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Bissexual não é um gay enrustido. O desejo pode bater em duas portas

Marcos Ribeiro Publicado em 05/02/2014, às 18h39 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Falar de amor ultrapassa a compreensão da atração e do “mecanismo psicológico” que faz as pessoas se aproximarem e se enamorarem. A relação a dois também não é só biológica, mas sua forma pode ter suas raízes na história da humanidade — que mudou muito ao longo dos milênios, claro — e na cultura de um povo. Normas e crenças podem ser tão diferentes que é difícil para muitos compreendê-las. Amar não é só ter um coração batendo mais forte a cada encontro, mas somase a esse sentimento a influência cultural e social que pode fazê-lo fluir ou findar. É o que pode acontecer na relação bissexual, pelo preconceito que ainda a envolve.

Se hoje esse tipo de relacionamento é malvisto por muita gente, em outro momento histórico era considerado comum, até esperado. Na Grécia Antiga, as relações bissexuais faziam parte da orientação do povo. Em Roma, o comportamento não era diferente e vários imperadores ficaram conhecidos por seu comportamento bissexual. Júlio Cesar, por exemplo, era visto como “marido de todas as mulheres e esposa de todos os homens”.

O que mudou ao longo dos séculos? A forma de ver, porque é possível, inclusive, amar duas pessoas (uma do mesmo sexo e a segunda de outro), às vezes até com a mesma  intensidade. A questão principal é ver como cada um se sente diante desse comportamento. Como o parceiro lidaria com essa situação? Não é para mudar o próprio desejo, mas pensar bem a respeito se tem uma relação estável e seu amor não participa e desconhece essa história.

Para o amor não há regra nem escolha. O que é importante compreender é que as pessoas se apaixonam e, assim como o coração bate e o desejo pulsa por alguém do sexo oposto (heterossexual) ou do mesmo sexo (homossexual), há também a direção dessa história para ambos os sexos  (bissexuais), sem que seja, como diz o senso popular, “um gay enrustido”. E ainda a possibilidade de amar duas pessoas ao mesmo tempo.

É mais fácil entender se olharmos pelo prisma do psicanalista austríaco Sigmund Freud, o chamado Pai da Psicanálise, que há mais de um século percebia em suas pesquisas o ser humano naturalmente como bissexual, de forma manifesta ou latente.

É, portanto, o desenvolvimento da sexualidade e, como consequência, os laços afetivos estabelecidos — com as influências psicológicas e sociais — que vão definir esse comportamento como o central nas escolhas da pessoa ou transitório.

O que fazer, então?

1) Procurar ser verdadeiro consigo mesmo. Negar aquilo de que gosta é fechar uma porta para o prazer e a felicidade.

2) Sempre que possível, procurar identificar alguém que divida seus sentimentos e escolhas, porque será mais fácil para se relacionar.

3) Colocar-se no lugar do outro, porque nem sempre é tão fácil aceitar as escolhas alheias, independente de quais elas sejam. Quando as coisas estão claras para si mesmo, é mais fácil para dividir e propor que a outra parte “entre no jogo” se assim for de interesse de ambos. As escolhas amorosas, quando não é nada que vá contra a lei, depende apenas — ou principalmente — das duas pessoas envolvidas. Não cabe a ninguém julgar ou interferir, porque o amor só sobrevive na liberdade de escolha de cada um.