Com seu inquieto desejo de representar ao mesmo tempo tradição e modernidade, Karl Lagerfeld transita entre o velho e o novo mundo. Sob um cenário de ruínas, no melhor estilo depois-do-fim-do-mundo, ele propõe infinitas possibilidades de cores, texturas, modelagens e proporções. Nada por aqui parece muito datado. Ora uma manguinha com ares sessentistas aparece no vestido curto, ora uma silhueta ampla à la anos 1980 chega nos casacos, ora uma forma tipo coluna se abate sobre o modelito festa. Porém, a essência futurista se mostra sempre evidente graças à escolha dos materiais metalizados, da cartela de cores voltada para os pratas e principalmente na produção de cabelo e maquiagem com jeitão bem space cowboy. Pelo visto, vale mesmo apostar nas sobrancelhas grossas e bem marcadas, e ainda seguir o estilo da top mais solicitada hoje — e musa do kaiser —, a britânica Cara Delevingne. De volta às roupas, o clássico tailleur da marca ganha novas versões e um acessório que parece indispensável: o cinto largo. Colocado em proporções diferentes, às vezes ajustado à cintura ou displicentemente colocado sobre o quadril, ele traz o elemento de frescor que faltava ao look clássico. E, por falar em frescor, o comprimento das saias sobe, as texturas se misturam com casacos de tweed usados com saias bordadas e as botas-meia (mais conhecidas como cuissardes) marcam presença para um efeito sensual e modernoso. Já para os vestidos — que mais parecem verdadeiras instalações artísticas, tamanha a diversidade de materiais, cores e grafismos de efeitos tridimensionais —, comprimentos mídi e a volta do bom e velho tule completam o visual festa. Se a alta-costura é feita de trabalhos únicos e inesperados, Karl Lagerfeld sabe como ninguém representá-la. Viva!