Em entrevista à CARAS Brasil, Alexander Bez explica o ‘poder’ do tabagismo na mente humana; já a médica Fernanda Nichelle aponta o envelhecimento precoce
Nesta sexta-feira, 31, é celebrado o Dia Mundial Sem Tabaco. Criado em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o objetivo é alertar a sociedade sobre as doenças e mortes relacionadas ao tabagismo – mais de 8 milhões de pessoas por ano, segundo dados divulgados em 2021. Para falar sobre o tema, a CARAS Brasil conversou com o psicólogo Alexander Bez, que falou sobre vício; e com a médica Fernanda Nichelle, que apontou os malefícios da planta do gênero Nicotiana.
De acordo com Bez, quando falamos em tabaco, estamos falando em uma substância lícita, porém altamente agressiva à constituição pulmonar-cardiovascular, como também substancialmente viciante. “Não se tratando de uma condição de compulsão, mas de vício mesmo! Todo vício, sem exceção, começa pela ‘autorização mental’, ou seja, por uma permissão que o próprio cérebro concede para que a pessoa ingresse nesse mundo. No entanto, há estruturas mentais que já apontam pré-tendências para a pessoa desenvolver a ação contínua de um vício”, informa.
O psicólogo aponta que o tabaco provoca uma série de patologias crônicas. “Por mais que o tabaco seja anotado de uma extensa agressividade ao sistema corporal geral, provocando alterações significativas, ele é muito menos letal do que qualquer droga ilícita. Sendo impossível compará-los. Mesmo assim, o tabaco provoca uma série de patologias crônicas e isso se amplia ao uso dos cigarros eletrônicos, cujas constelações de danos são extremamente multiplicadas”, ressalta.
O tabaco contém nicotina, o que também é responsável pela poluição dos pulmões e aumento das inflamações corporais, e contribui para o aparecimento de várias doenças. “Existe uma falsa ilusão de que o cigarro diminui a ansiedade, porém é ao contrário, parar de fumar diminui a ansiedade. Justamente porque a falta de nicotina no organismo faz a pessoa querer mais e isso aumenta a ansiedade, por isso o mais correto é cortar de vez esse uso”, destaca Bez.
E continua: “Muitas pessoas acabam apelando pelo uso como uma coisa secundária, uma consequência. Por exemplo, se a pessoa está depressiva, usa o cigarro como antidepressivo. Se está ansiosa, usa para diminuir a ansiedade. Mas é importante ressaltar que o cigarro aumenta a vulnerabilidade aos transtornos mentais. Ter a compreensão do mal que o tabaco faz, não substituindo-o por cigarros eletrônicos, se constitui como a ação mais sábia possível. O melhor caminho é a redução e a supressão total desse vício. Sabemos que o processo de abandono do vício não é fácil, haverá recaídas, mas também haverá evoluções e melhoras”.
De acordo com o psicólogo, nesse processo de remissão do vício, também pode haver um aumento da ansiedade, o que para muitas pessoas pode reverte-se em angústias, sofrimento e desespero. “Por isso a importância de respeitar o limite de cada um, sabendo que a paciência, sabedoria em pensar na saúde e a capacidade da tolerância ajudarão nesse longo caminho a ser psicologicamente e neurologicamente percorrido”, diz.
Além disso, atividades esportivas, sociais e turísticas ajudam muito e devem ser incorporadas ao calendário diário, segundo Bez. “Bem como a terapia e a medicação ansiolítica para redução da ansiedade severa, quando for o caso, esse é um processo de transição para uma vida mais saudável sem o cigarro”, finaliza.
ENVELHECIMENTO PRECOCE
Já a médica Fernanda Nichelle, especialista em estética, afirma que o uso de cigarro é uma das causas do envelhecimento precoce. “A pele do corpo todo é atingida. No entanto, nossa percepção é maior na face por ela estar mais exposta. A nicotina, princípio ativo do tabaco, aumenta a produção de radicais livres, moléculas instáveis que agridem a pele e aceleram o seu envelhecimento, atrapalhando o funcionamento natural da mesma”, informa.
Segundo a especialista, ocorre uma aceleração da perda do colágeno, ocasionando o surgimento de rugas e linhas de expressão, e manchas que tornam o tom da pele irregular, levemente acinzentado e opaco, além de poros mais dilatados.
“Existem alguns tratamentos que podem ajudar na recuperação dessa pele danificada, como o uso de laser, peeling, estímulos de colágeno, entre outros, mas o primeiro passo para evitar ou tratar esses danos é parar de fumar”, fala. "Outro ponto que é importante citar é, que além de todas essas questões citadas acima, o cigarro também é um fator de risco para alguns tipos de câncer de pele, porque causa mutações no DNA celular”, finaliza.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), atualmente há 1,3 bilhão de usuários de tabaco em todo o mundo, sendo que o uso recorrente da substância mata cerca de 8 milhões de pessoas por ano, entre elas mais de 7 milhões de fumantes ativos e 1 milhão de passivos.
Alexander Bez - Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA); Especialista em Saúde Mental. Atua na profissão há mais de 27 anos.
Fernanda Nichelle - Médica que atua exclusivamente na área de estética médica e saúde da pele, com especializações nas Universidades de Harvard e Michigan, nos EUA. Está à frente da clínica que leva seu nome em Porto Alegre/RS. CRM/RS: 36.168 CRM/SP: 154.072