O ator José Loreto revela que, embora tenha sido cancelado e prejudicado por fofocas no passado, se reergueu: 'Fofocas não me resumem'
Para José Loreto (39), a global Vai na Fé relembra muito a sua vida porque, assim como seu personagem, Lui Lorenzo, o ator teve tropeços pelo caminho, mas soube dar a volta por cima. Na reta final de mais um sucesso na carreira — antes, ele havia brilhado no remake de Pantanal —, o artista conversa com CARAS e fala dos altos e baixos de sua trajetória e da criação da filha, Bella (5).
– Em 2019, você fez O Sétimo Guardião, novela que não repercutiu bem e teve polêmicas sobre suposta traição nos bastidores. Tudo indicava que sua carreira iria acabar ali, mas você voltou com tudo em Pantanal, emendando Vai na Fé. É uma virada?
– Minha vida, tudo à minha volta, desde a pandemia, o fracasso de uma novela e o sucesso, tem sido sempre muito intenso. Nem acho que é uma virada, é o ciclo natural, essa foi minha trajetória. Vou pezinho atrás de pezinho e acho que, correndo atrás, estando preparado, no momento certo as coisas vão acontecendo. E os meus tombos me serviram.
– Serviram como?
– Eles me amadureceram, me fizeram ocupar o lugar que estou hoje, de estar fazendo esse baita personagem, um sucesso de novela. Acho que nada é à toa na vida, os tombos, esse quase achar que eu ia sumir, já encarava naquele momento que se estavam me dando aquilo é porque eu aguentava carregar. Então, pensei: vamos ver qual é o próximo passo, o que tenho que fazer, estudar, estar preparado, vou criar, fazer arte, fui focando, amadurecendo. Também tenho muita sorte e é uma combinação de fatores para as coisas darem certo. Vejo como uma novela: não basta ter só um texto bom ou uma direção ou um elenco bom, tem que ter a união de todos esses fatores, trabalhar com alegria, porque isso transborda na tela. Não tem fórmula de sucesso.
– Mas você ficou com medo de isso atrapalhar sua carreira?
– Eu estava numa ascendência muito legal, tinha feito um baita filme do José Aldo, depois fui chamado para O Sétimo Guardião, como antagonista, então, estava ocupando um lugar que eu nunca tinha ocupado, estava fazendo peças e aí acontece tudo aquilo. Lógico que deu medo, foi tipo um zerei o game, voltei à estaca zero, mas vamos embora. Fiquei com medo de atrapalhar e atrapalhou, perdi muitos trabalhos e acho que a vida tem me mostrado que eu estou fazendo o meu caminho sem apagar por onde passei. Acabou me fortalecendo, para eu ser mais persistente, acreditar mais em mim, para saber que fofocas e coisas não me resumem. Não sou só isso. Sou pai, filho, homem, um cara amadurecendo, um cara desconstruído, sou um monte de coisa. Então, não era uma fofoca que iria acabar comigo, mas me prejudicou, foi dolorido.
– Aprendeu a lidar com toda essa exposição?
– Acho que aprendi, mas eu não domino, porque muita coisa machuca ainda. Entendi que, além de ator, sou um comunicador, as pessoas me conheceram melhor no Amor e Sexo, botei minha cara a tapa lá, mostrei minha desconstrução ao vivo, me coloquei como José. Quando estou em evidência em um trabalho, o holofote fica mais forte. Eu me acostumei, mas, ao mesmo tempo, vou a padaria de bermuda furada e esqueço que as pessoas me conhecem (risos).
– Você decidiu não falar mais da sua vida amorosa. Ela acaba ofuscando seu trabalho?
– Fica maior. Quando comecei minha carreira, não tinha pretensão de fazer televisão, fiz testes, participações, começaram os convites e caí em um lugar que não era a minha ambição. Não queria ser famoso, eu queria ser ator, eu gostava de teatro.
– Realizado com a boa fase?
– Estou feliz, porque passei por um cancelamento muito bravo, mas me reergui no lugar que mais amava. Eu estou pelo meu trabalho, não estou por causa de fofocas. Eu sempre quis deixar os personagens na frente, o meu trabalho é o melhor do que eu quero oferecer para as pessoas. Quero que os diretores que trabalham comigo me empreguem até meus 80 anos. Eu não quero ser a fofoca, quero ser ator.
– As fofocas atrapalham também na vida pessoal?
– Atrapalha um pouco o primeiro passo, mas, cá entre nós, já estou também numa maturidade que penso que, se a fofoca vai atrapalhar que eu esteja próximo de alguém ou que a pessoa me conheça, é porque eu também não tenho e não quero nem desperdiçar esse meu tempo. Muita gente fica com o pé atrás, mas o Zé isso, mas o Zé aquilo e, cara, de que Zé você está falando? O das notícias de fofoca? Essa não é minha biografia.
– No carnaval, você estava de maquiagem, passou a ousar nas roupas. Se vê em desconstrução?
– Eu nasci numa sociedade extremamente machista, ainda é, né? Então, bebi muito dessa fonte sem querer, na escola, no judô, no futebol, nessa segregação menino azul, menina rosa, sem um ambiente diverso e cheio de preconceitos. Tudo isso estava no meu campo de visão normalizado e o Amor e Sexo foi um lugar onde comecei a desconstruir essa masculinidade tóxica e acho que tenho um longo processo para tirar todas essas amarras de mim. O Lui, lógico, me ajuda e eu o ajudo, porque eu propus para o Lui esse cara meio Sidney Magal, meio enigmático, meio fluido, pintar os olhos. E aí, no carnaval, eu quis me maquiar também. Como artista é tão normal isso para mim, eu entendo que não seja para outras pessoas, mas para mim é tão sem maldade. Não é para ser um causo, mas virou um causo e, já que virou, falei ‘eles vão refletir’ e decidi sair todos os dias do carnaval com lápis nos olhos, porque acho bonito. Gosto de pintar as unhas, tenho uma filha que adora pintar minhas unhas. E desde quando eu vou dar esse exemplo para ela e falar: isso não pode? Não consigo nem falar uma coisa dessas! Estou em desconstrução eterna, em evolução, em aprendizado, cada vez com menos preconceito, menos machismo, menos tóxico, mas o universo, o ambiente, ainda puxa a gente.
– E tudo isso reflete na criação da sua filha, a Bella...
– Total. Em relação à minha filha, vejo com muita clareza como os pensamentos dela não tem essas amarras de isso é de menino, isso é de menina. Ela aprende em vários lugares, ama princesas, mas ela não é a menina cor-de-rosa. Ela curte azul, ela joga bola com o pai, ela vê essas diferenças sem nenhuma diferença. Ela está sendo criada em um ambiente saudável.
– Te falta alguma coisa?
– Falta um monte de coisa, estou só começando! Eu quero viajar com minha filha, quero ensinar e aprender com ela, quero viver muitos personagens, quero dirigir ainda, quero estar feliz. Meu melhor momento ainda não chegou.
FOTOS: VINÍCIUS MOCHIZUKI; EDIÇÃO DE MODA: ALÊ DUPRAT; PRODUÇÃO DE MODA: KADU NUNNES
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