Em entrevista exclusiva à Revista CARAS, Adriane Galisteu fala sobre leveza no romance com Ayrton Senna e reflexos da conexão na sua vida
Foi com Adriane Galisteu (50) que Ayrton Senna (1960–1994) viveu seu último amor. Um amor leve e descontraído, no qual o piloto mergulhou em sua essência e quebrou seus próprios paradigmas. Ao longo de 13 meses de relação, eles criaram uma conexão única e que reverbera na vida da apresentadora até os dias de hoje. “Minha história está guardada com o maior amor, respeito e carinho dentro da minha alma, do meu coração. Carrego nossa história como um escudo, não como um fardo”, diz a apresentadora, em entrevista exclusiva à CARAS.
– Qual a melhor lembrança que tem dele?
– É difícil escolher uma, porque tive grandes momentos com ele! A gente se divertia muito. O melhor era tirar ele daquele universo do tricampeão mundial e trazer para a vida real e divertida, acho que tive um pouco esse papel. Imagina uma menina de 19 anos, apaixonada, vivendo um conto de fadas; ele tinha esse lado moleque que as pessoas não conheciam, esse lado menino, mais divertido, que ficava para os íntimos. Tinha um humor muito característico, era ariano como eu e, às vezes, parecia que a gente tinha 10 anos de idade. Era isso, ele era um meninão quando estava fora do circuito e das câmeras. Ele tinha uma simplicidade que nem combinava com o tamanho dele, era um homem de hábitos simples e isso me chamava atenção, não era deslumbrado.
– Amigos próximos disseram em entrevistas que você trouxe leveza para ele...
– Eu percebia isso! Eu falava: ‘deixa seu cabelo crescer, não precisa fazer a barba toda hora’. Você vê pelas fotos essa diferença de visual. Eu me metia muito nessa coisa da roupa, apesar de ser uma garota simples, sempre gostei de moda e queria deixá-lo mais leve. A vida de piloto é pesada, sofrida, de dedicção, quase zero férias. Ele tinha uma dedicação além da conta e isso tirava dele o tempo de descanso, de diversão. Eu comecei a entrar nesse lugar.
– E ele te ouvia?
– Às vezes ganhava, às vezes perdia! Como disse, ele era ariano e, assim como eu, tem dias que estava diferente. Ele era muito sério, dedicado, tinha dias que a gente nem conversava. Cheguei a passar três dias sem ouvir a voz dele, porque estava compenetrado. Ainda assim, a gente se dava muito bem.
– Qual a memória mais forte que você tem do dia da tragédia?
– São dois momentos. O primeiro quando eu desligo o telefone com ele e, 10 minutos depois, começa a corrida. Acho que eu fui a última pessoa com quem Ayrton falou ao telefone. Ele pediu para eu buscá-lo no aeroporto, por que não estava mais aguentando a corrida e porque aquele fim de semana estava muito caótico. Eu me lembro de ter falado na ligação: ‘não corre! Você não pode ter uma indisposição?’. Ele ficou bravo, disse que precisava pontuar no campeonato. Se pudesse voltar no tempo, eu insistiria! Sentei para ver a corrida e, para mim, esse momento é inesquecível. Começou e ele bateu. Nisso, desligo a TV e vou tomar banho, já estava costumada com aquilo e fui me adiantar, achando que ele chegaria antes. Para mim, era só mais uma batida, só mais um acidente. Lembro que estava no avião, em Portugal, e recebi uma ligação na torre, achei que era ele, mas tive a notícia da morte. Naquele momento, tinha um silêncio no aeroporto que nunca esquecerei, estava todo mundo de luto. O mundo não achava que ele morreria fazendo o que mais sabia fazer. Outra coisa foi aqui, no funeral, o Brasil parado e em silêncio, foi uma coisa inacreditável.
– Tinha noção da grandiosidade dele?
– Nem eu, nem ele! Ele já era tricampeão mundial, um ídolo, mas não ligava, não era isso que importava. Ele só queria fazer bem aquilo que gostava. Eu tinha total noção do tamanho que eu era e do tamanho que ele representava para o mundo. Dentro do meu mundo, ele era tudo, então, quando o perco, perco tudo. Tive ajuda de anjos de guarda, como a família Almeida Braga. Foi uma situação difícil, porque eu era muito jovem, muito pobre, e isso conta. Eu tinha uma vida que continuava, as contas chegavam, meu irmão estava doente...
– Saiu mais forte?
– Não percebia isso. No meio do furacão, a gente não tem noção do que acontece, mas não tenho dúvida de que aprendemos com a dor.
– Ele era um homem romântico?
– Era muito tímido. Ele deixava vários bilhetes, escrevia mais do que falava. Quando sentávamos só nós dois em um jantar ou para jogar baralho, que era comum, ele conseguia conversar mais e se soltar, mas era fechado. Mostrava o carinho dele de outra maneira.
– O que ficou dessa história?
– Tenho orgulho de falar dela. Meu marido, Ale, era fã dele, assim como meu filho, Vittorio, é de tanto eu falar. Ele é um homem que nunca poderia ter morrido e será importante na minha vida enquanto eu viver. Sou privilegiada, porque parte do que sou tem tudo a ver com a mulher que estava ao lado dele.
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