Com jeito fashion e aparência de monstros, Frankie Stein, Draculaura e outras bonecas da turma “Monster High” podem ensinar as crianças a conviverem com as diferenças e estimular o bom comportamento
Frankestein, Drácula e Lobisomem assustaram gerações de crianças – e de adultos também. Os pregos da cabeça de Frankestein, os dentes afiados do vampiro e o olhar faminto da criatura que é meio lobo, meio homem fizeram parte de muitos pesadelos. Mas parece que esse medo é coisa do passado. A nova geração de monstros, composta pelos “filhos” desses e de outros ícones do terror, que pertencem à turma “Monster High”, é febre entre as crianças.
O visual de Frankie Stein, Draculaura e Clawdeen Wolf e dos demais protagonistas da turma de monstros adolescentes também é composto por elementos sombrios: o preto é predominante e todos têm a característica de sua espécie: cicatrizes, dentes afiados, orelhas pontudas. Mas o que mais chama a atenção é a pegada fashion, que encanta as crianças. “Esses personagens usam acessórios da moda, têm cabelos descolados e acompanham as tendências de maquiagem, como fazem os adultos que as crianças admiram”, afirma a psicóloga Margarida Antunes Chagas, especialista em comportamento infantil.” Portanto, este modelo representa o ‘real’, diferente dos personagens de contos de fada que elas não encontram no seu dia a dia”, completa.
O estranhamento de quem não conhece a turma “Monster High” é comum. Afinal, “as crianças realmente absorvem a influência de seus ídolos”, diz Fernanda Teixeira, diretora pedagógica da escola infantil Capítulo 1. Mas, apesar do estilo “dark”, as bonequinhas apresentam um comportamento sadio de adolescente. Draculaura, por exemplo, é uma vampira vegetariana que desmaia quando vê sangue. “As personagens são apresentadas como meninas bonitas, como ‘gente do bem’ e até justiceiras, em alguns casos. Assim, as crianças copiam comportamentos positivos e características físicas que esperam obter”, avalia a psicóloga Margarida. Para Fernanda Teixeira, mais do que um comportamento positivo, o visual monstro também incentiva a melhor convivência com as diferenças. “No fundo, todo ser humano tem vontade de não seguir um padrão estético de beleza, inclusive as crianças. Além disso, elas querem se comportar como adolescentes e questionam posturas, o que fazem por meio dos monstros ‘belos’, e isso acaba ensinando a conviver com as diferenças”, diz. Os personagens ajudam a quebrar tabus, porém também criam outros. “As crianças formam a sua própria turma ‘Monster High’ e só aceitam meninas que têm os acessórios personalizados”, avalia.
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A marca “Monster High” foi lançada mundialmente em 2010 por meio de uma série de livros, de episódios de uma série animada de TV, que também estava disponível on-line, e da coleção de bonecas da Mattel. “A força da marca, principalmente entre as meninas, possibilitou a expansão da linha de produtos Monster High, que conta hoje com artigos de moda, de festa, material escolar, brinquedos e produtos de beleza”, diz Ana Furtado, gerente de marketing de produtos para meninas da Mattel do Brasil. Mas o preço dos produtos, principalmente das bonecas, ainda é alto no Brasil, a partir de R$ 100. Já nos E.U.A, por exemplo, elas custam cerca de U$ 30. “A composição dos preços inclui impostos estabelecidos pelo governo e outros custos que interferem no valor final dos produtos. Por isso o preço no Brasil é mais alto”, diz a gerente de marketing.
A temática “terror do bem” está sendo bastante utilizada no universo infantil desde a última década. As produções animadas “Os Sete Monstrinhos”, “Monstros S.A”, da Walt Disney, “Frankenweenie”, criação de Tim Burton em homenagem à Frankestein, e tantos outros, provam a eficácia da fórmula que agrega “bem” e “mal”.
Por Juliana Cazarine