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“Dá certo” a relação que frutifica, mesmo que não dure muito tempo

CARAS Publicado em 02/10/2013, às 19h32 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Quando um relacionamento amoroso termina, alguns dizem: “Pena que não deu certo”. Mas o que é “dar certo”? É não terminar nunca? Durar 50 anos ou mais? Dar certo não é sinônimo de duração, de tempo, mas de fertilidade e realização. Há casamentos de 40, 50 anos que foram inférteis e cujos parceiros passaram a vida toda reclamando um do outro, limitando o desenvolvimento de quem dizem amar. Há casamentos em que um proíbe o outro de se desenvolver, de trabalhar, de ter amigos, de criar. Os companheiros vão se suportando “para sempre”, em um relacionamento limitante e limitador. Isso é dar certo?  Pessoas que eram criativas, que desenvolviam seus talentos muitas vezes se deprimem depois que se casam. Em vez de crescer, paralisam. Em alguns casos só um cresce, e é sugado ou parasitado pelo outro, que dele depende para tudo. Por isso é tão comum que ao se separar as pessoas comecem nova vida criativa, fiquem mais alegres e mais bonitas. 

Acontece bastante com as mulheres, cujo valor, dentro de um relacionamento, frequentemente não é reconhecido — em especial quando se unem a homens bem-sucedidos em suas áreas de atuação profissional. Muitas vezes, mesmo não aparecendo, elas estão lá, criando, dando ideias, estimulando o parceiro. Seus talentos acabam sendo ofuscados, como ocorreu com a escultora francesa Camille Claudel (1864-1943), que viveu um amor com o também escultor Auguste Rodin (1840-1917). Ela só foi reconhecida como a  grande artista que era muito mais tarde. A esse respeito a escritora austríaca Elfriede Jelinek (67 que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2004, chegou a dizer: “Nenhum país teria PIB para pagar a dívida dos serviços não remunerados (e não reconhecidos) feitos pelas suas mulheres.” 

O psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) dizia que nossa missão na vida é “fazer consciência”. Quando criamos estamos tendo contato com nosso inconsciente e de lá trazendo realizações que fazemos conscientes. Se em um casamento um diminui o outro, não tem orgulho dele, não o admira, vai podar sua criatividade e também suas realizações. O amante, namorado ou companheiro certo é aquele que nos faz viver, que nos incentiva, seja no trabalho, seja na arte ou com os filhos, que são também grandes realizações. Amar de verdade enriquece, traz alegria. Em um bom relacionamento, um estimula os sonhos do outro, ajuda-o a realizar seu potencial criativo. É para isso que serve um encontro. Ele pode durar 50 anos, 50 meses, ou 50 dias. Se deu frutos — sejam os filhos, seja a energia criativa que um fertilizou no outro —, já “deu certo”! Infelizmente, muitas vezes termina em pouco tempo, no entanto isso não é motivo para ninguém se lamentar e muito menos dizer que não existiu. Lamentados devem ser os relacionamentos amorosos desequilibrados, mesmo que durem uma vida inteira. Na vida tudo acaba. O ruim e o bom, a tristeza e a alegria, a beleza, a mocidade. Mas as lembranças de bons momentos não devem ser apagadas pela raiva e pela decepção do final. Como disse o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.