O filme é de 1972, do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, que, como ela, gostava de ousar esteticamente e foi um marco na produção cinematográfica germânica
O cinema já foi, e continua sendo, inspiração para muitos estilistas. Para dar vida à sua coleção de inverno, apresentada na última Semana de Moda de Milão, na Itália, Miuccia Prada buscou referências no filme As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, de 1972, do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, que, como ela, gostava de ousar esteticamente e foi um marco na produção cinematográfica germânica. Miuccia se inspirou também no trabalho de outros dois alemães icônicos: a coreógrafa Pina Bausch e o artista Joseph Beuys. O desfile começou com uma profusão de looks de shapes retos e tons sóbrios, que trouxeram transparências pontuais nas saias de organza, aliadas a casacos pesados com acabamento de lã de carneiro nas golas e nos punhos. Uma parceria certeira entre delicadeza e austeridade. As cores e as estampas com jeito vintage — entre elas a chevron — não demoraram a surgir, decretando o domínio do clima setentinha na passarela, em uma clara referência ao filme de Fassbinder. Ainda assim, não faltaram na coleção padronagens construtivistas e art déco. Também marcaram presença modelagens soltas, suéteres com decotes em V, gravatas amarradas ao pescoço e botas de cano alto. Bolsas de diferentes tamanhos, com enormes alças de metal, eram o complemento das criações da grife italiana. “Sua humanidade, seu amor à cultura, sua paixão por contar histórias, eu me diverti tanto vendo seus filmes. Eles me proporcionaram um contato com algo menos extravagante e mais dark”, disse a estilista sobre a influência do cineasta em seu imaginário. É importante mencionar que Miuccia não transferiu a estética das telas para suas peças pura e simplesmente. Mas o universo criado por ela estabeleceu um diálogo natural e imediato com a linguagem contestadora criada por Fassbinder. Afinal de contas, assim como ele, Miuccia é autoral e se dedica a contar histórias inesquecíveis.