Sem deixar de lado as origens, o ator Thales Cesar celebra papel em clássico da Broadway
Pelas ruas do Jardim Ângela, bairro da periferia de São Paulo, Thales Cesar (23) virou notícia. Por onde passa é ovacionado por moradores de todas as idades. “É algo maluco”, define o jovem, que dá vida a Simba no musical O Rei Leão, um dos espetáculos mais aclamados da Broadway, atualmente em cartaz no Teatro Renault, na capital da cidade. Nascido e criado no humilde bairro paulistano, ele chega a se emocionar quando reflete sobre o que já conquistou profissionalmente. “Quando lembro das dificuldades que enfrentei com minha família, fica até difícil acreditar que tenho a chance de fazer parte disso tudo”, entrega ele, referindo-se à grandiosidade da produção.
Antes de interpretar o famoso leão da Disney, porém, Thales já havia estreado no teatro protagonizando o musical cristão Rua Azusa, em 2019. Embora nunca tenha buscado a arte, ao que tudo indica, ela realmente o escolheu: seu caminho para os palcos começou a ser trilhado na igreja evangélica onde, aos 12 anos, cantava. “Eu nunca tinha atuado, só sabia cantar”, confessa. Na época, além de fazer aulas de canto na escola de Ton Carfi (41), Thales dividia sua rotina entre a escola e o trabalho como aprendiz, até que foi notado pela companhia de teatro Nissi, responsável por levá-lo ao seu primeiro musical. “Fui aprendendo com meus erros, direto no palco. A fé tem muita importância em
minha vida. Acredito que nada aconteceu por acaso”, afirma.
De volta ao Brasil após dez anos, — a primeira versão foi apresentada em São Paulo em 2013 — O Rei Leão não atraiu o artista de imediato. “No ano passado, quando abriram as inscrições para a audição, todo mundo falava que eu deveria tentar porque o espetáculo pagava bem... Me falavam tanto de dinheiro que desisti. Sempre fui pobre e sempre fui feliz. Queria continuar atuando, mas não a ponto de fazer algo só pelo dinheiro”, revela ele.
A sua decisão só mudou após receber o contato direto de Thiago Rodrigues, maestro do espetáculo da Broadway, que há quatro anos havia assistido a uma de suas apresentações do musical religioso. No início deste ano, com as audições quase encerradas, Thales recebeu o convite para o teste. “Por incrível que pareça, desta vez, eu senti muita paz. Diferentemente do ano passado, quando abriram as inscrições”, lembra. “Tive somente dois dias para me preparar para tudo. Deu certo. Me ligaram e avisaram que eu tinha passado, mas só descobri que realmente seria o Simba no primeiro dia de ensaio”, detalha. “Confesso que estava com medo de tanta responsabilidade”, dispara ele, aos risos.
À frente da adaptação e estudando para alçar voos cada vez mais altos, ele garante que não quer perder sua essência. “Toda vez que eu volto para o lugar onde cresci penso nisso. Seja quando estou com meus amigos sentado na calçada ou com minha família... lá não tem glamour nenhum e isso me
faz muito feliz. Nada paga o fato de não ter um coração voltado ao dinheiro”, avalia o artista, que busca, por meio de sua trajetória, inspirar outros moradores do bairro onde cresceu. “É maravilhoso saber o quanto tenho motivado crianças e jovens da minha comunidade. Ao mesmo tempo, é triste saber que quem mora perto de mim ainda não está no palco e, se não batalhar muito, dificilmente estará”, pondera Thales.
Seus maiores desafios, no entanto, não se resumem aos palcos. Enquanto colhe bons frutos profissionais, Thales também evolui ao driblar as mudanças trazidas pela maturidade. “Meu maior desafio sou eu mesmo. Tudo o que faço me transforma de algum jeito. Acredito que tenho melhorado muito. Espero continuar, por intermédio do teatro, pronto para fazer outras pessoas se sentirem bem”, idealiza ele, com sorriso no rosto.
FOTOS: CASSIANO SOUZA E CAIO GALLUCCI
