Casal na vida real, Paula Cohen e Jiddu Pinheiro vivem casal em sepraração em Finlândia, peça que caminha para sua segunda temporada em São Paulo e viajará para o Rio de Janeiro
Eles se chamam pelo nome a peça toda. Pra quem conhece e sabe que Paula Cohen (50) e Jiddu Pinheiro (48) são marido e mulher na vida real dá até agonia! É que Finlândia, espetáculo adaptado da obra do francês Pascal Rambert (62), que está em cartaz no Teatro Vivo desde o final de janeiro, mostra a história de um casal em ruínas e retrata a separação de um jeito nada cômico ou estereotipado.
A dupla de atores encerra a peça, dirigida por Pedro Granato no local nesta semana, fazendo suas duas últimas apresentações nesta quarta, 19, e nesta quinta, 20, após quase dois meses de sessões. Em seguida, os dois irão para uma temporada no Teatro UOL, no Shopping Pátio Higienópolis, entre os dias 16 de abril a 29 de maio. Em entrevista à CARAS Brasil, o casal assume que o fato de viver personagens sem nome, ou melhor, com os próprios nomes os deixa sim constrangido, mas analisa a importância da estratégia.
“Quando começou eu achei que eles se chamavam Irene e Israel, mas aí comecei a ver entrevistas e ver que em cada país que a peça foi feita tinha o nome dos atores e pensamos: que metalinguagem perigosa porque somos casados”, avalia Paula, que com os ensaios deixou de estranhar. Apesar da estranheza, Jiddu confessa que a situação acabou ajudando a trazer para a intimidade. “É uma forma de provocar, causar dúvida também, trazer um voyeurismo”, arrisca.
Foi estudando cinema russo na casa do Caco Ciocler (53) que Paula Cohen e Jiddu Pinheiro se conheceram. Primeiro, os dois se tornaram amigos até que as páginas de estudo sobre nomes como Lara Antipova e Yuri Zhivago do filme Doutor Jivago (1965) despertaram uma paixão e os dois estão juntos há três anos.
“Uma hora o sininho bateu, a gente se encontrou no lugar da paixão”, conta Paula. E assim, os dois atores, que há 15 anos já haviam revezado o palco juntos apesar de nem contracenarem devido à imensidão do elenco, já estão juntos há três anos e há quatro, antes disso, haviam decidido montar uma peça juntos.
A dificuldade e o compromisso de buscar algo que fizesse sentido com assuntos que causassem identificação levou os dois a um passeio pelo mundo afora. Da Rússia, eles partiram para a Grécia e buscaram textos gregos para montar. Não foi dessa vez!
Por meio de uma amiga espanhola chamada Bárbara, com quem contracenou na Argentina, Paula descobriu Finlândia de Pascal Rambert, que havia acabado de estrear em Madri. E ficou inquieta com a temática. “Nós mulheres mudamos, começamos a dar nomes em assuntos de relação tóxica, guarda de filhos. Eu e o Jiddu não temos filhos, mas vejo muito no âmbito dos meus amigos a confusão que é nesses tempos você dar conta de um relacionamento afetivo com filho no meio, toda essa complexidade humana em uma sociedade com a internet no meio”, reflete.
Com a direção de Pedro Granato definida e os direitos autorais adquiridos por aqui, a peça teve que esperar por Elas Por Elas (2023), novela das seis da Globo em que Paula deu vida à vilã Miriam.
Enquanto isso, Jiddu e ela traduziram o material separadamente. “De alguma maneira cada um estava entrando na sua Finlândia”, explica a atriz. Para o ator, o processo de tradução também o ajudou na compreensão do personagem principalmente na hora de casar cada tradução. “Às vezes você tem que ser mais fiel ao autor, às vezes você tem que trair, mas ficamos muito orgulhoso porque conseguimos trazer para a nossa coloquialidade”.
Apesar da linguagem próxima ao nosso cotidiano, a Finlândia de Paula de Jiddu preservam a complexidade psicológica da obra de Pascal. “Ele disse que não levanta bandeiras, não tem um lado certo, somos seres humanos e as complexidades que ele traz. Isso acho belo no texto”, ressalta a atriz.
Para o ator, o texto levanta mais perguntas do que traz respostas. “Ele vai construindo uma dramaturgia que vai te envolvendo nas questões que vai colocando. Então de alguma forma você fica ali dividido e aí vem a filha pra dizer que está tudo errado e questionar esses adultos”, percebe.
Em meio à discussão do casal em cena, Paula surge com um pedaço de espelho. O item, comum em quartos – cenário da peça – não serve apenas como um objeto de reflexo ou metáfora de Narciso nesta peça. Para a atriz, o espelho de Finlândia surge como uma “arma”.
“Pela primeira vez eu olhei e me vi partida. Foi muito forte”, afirma. Segundo Jiddu, a proposta do autor é que a própria peça seja um espelho e que com isso, o público possa se ver e atingir vários gatilhos. “Tem humor, mas é um riso de nervoso, de identificação, um drama que tem todas as matizes, mas vai numa violência brutal”.
Após a temporada em São Paulo, a peça vai viajar pelo Rio de Janeiro e deverá percorrer outros locais. Além de Finlândia, a atriz Paula desenvolve um projeto no Uruguai – seu país de origem – com uma dramaturga sobre uma figura histórica de uma mulher feminista.
Leia mais em:Paula Cohen, de Elas por Elas, abre o jogo sobre casamento e primeiro trabalho ao lado do marido
Ver essa foto no Instagram