na mesma frequência com os antigos companheiros de banda, Carrilho
tranquiliza os fãs e garante que a relação entre os três continua ótima e em clima de pura afinidade. “Não os vejo mais todos os dias, mas os amo, eu tenho muito respeito. Eu os encontro uma vez ou outra. Foi importante cada um seguir seu caminho, porque vivemos muito tempo juntos. Cada um precisava buscar o que queria fazer individualmente. Tenho o maior respeito por eles. São irmãos para o resto da minha vida”, explica o artista.
Seguindo, enfim, o próprio caminho, Mateus sonha em simplesmente dar sequência à carreira pela qual batalhou ao longo dos últimos anos e, consequentemente, se aproximar de quem sempre o consumiu — e aplaudiu —, além de conquistar novos fãs. “Os artistas internacionais são nossa grande escola, estão na frente há muito tempo. Olho para esses artistas e tento tirar as melhores inspirações e fontes. Meu sonho é lançar meu álbum finalmente no primeiro semestre do ano que vem. Quero que as pessoas dancem, curtam e se conectem”, conclui ele, fazendo de sua arte uma ferramenta de expressão.
FOTOS: PAULO SANTOS