Anoréxica: de anorexia, do Grego anorexia, perda de apetite, pela formação an, negação, e oréksis, desejo. É adjetivo feminino para identificar a mulher que perde a vontade de comer. A palavra surgiu em Português na década de 60 do século passado, quando passou a dominar nos desfiles de moda um tipo feminino sintetizado na modelo britânica Twiggy Lawson (65). Twig, em Inglês, é graveto. Ela era realmente muito magrinha. Tinha 1,67 metro e pesava 42 quilos. Seu padrão de beleza era um contraponto às mulheres carnudas, voluptuosas e sensuais da década anterior, que tinham na atriz norte-americana Marilyn Monroe (1926-1962) seu ideal de beleza. Para tornar-se magra daquele jeito, só comendo quase nada, o que passou
a ser obtido com a ajuda de drogas que forçavam a perda do apetite.
Bafejar: de bafo, do Latim vulgar baffa, sopro, ar que sai dos pulmões ou da boca, com seu cheiro peculiar, que, se desagradável, é chamado bafo de onça, animal carnívoro cujo hálito se imagina fedorento. Bazófia, do mesmo étimo, é bravata, jactância ou conversa fiada. Bafejado pode ter sentido positivo. O escritor e teólogo mineiro Frei Betto (68), no livro O Que a Vida me Ensinou, tocante depoimento do que aprendeu ao longo dos anos, adverte: “Ainda que os pais, bafejados pela roda da fortuna, deixem a seus descendentes gordas heranças, estas não deveriam ser o principal legado. Nada mais perigoso a um jovem que centrar sua autoestima na conta bancária ou no patrimônio familiar”.
Canário: do Latim canarius, cão. A ave chama-se canário porque veio das Ilhas Canárias, território espanhol, assim chamadas porque desde que os cartagineses as habitavam acreditava-se que havia ali muitos cães e os habitantes se alimentavam de carne de cachorro. Já calor canicular é expressão que alude à época do ano em que a estrela Sírio, da constelação do Cão, ergue-se junto com o Sol.
Flamengo: do Holandês flaming, pelo Latim medieval flamengus, natural ou habitante de Flandres, região localizada em territórios hoje pertencentes à França, à Holanda e à Bélgica. Designa também um dialeto daquela região. Em 1599, o navegador Olivier van Noort (1558 ou 68-1627), primeiro holandês a circum-navegar a Terra, tentou invadir a cidade do Rio de Janeiro pela localidade hoje conhecida como Praia do Flamengo, mas foi repelido, embora no século seguinte outras invasões holandesas dessem certo no Nordeste. O bairro do Rio tem este nome também pela presença de prisioneiros holandeses, chamados flamengos por equívoco, denominação mesclada aos pássaros conhecidos como flamingos, trazidos do Mediterrâneo. O Flamengo, um dos times de futebol mais populares do País, tem regatas no brasão porque seu surgimento deu-se em fins do século XIX, quando o remo era o esporte dominante.
Gula: do Latim gula, garganta, esôfago. Veio a designar excesso de comida ou bebida e é um dos sete pecados capitais: os outros são a avareza, a ira, a preguiça, a luxúria, a inveja e a vaidade. São chamados capitais porque quem tem um deles, tem muitos mais orbitando por ali ou quase todos os outros. Em A Poesia Sou Eu, diz o maranhense Luís Augusto Cassas (60): “Só as anoréxicas entrarão no Paraíso:/ os esquálidos as magérrimas as saradas/ os jejuadores de salada verde e mineral/ já receberam a sua recompensa/ — outra fatia do bolo de Santa
Escolástica?/ — obrigado, suas graças./ — papos de anjo?/ — após o café dos monges”.
Missionário: de missão, do Latim missione, declinação de missio, ligado a mittere, deixar, partir. Esta palavra evoca os primeiros tempos do Brasil, marcados pela presença de missionários enviados por ordens religiosas, como jesuítas. O missionário espanhol José de Anchieta (1534- 1597), filho de mãe judia convertida ao catolicismo, já beatificado, dá nome à Rodovia
Anchieta porque a estrada segue em linhas gerais os caminhos que percorria em São Paulo. Quando Estácio de Sá (1520-1567), fundador do Rio, ferido por flecha envenenada dos índios tamoios, faleceu, foi o padre jesuíta quem o atendeu no leito de morte.