Estilista paulistano é a única novidade do line-up da 32ª edição do São Paulo Fashion Week; sua passarela deve reunir moda de festa exuberante
Se você pensa que no mundo da moda, de repente, o sucesso bate à porta, pode tirar o cavalinho da chuva. A fórmula não funciona exatamente assim neste glamouroso e concorrido mundinho. O estilista Rodrigo Rosner (33) está aí para provar esta teoria. Depois de mais de 15 anos de trabalho no mercado, enfim, nesta sexta-feira, a marca dele, a R. Rosner, vai debutar nas passarelas do São Paulo Fashion Week – o evento mais importante do calendário nacional fashionista.
Antes da estreia, nem precisa dizer que o rapaz percorreu um extenso e árduo caminho até ser capturado pelo olhar antenado da Luminosidade, a empresa que está por trás dos principais eventos de moda do país – o SPFW e o Fashion Rio. Rodrigo carrega no DNA a ligação com a moda. Os avós húngaros dele fundaram, nos anos 1970, o renomado Ateliê Parisiense, confecção que chegou a fornecer peças para grandes marcas no Brasil, como Huis Clos, Daslu, além de ter sido a responsável pela produção nacional de grifes très chiques – entre elas, Balmain, só para ficar no primeiro exemplo.
Só que toda essa conexão não levou o moço diretamente ao posto de estilista. Quando foi trabalhar no negócio da família, inicialmente, ele se dedicou à parte mais burocrática. “Eu sempre achei que tinha que fazer alguma coisa ligada à arte. No começo, pensei que deveria me sustentar sendo arquiteto. Mas em casa, me convenceram de que eu tinha que fazer administração, para poder administrar os negócios da família”, conta Rodrigo, que chega ao SPFW com o título de única novidade desta edição do evento.
O estilista, que vai apresentar uma coleção cujo ponto alto são os vestidos de festa, com muito bordado e pedrarias, recebeu a CARAS Online em seu ateliê de 100 metros quadrados, na Rua Minas Gerais, em São Paulo, e compartilhou um pouco da sua história. “Tinha 17 anos quando comecei a trabalhar na fábrica da minha família. Foi lá que fiquei até os 28 anos. Onde comecei o caminho que me levou à especialização na Central Saint Martins College of Art and Design, de Londres. Depois, passei por uma confecção no Bom Retiro, onde aprendi bastante também. Então, senti a necessidade de criar uma coisa que fosse a minha cara. E o que eu gosto realmente de fazer são os vestidos de festa”, explica.
Há três anos, Rodrigo dedica-se exclusivamente à R. Rosner e seus vestidos de festa. No começo, atendia suas clientes – seu público cativo – em casa mesmo, na região da Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo. Mas, desde dezembro, instalou-se com a cara e muita determinação no novo ateliê, que funciona exatamente onde existiu durante alguns anos um clube underground, o Milo Garage. “Gostei muito deste local, tem um ar dark side, que tem tudo a ver com a coleção que eu vou apresentar na passarela na sexta-feira”, antecipa o estilista.
Apesar de ser a estreia de Rosner na passarela do SPFW, ele tem experiência de sobra no catwalk. Nas últimas sete edições da Casa de Criadores (evento que reúne novos talentos do cenário criativo paulistano), seus vestidos de festa desfilaram. “Já tinha decidido que não participaria mais da Casa de Criadores e faria uma coleção com um desfile menor, algo solo, que casasse com esse momento em que estou com um novo ateliê, um momento novo. Aí, surgiu o convite da Luminosidade e não tinha como falar não”, diz.
E agora, eis que Rodrigo vive os impactos – doces e amargos – de integrar a maior semana de moda da América Latina. “No dia em que foi anunciado o line-up do SPFW, eu contei, recebi 89 ligações. Só hoje, foram seis pedidos de entrevista. Agora, tenho que cuidar dos detalhes do backstage do meu desfile, novas decisões. Com certeza, estou trabalhando mais de 12 horas por dia. Hoje, às 4h da manhã fui para Nova Odessa buscar a bordadeira que está fazendo o acabamento nas peças. Amanhã, ainda tenho prova de roupa em modelo”, explica um ofegante e determinado estilista.
Dark side
Logo na entrada do ateliê de Rodrigo, várias bonecas fazem as boas-vindas. Não pense você que são Barbies à espera das visitantes. Nada disso. São peças que, certamente, são muito mais velhas que o estilista. O detalhe que mais chama a atenção? Todas elas estão vestidas com modelos costurados pelo próprio Rodrigo. “Quando decidi que abriria um ateliê, tinha certeza que eu queria fugir do clichê cafona que tem no meu segmento. No meu ateliê não tem aquela coisa de bandeja de prata. Queria um galpão e, por isso mesmo, estou instalado em uma garagem, não queria perder esse dark side”, argumenta.
A inspiração para a coleção que será apresentada nesta sexta surgiu a partir de um livro de ilustrações de mariposas que ele ganhou, anos atrás, de uma amiga. "A estética da mariposa sempre me atraiu. Tem essa coisa mais sombria, que eu procuro, com texturas e formas incríveis”. O que esperar? Vestidos com tecidos como chamalote, renda, aplicações em cristais - tudo très chique.