No adeus a Ayrton Senna, o Brasil se encheu de lágrimas e milhares de pessoas se reuniram para despedida do piloto
Uma onda de tristeza invadiu o Brasil após o anúncio da morte de Ayrton Senna (1960-1994), no fatídico domingo, 1º de maio, e o sentimento de incredulidade diante da tragédia perdurou ao longo dos dias que se seguiram. O corpo do ídolo chegou a SP no dia 4 de maio após sair da Itália e fazer escala em Paris, na França. Coberto com a bandeira do Brasil, seguiu em cortejo no caminhão de bombeiros por 31km, do aeroporto de Guarulhos até a Assembleia Legislativa de SP, onde foi velado por 24 horas.
Ao longo do trajeto, uma multidão de pessoas parou sua rotina para dar adeus ao piloto. Por cada rua e avenida pela qual o cortejo passava, a comoção se materializava em lágrimas, flores, fotos e bandeiras. O som das sirenes dos batedores da polícia se misturava com aplausos e um inquieto coro feito por motociclistas: “olê, olê, olê, olê, Senna, Senna!”. Ao chegar na Assembleia, cadetes da Aeronáutica conduziram o caixão do piloto para o local do velório.
“Quando a gente perdeu o Ayrton foi como se todos nós, brasileiros, tivéssemos perdido uma pessoa da família. O sentimento de sudade não é só meu”, ressaltou a irmã do ídolo, Viviane Senna (66). “A dor ainda é muito forte, mas sei que, com o tempo, ela ficará mais suportável”, falou a mãe do piloto, dona Neyde (84), meses após a tragédia. Ao todo, estima-se que cerca de um milhão de pessoas tenha passado pelas grades da Assembleia Legislativa de SP para se despedir de Senna, entre elas, personalidades e autoridades.
“Foi a viagem mais difícil da minha vida, de Miami para o velório. A gente acha que os amigos não vão morrer nunca”, lamentou Emerson Fittipaldi (77). “Depois de comer, pouco antes da largada, fui aos boxes da Williams e conversamos por uns dois minutos antes de ele entrar no carro. Esta foi a última vez. Ele não teve culpa no acidente”, relembrou seu antigo rival nas pistas, o francês Alain Prost (69). “Quando sofri o acidente no treino em Ímola, pensei que tinha vivido o pior dia da temporada da F1, mas veio a morte do Ayrton. Fiquei arrasado, nem sei mais o que falar”, disse Rubens Barrichello (51). Os pilotos presentes, aliás, também foram responsáveis por carregar o caixão de Senna no cemitério, no Morumbi.
Além dos colegas das pistas, nomes como o presidente do País na época, Itamar Franco (1930-2011), Fabio Jr. (70), Francisco Cuoco (90), além da apresentadora Hebe Camargo (1929–2012), marcaram presença. “Sofro com toda a Nação a morte de um jovem corajoso e honrado, que demonstrou ao mundo a capacidade de uma gente”, exaltou Itamar. “Mandei fazer este terço especialmente para o Ayrton, com as cores do Brasil, da Bandeira que ele soube defender com tanta garra e talento. Rezei muito e vou continuar pedindo por ele, sentirei saudades deste moço valente”, comentou Hebe, que deixou um terço sobre o caixão do ídolo.
As presenças mais comentadas, no entanto, foram as de Adriane Galisteu (50), então namorada de Ayrton, e da ex, Xuxa Meneghel (61). Enquanto a eterna Rainha dos Baixinhos permaneceu ao lado da família, Adriane ficou isolada. Na época, a cena levantou polêmicas sobre o fato do clã Senna supostamente preferir a Rainha dos Baixinhos. “Vivi uma vida de viúva, sem ser viúva”, chegou a dizer Xuxa. “Não estava ali para disputar o papel de viúva. Eu estava ali porque a única coisa que realmente me interessava eu perdera. Não senti um milímetro de estranheza ao reencontrar ali uma ex-namorada de Ayrton Senna. Estranhei, isso sim, quando a minha chegada provocou nela o imediato ‘efeito gangorra’. Foi eu sentar, ela se levantou. Buscou lugar no outro lado”, confessou Galisteu em seu livro, Caminho das Borboletas.
Em um dos momentos mais comoventes do velório, Viviane pegou o capacete do irmão, que ficou o tempo todo em cima do caixão, e chorou copiosamente. A cena foi tão impactante que rendeu uma homanegem no filme Homem de Ferro 3, da Marvel. No longa, Pepper Potts, personagem de Gwyneth Paltrow (51), acredita que Tony Stark, papel do ator Robert Downey Jr. (59), está morto após o falso Mandarim atacar a luxuosa mansão do Homem de Ferro. Potts, então, organiza o funeral dele e, assim como fez Viviane, beija o capacete do herói. “Uma pequena homenagem, mas significativa, espero. Senna foi incrível. Dignamente um herói nacional”, falou o roteirista do longa, Drew Pearce (48), em 2013.
Em luto oficial de três dias, o País concedeu ao ídolo honras de Chefe de Estado. Quando o caixão deixou a Assembleia, recebeu salva de 21 tiros de canhão. De lá até o cemitério, Senna fez seu último e mais demorado trajeto: foram 17km em ritmo desalerado, sob chuva de aplausos. “Ele era iluminado, é uma saudade absurda”, desabafou dona Neyde, anos depois. Na despedida, apenas a família e os amigos. Senna foi enterrado no jazigo 11, quadra 15, setor 7, do Cemitério do Morumbi, com uma placa com os dizeres: “nada pode me separar do amor de Deus”.
Entre fãs que foram até à Assembleia ou que acenaram pelas ruas, cerca de dois milhões de pessoas se mobilizaram no adeus. “É difícil a gente lidar com a falta de uma pessoa tão próxima e tão querida. Ele foi nosso, mas também foi de todas as famílias brasileiras. As pessoas sempre me falam isso”, resumiu Viviane. Sem filhos, Senna não deixou herdeiros, mas deixou órfãos milhares de fãs pelo Brasil e o mundo. “Somos insignificantes. Por mais que você programe sua vida, a qualquer momento tudo pode mudar”, dizia Senna, deixando sua lição.
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