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Tem brasileiro na Haute Couture

Ele nasceu no Brasil, mas nem todos o conhecem por aqui. Em compensação, na Europa, onde mora há mais duas décadas, sua grife não é apenas conhecida. A marca que Gustavo Lins criou em 2003, e que leva seu próprio nome, é referência

<br><i>por Camila Carvas</i> Publicado em 12/01/2011, às 15h50 - Atualizado às 16h50

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Gustavo Lins - Reprodução
Gustavo Lins - Reprodução
Peças feitas de couro, papel e até de porcelana recheiam seu portfólio. "Em dois anos, se tudo der certo, me tornarei um membro permanente da alta-costura", diz Gustavo Lins. Este é o tempo que falta para ele receber a chancela do Chambre Syndicale de la Haute Couture, divisão do Ministério da Indústria da França que determina o que pode ser chamado de alta-costura. "Além de ganhar reconhecimento mundial, estarei no coração e no cérebro do business", diz o estilista. Aos poucos, os brasileiros vão se familiarizando com esse mineiro discreto e sua ousada maison. - De onde surgiu a sua relação com a moda? - Nasci em Belo Horizonte (MG). Venho de uma família com muitos filhos e onde havia a tradição de se fazer roupas sob medida. Esse contato com os tecidos, ir escolher as fazendas com minha mãe e meus irmãos e depois decidir os modelos com a costureira ou com o alfaiate me deu a real noção do que é uma roupa feita sobre um corpo. - E como se tornou estilista? - Aprendi a costurar sozinho, quando fui morar em Barcelona (Espanha), aos 25 anos. Ali, conheci um alfaiate que me deu noções de corte masculino e, ao mesmo tempo em que terminava meus estudos de doutorado em arquitetura, passei a me interessar pela moda e sua relação com a arquitetura, a roupa, o corpo e o espaço. Meus estudos sobre quimonos e estampas japonesas foram o começo. E como comecei a trabalhar com moda tarde, aos 29 anos, meu desenvolvimento em criação levou mais tempo. - Quando e como o senhor chegou em Paris? - Vim a Paris passar férias em setembro de 1989 e acabei ficando. Comecei a trabalhar como modelista para várias casas parisienses, como Louis Vuitton, Kenzo, Jean Paul Gaultier e John Galliano. O contato com a moda e o design se faz pouco a pouco. Fui conhecendo muitas pessoas até que criei um círculo profissional que me integrou à profissão. - O que significa fazer alta-costura? O que o trabalho manual agrega de valor a uma peça? - O trabalho de alta-costura dá à marca GustavoLins muita representatividade em termos de qualidade criativa e técnica. As peças que faço em porcelana, papel ou até mesmo a transformação de camisetas de times de futebol do Brasil em vestidos leves, só é possível se houver uma relação íntima com a produção artesanal, com perfeição e padrões bem definidos. - Por que desfilar na semana de haute couture? - Desfilar alta-costura dá uma maior visibilidade, porque o calendário é menos concorrido e mais leve do que o do prêt-à-porter. Ter esse "selo" garante à marca um nível de qualidade e a GustavoLins está quase se tornando um membro permanente da alta-costura. Como são necessários cinco anos de inscrições, e eu já desfilo há três, isso acontecerá em dois anos. - Como funciona o seu ateliê? - Tenho um ateliê de 140 m2 em Marais (Paris), ao lado do Museu Picasso. Somos sete pessoas criando e concretizando as coleções. Produzimos os protótipos ali mesmo, uma média de 160 por ano, e demoramos, em média, um dia e meio por peça. - Como é o seu processo criativo e o que busca com as criações? - A moda que tenho desenvolvido é funcional e mistura códigos dos quimonos e da alfaiataria europeia. Crio a partir do movimento e das lembranças. De uma ideia, começo a construir um plano de coleção com formas, cores e linhas. E como desenho muito, não há regras. O que me interessa é a relação entre a roupa e o corpo. As costas são muito importantes no que faço. E o interessante é que elas pertencem a quem nos vê e nós não temos o seu domínio. Quando encontramos alguém na rua e nos viramos, o que fica na memória do outro são as nossas costas e não a frente. Por isso, essa é a parte intuitiva da roupa. - O senhor é mais conhecido fora do Brasil do que aqui? Tem planos em relação ao seu país de origem? - Como moro na Europa há 23 anos e aprendi minha profissão aqui, em Paris e Barcelona, construí minha identidade profissional fora do Brasil. Mas sou cidadão brasileiro e tenho um projeto para desenvolver um trabalho de qualidade no Brasil, penso que seria bom compartilhar minha experiência na área criativa e industrial com o meu país. - Como o senhor vê a moda brasileira em relação ao resto do mundo? - A moda brasileira tem se destacado muito nos últimos três anos. A criatividade dos designers brasileiros e, sobretudo, a energia das coleções são reconhecidas no continente europeu.