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Moda no Museu

Exposições sobre estilistas contemporâneos e museus criados por grifes de luxo conquistam o público e conferem status de obra de arte a roupas e acessórios

Ana Paula de Andrade Publicado em 02/07/2012, às 17h02 - Atualizado em 18/02/2013, às 06h56

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Exposição "Inspiration Dior" no museu Pushkin, em Moscou - Dior/Divulgação
Exposição "Inspiration Dior" no museu Pushkin, em Moscou - Dior/Divulgação

Por Ana Paula de Andrade

Museus em geral expõem indumentárias não propriamente como uma forma de arte, mas como registro do passado de importantes civilizações, como a egípcia e a romana. As roupas funcionam como pistas que contam uma história milenar e fascinam instigando a nossa imaginação. Curiosamente, hoje, o que atrai milhares de pessoas aos museus são justamente roupas. Mas não túnicas romanas ou raridades egípcias com milhares de anos, e sim peças criadas há poucas décadas por designers contemporâneos como Giorgio Armani, Coco Chanel e Alexander McQueen.
Em 2011, exposições sobre o universo da moda invadiram museus e galerias. Em Londres, a Barbican Art Gallery recebeu a exposição Future Beauty: 30 Years of Japanese Fashion, que destacava a trajetória de estilistas da vanguarda japonesa, como Issey Miyake e Rei Kawakubo. Em Paris, foi a vez da Louis Vuitton ganhar espaço no Musée Carnavalet, na mostra Voyage en Capitale, que reuniu mais de 200 desenhos, mapas, fotos e malas antigas criadas desde a fundação da grife, em 1854. No Museum at the Fashion Institute of Technology (MFIT), de Nova York, a estilista Vivienne Westwood foi o tema da exposição Vivienne Westwood, 1980-89, que enfocou as mudanças de estilo e seu impacto na moda, especialmente no cenário londrino na década de 1980. Em Moscou, no museu Pushkin, a coletânea Inspiration Dior expôs 120 vestidos ao lado de obras de Renoir, Modigliani e Picasso. Já Madame Grès: La Couture à L'Oeuvre, exibida no Musée Bourdelle, na capital francesa, homenageou a lendária estilista que transformou drapeados em arte.
Mas a mostra mais emblemática de 2011 foi Savage Beauty — uma retrospectiva da obra do estilista britânico Alexander McQueen — realizada no Metropolitan Museum de Nova York. A exposição atraiu mais de 600 mil pessoas e ficou entre as dez mais visitadas do museu em seus 140 anos. As criações de McQueen, falecido em 2010, são consideradas obras-primas.

Audiência garantida

Um fator que tem influenciado o crescimento das exposições de moda é seu apelo junto ao público. “Para mim, uma roupa que tenha sido meticulosamente criada tem mais valor do que uma cama desfeita com um monte de lixo em volta”, alfineta a estilista Zandra Rhodes, que já vestiu personalidades como Lady Di e Sarah Jessica Parker e, em 2003, inaugurou o Fashion and Textile Museum de Londres. “Os museus têm levado a moda mais a sério, em parte porque descobriram que as pessoas têm curiosidade sobre roupas e que isso é uma das coisas mais populares que eles podem exibir”, acrescenta.
A moda e a arte têm se associado com frequência ao longo da história em uma relação quase simbiótica. Às vezes, apenas se inspirando mutuamente. Outras, concretizando parcerias, como a do pintor Salvador Dalí e da estilista Elsa Schiaparelli, ou Coco Chanel criando os figurinos para apresentações de dança dos Ballets Russes. O que mudou nas últimas décadas foi o surgimento de novas necessidades do mercado consumidor e o modo de atingi-lo.
Levar grandes nomes do universo fashion para os museus atrai público e gera renda, o que é bom para os museus. Por outro lado, confere status de exclusividade e tradição às marcas que expõem. A primeira prova disso foi dada em 2001, quando o Guggenheim de Nova York homenageou o estilista Giorgio Armani com uma exposição inédita. Depois de exibir Armani, a frequência do museu disparou. Na China, por décadas isolada pelo regime comunista, a tradição de Chanel e de outras marcas de luxo era ignorada pela maior parte dos chineses. Logo, o país que mais cresce no consumo de luxo atualmente começou a ser palco de diversas exposições. A mostra Culture Chanel, exposta no Museu de Arte Contemporânea de Xangai e no Museu Nacional de Pequim, reuniu peças da marca francesa, além de objetos pessoais da estilista Coco Chanel. Os itens selecionados e a ênfase na vida de Chanel evidenciavam o intuito de valorizar a história glamourosa da marca.

Para ver e vestir

Agora, algumas grifes investem em seus próprios museus. O Gucci Museo, inaugurado em 2011 para celebrar os 90 anos da marca, ocupa o Palazzo della Mercanzia, uma construção do século 15, em Florença. Além de reunir um acervo que conta a história da grife — como a evolução do logotipo e um fantástico arquivo de bolsas, acessórios e fotografias — também realiza exibições de arte. Já o museu dedicado ao estilista Cristóbal Balenciaga, sediado no País Basco, na Espanha, possui 90 peças históricas, entre elas roupas criadas para a princesa de Mônaco, Grace Kelly, e o vestido de casamento da rainha Fabiola da Bélgica. No início deste ano, a Prada inaugurou seu 24h Museum. Como o próprio nome revela, um projeto de curtíssima duração, que aconteceu somente no dia 24 de janeiro no Palais d’Iéna, em Paris. Criado pelo artista milanês Francesco Vezzoli em parceria com o grupo de design AMO, a mostra com ares de balada reuniu reinterpretações de esculturas clássicas e fez um tributo ao feminino e a divas contemporâneas, como Sharon Stone e Lady Gaga.
O hemisfério sul também tem seu ilustre representante: o Museo de la Moda, no Chile. O acervo ocupa a antiga residência da família Yarur Bascuñán — influente na indústria têxtil nacional — e é considerado pela Unesco um dos espaços culturais mais refinados da América Latina. Nele, estão reunidas dez mil peças de roupa, que incluem a famosa jaqueta militar usada por John Lennon e o vestido YSL da princesa Diana.
E a tendência veio para ficar. Em 2012, o designer de sapatos Christian Louboutin e os estilistas Marc Jacobs e Yves Saint Laurent serão tema de exposições.
Em maio, o Metropolitan de Nova York inaugurou a mostra Elsa Schiaparelli and Miuccia Prada: Impossible Conversations, reunindo criações das estilistas italianas.
Para Valerie Steele, diretora do MFIT, o sucesso dessas exposições se deve à acessibilidade. “As pessoas são capazes de entender e apreciar moda, mas são inseguras sobre arte”, diz.
Os vestidos têm outra vantagem: são obras de arte que podem ir muito além das paredes de um museu. Ao contrário de quadros, é possível apreciá-los nas ruas, festas e, quem sabe, até no guarda-roupa da sua casa.