Fernanda Torres emociona ao falar sobre a morte de Fernanda Young, roteirista de 'Os Normais'
Fernanda Torres emocionou ao publicar um texto emocionante dedicado para Fernanda Young, que faleceu no último domingo 25. Muito emocionada, a atriz comentou sobre a vivência que teve com a escritora da série de sucesso Os Normais.
Nesta segunda-feira, 26, a global publicou o relato na revista Istoé. "Tínhamos o mesmo nome, Fernanda, e também escrevíamos e atuávamos, uma mais, outra menos, uma menos, outra mais. Mas éramos diferentes. Devo muito à Fernanda , à jovem e young Fernanda de Nikiti Niterói", iniciou Torres.
"Por caminhos que ninguém explica, nos fundimos numa mesma Vani. Por três anos de série e duas películas dos Normais, fui seu alter ego anárquico e desconcertante. Ganhei de bandeja um ser tão potente, tão fruto das qualidades da Young, que acabei me tornando ela. Me tratavam, até hoje me tratam, de doida demais na rua; riem comigo e agradecem o prazer da convivência com aquela alma liberta. Minha persona pública se mesclou com a da Fernanda sem que eu tivesse que ter o peito, a ousadia e a coragem dela de encarar a cafonice do mundo, de denunciá-la e virá-la do avesso".
"Fernanda e Alexandre são dois punks que se travestiram de cordeiros, de noivos, de normais, para incitar a loucura geral da nação. E eu e Luiz Fernando Guimarães surfamos na pele deles, do Rui Alexandre e da Vani Fernanda, no melhor “ménage a quatre”, na melhor das orgias que um ator pode sonhar participar", diz a artista sobre Os Normais.
"Por isso, a morte dela é também a minha, a de nós todos. Tão nova, e linda, e mãe, e mulher pra cacet*. Como é possível? Passado o estupor da notícia, me veio a tristeza imensa, imensurável, de quem perdeu uma parte de si mesmo. Só posso explicar assim", desabafa.
"Fernanda limpando as gavetas, num programa que fez para a TV fechada; Os Aspones, Minha Nada Mole Vida e Macho Man; O Pau e a Vergonha dos Pés; e a coelhinha da Playboy, e as entrevistas, e as crônicas; e a foto da semana passada, dela nua, tatuada e sexy, beijando outra Fernanda. Ela fará mais que falta nesse melê retrógrado, nesse pesadelo moralista e tosco em que nos metemos".
"Quase não nos falávamos, mas há cerca de um mês, depois de assistir Shippados, lhe escrevi para dizer o quanto havia gostado do seriado. Hoje, nossa última troca de e-mails me serve de alento. É como se o destino tivesse me dado a chance de confessar o meu amor, minha gratidão e admiração por ela. Os Normais e os Shippados são parentes próximos. Mas o Enzo e a Rita de Eduardo Sterblitch e Tatá Werneck possuem uma dor, um romantismo melancólico que inexistia na euforia doida demais de Rui e Vani. A consciência do amor. Algo que a Fernanda e o Alexandre devem ter aprendido com o casamento e as crias, com o tempo e a vida".
"Em resposta ao elogio, Fernanda concluiu com uma frase que, hoje, me soa como profética: “ensinai-me a entender o mistério do sofrimento.” Foi a última linha que me escreveu. Desde que soube de sua partida, não tenho pedido outra coisa. O mundo que pariu Os Normais nos permitia ser crianças, alegres e loucos. Youngs. Não mais", finaliza ela.