Em entrevista no Roda Viva, Daniela Mercury opina sobre o etarismo: 'Eu não vejo falando que os homens estão velhinhos'
A cantora Daniela Mercury participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido nesta segunda-feira, 20, e falou sobre o que pensa do etarismo – conceito que define a discriminação pela idade. Aos 57 anos de vida, ela alfineta este tipo de preconceito. “Antes de qualquer coisa, essa questão do etarismo tem muito a ver com o machismo”, disse ela.
“Eu não vejo falando que os homens estão velhinhos. Os homens ficam mais charmosos e a gente desimportante”, contou. Logo depois, ela refletiu sobre o impacto do envelhecimento em sua carreira musical, já que chegou a se questionar até quando iria cantar e dançar no palco.
“Eu achei que com 30 e poucos anos eu não ia conseguir fazer muita coisa no mundo pop e fui estranhando. Não sabia como o mundo ai reagir ao meu trabalho, ao meu envelhecimento. Não tinha a expectativa de ter uma carreira longeva e nem de estar em cima do trio dançando. Eu fiz 50 anos e disse: 'agora não vai dar mais'. Eu fiz 51, 52, 57 e estou aqui! A gente vai entendendo a idade. O preconceito é horrível”, desabafou.
Apesar de ter a sua carreira de sucesso e ser reconhecida por seu talento em diversas áreas, Mercury revela que viu o impacto da idade em seu trabalho. “Eu acho que há sim uma diminuição de espaço, não vou fingir que não acontece. Eu não reclamo porque não sou uma pessoa de reclamar. Você vai escolhendo quais as lutas que você encara. Como eu sempre fui de MPB, eu transito em vários espaços. A dança realmente é parte, eu preciso dançar. Eu fui testando”, contou.
Ao ser questiona se não se cansa da vida agitada e de dançar e cantar, ela negou. “Não sei como resolver o problema do cansaço. Desde menina falam: 'você tem energia!'. É da minha genética, da minha família, do meu jeito de ser, da minha sede de vida. Eu me realimento inventando coisas novas. Eu fiz ópera no carnaval, orquestra com músicos, fiz baile em cima do trio, peças de teatro, musical, botei pintura, grafismo, fiz homenagem ao cinema brasileiro, fiz o trio acústico para o centenário do Dorival Caymmi, fiz o trio eletrônico. Eu gosto mesmo é de fazer confusão, ir contra a maré. Eu não canso porque tenho uma missão, quero mudar o mundo”, afirmou.
Ainda no Roda Viva, Daniela Mercury falou sobre diversos temas relacionados a sua carreira e vida. Ela falou sobre o seu lado ativista político, a construção de sua carreira e o impacto de seu sucesso, igualdade de gênero, a luta contra o racismo, a defesa da revolução cultural e muito mais.
O Roda Viva com Daniela Mercury foi apresentado por Vera Magalhães e teve a bancada composta por Ademir Correa, diretor de conteúdo da Rolling Stone Brasil, Daniela Falcão, jornalista e fundadora da Nordestesse, a jornalista e socióloga Lia Rizzo, Lucas Brêda, repórter de música da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e o crítico musical Sérgio Martins.