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Revista / ENTREVISTA

Vera em Garota do Momento, Tatiana Tibúrcio ressignifica padrões: 'Passos de formiguinha'

Em entrevista à Revista CARAS, Tatiana Tibúrcio ressignifica padrões ao revelar mais detalhes de importância de papel em Garota do Momento

Revista CARAS Publicado em 10/01/2025, às 11h00

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Tatiana Tibúrcio revela mais detalhes de importância de seu papel em Garota do Momento - Fotos: Selmy Yassuda
Tatiana Tibúrcio revela mais detalhes de importância de seu papel em Garota do Momento - Fotos: Selmy Yassuda

Momento de transformação. É essa a sensação de Tatiana Tibúrcio (47) neste início de ano. Intérprete de Vera, na global das 6, Garota do Momento, desde o ano passado, a atriz sente que esse papel consegue ser um canal de mudanças no imaginário do brasileiro. Trabalhando para uma família abastada, a personagem não vive em função dos patrões, está sempre arrumada, tem sonhos e objetivos próprios. E Tati se sente parte da mudança de como os negros são retratados na mídia.

"Aprendo com o passado a não repetir as ideias imaginadas para mim como mulher preta e consagrar comportamentos que, por anos, foram invisibilizados para os meus e as minhas", afirma, em papo exclusivo com CARAS, direto do Jo&Joe Rio.

Qual a importância de uma personagem como a Vera?

"Esse tipo de construção é fundamental na busca da ressignificação do imaginário das pessoas negras na dramaturgia. Sempre vimos figuras como ela num lugar de subserviência, de anulação da própria existência em prol do outro. Quando você tem a Vera numa construção de individualidade, você dá a ela humanidade. O que nos torna humanos são nossos desejos, sonhos, vontades, ambições, referências e descendências."

Em uma cena, a Vera fala como precisou abdicar de sua vida pela autonomia da patroa. Por que esse debate importa?

"Essa cena foi um presente, poder falar por meio da Vera o que muitas outras tinham o desejo de dizer e não tiveram oportunidade. É como se estivéssemos rompendo as correntes dentro da dramaturgia ao longo dos anos. É de uma potência gigantesca. A possibilidade de trocar com a autora, Alessandra Poggi, não é privilégio, é necessidade. Se essa mão não for negra, ela precisa ter a escuta. Quem não vive na pele, não entende. Essa pele que carrega discurso e letramento. Não basta ser negro, é preciso ter consciência. Que bom que temos uma autora aberta para ouvir, reescrever e reestruturar a obra."

A novela apresenta uma década de 1950 com muitos personagens à frente daquele tempo. Como isso serve de exemplo para o público atual? 

"É importante retratar esse Brasil porque a dramaturgia é um espelho da sociedade em que vivemos. Nos acostumamos a ver essa sociedade a partir de uma ótica padrão e dominante. É a chance de contar a história mostrando outras faces. Esses personagens sempre existiram na vida real. Eles faziam suas pequenas revoluções, batiam de frente com uma estrutura estabelecida. Se eles não estivessem lá, não estaríamos aqui hoje refletindo. Poder refletir tantas outras faces que carregam diversas identidades é algo maravilhoso."

Você já disse que se enxerga na sua mãe quando veste as roupas da Vera. Como foi essa troca com a sua família e outras pessoas que viveram de fato aqueles tempos no Brasil?

"Falo isso com muito orgulho. Minha mãe e as minhas tias trabalharam em casa de família por muitos anos e nunca corresponderam a essa visão subserviente. Apesar de carregarem o nome de domésticas, nunca foram domesticadas. Elas tinham uma postura autêntica que, naquele momento, não era o normal. Elas nunca abaixaram a cabeça para os seus patrões, o que não significa que faltavam com o respeito com seu lugar de trabalho. Quando elas assistem à novela, olham para mim e dizem ‘eu me vejo’, é um regojizo. Eu não estou de uniforme, estou maquiada, muito bem penteada, muito bem vestida, muito bem casada, independente, estruturada. Me dá a sensação de que todo o esforço delas e o meu está valendo a pena."

O que espera que os espectadores consigam aprender?

"Espero que as pessoas façam o exercício de tirar o véu de seu olhar e observar a nós, sujeitos negros, indígenas, nordestinos, todos aqueles fora do padrão e de privilégio, em obras como essas, sendo retratados em lugares fora do imaginário estabelecido para elas. Que não achem estranho a Vera não estar com vassoura na mão, servindo a mesa, com um avental na frente do corpo. Que ela seja vista com naturalidade."

Muito se discute sobre as oportunidades dadas aos artistas negros nas novelas e na mídia de forma geral. Como você percebe essa transformação? Quais foram os desafios para chegar até aqui?

"Desde os 28 anos, faço a mãe preta, desse imaginário da Tia Nastácia. Antes de ter idade para ocupar essa caixinha, já a ocupava. Não havia espaço e oportunidade para fazer diferente. Uma das primeiras vezes que eu fiz uma personagem fora desse padrão foi em um filme da Netflix, União Instável, em que represento a dona de uma rede de resorts, rica, poderosa, usando sapatos caros. Aquilo foi muito importante. A mudança realmente está acontecendo, mas é importante que a gente entenda que isso não significa que as coisas já estão resolvidas. Estamos dando passos de formiguinha para viver em uma sociedade mais justa e igualitária na sua representação. Essa luta não é de agora, já conseguiu avançar infinitamente, mas em relação a tudo que ainda precisa ser conquistado, temos muito chão para trilhar. É importante que a gente não se iluda com as vitórias alcançadas. Isso faz com que a gente valorize esse caminhar. É fazer valer a luta dos que vieram antes."

Tatiana Tibúrcio revela mais detalhes de importância de seu papel em Garota do Momento. Fotos: Selmy Yassuda
Tatiana Tibúrcio revela mais detalhes de importância de seu papel em Garota do Momento. Fotos: Selmy Yassuda
Tatiana Tibúrcio revela mais detalhes de importância de seu papel em Garota do Momento. Fotos: Selmy Yassuda

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