Em entrevista à CARAS Brasil, o nadador Daniel Dias comentou sobre os desafios enfrentados por atletas paralímpicos e revelou apoio da família
Publicado em 06/09/2024, às 11h30
Uma semana após o começo das Paraolimpíadas de Paris, o Brasil se mantém entre os dez países com mais medalhas da competição e já soma 62 pódios. Daniel Dias (36), o maior medalhista brasileiro — 27 medalhas paralímpicas — se aposentou da disputa, mas acompanha o evento com animação. Em entrevista à CARAS Brasil, o atleta relembra o "paitrocínio" no início da carreira.
Daniel descobriu sobre o esporte paralímpico ao assistir às Paraolimpíadas de Atenas, em 2004, onde viu pela primeira vez o ídolo Clodoaldo Silva (45). O desejo de ser atleta sempre existiu, mas sem conhecer o paradesporto, praticar a natação parecia um objetivo distante.
"Descobri o esporte paralímpico quando pude assistir algumas coisas sobre a Paraolimpíada de Atenas, e até então eu nunca tinha visto sobre esporte paralímpico. Desde pequeno eu tinha um sonho de ser atleta, mas por não ter o conhecimento sobre o movimento paralímpico, não sabia que existia. Após Atenas, eu descobri o esporte paralímpico e comecei a fazer natação", conta.
Na época, o atleta que chamou a atenção do jovem Daniel foi Clodoaldo Silva: "Sempre deixei muito claro sobre a importância que Clodoaldo teve na minha carreira e na minha vida enquanto atleta. Sempre que posso falo que me inspirei no Clodoaldo. Fico extremamente feliz de ter tido essa inspiração e superado o Clodoaldo", conta Dias, que passou o ídolo no número de medalhas.
Antes de atingir marcas únicas e ser considerado o maior medalhista paraolímpico do Brasil, Daniel passou por um desafio comum a atletas de todos os tipos: a falta de patrocínio.
O nadador conta que, no início da carreira, a família o apoiou e ele teve um "paitrocínio". "Realmente é algo desafiador, e para um atleta paralímpico mais ainda. Falo que no início da carreira tive o paitrocínio, assim que consegui bancar algumas coisas para que eu pudesse começar a ter o resultado, o desempenho e aí sim os patrocínios acabaram acontecendo", relembra.
De acordo com Daniel, a divulgação do esporte é um meio para que novos atletas surjam e conquistem apoio de marcas para trilhar o caminho competitivo. Ele destaca que o movimento de transmissão das Olimpíadas na TV aberta e em canais do YouTube foi muito importante para os atletas terem reconhecimento e gostaria que o mesmo fosse feito com a Paraolimpíada.
"Vejo como de suma importância hoje ter um movimento para as pessoas poderem divulgar a competição paralímpica, para as pessoas poderem realmente falar sobre o esporte paralímpico e que mais pessoas venham acompanhar. E que, assim como tiveram na Olimpíada, os atletas também tenham o seu reconhecimento, porque a gente sabe que isso traz um retorno para o atleta em patrocínios", afirma.
Mesmo longe das piscinas em competições, Daniel mantém uma rotina agitada na aposentadoria. O atleta viaja o Brasil para dar palestras sobre sua história de vida e dedica parte do tempo ao Instituto Daniel Dias, centro fundado por ele para treinar crianças na natação paralímpica.
"É um projeto que leva o meu nome, então já dá para entender o tanto que acredito nisso, no que o esporte fez na minha vida, e hoje posso retribuir. A gente está com mais de 500 crianças praticando natação e temos polos em alguns lugares do país", compartilha.
O nadador afirma que não deseja apenas formar campeões no esporte, em busca de medalhas, mas pessoas que vencerão na vida. "É isso que a gente vem buscando, a gente vem mostrando, e eu sempre falo para essas crianças, que elas têm que acreditar no sonho delas, que nossos sonhos somos nós que construímos", diz.
Antes do começo dessas Paraolimpíadas, Daniel afirmou que a expectativa estava grande e, pelas conquistas brasileiras na competição, ele não se decepcionou. "O Brasil tem a maior delegação, isso é algo incrível, isso mostra o desenvolvimento que o movimento paralímpico brasileiro vem tendo, que o esporte paralímpico vem tendo, isso me alegra bastante", fala.
"Na natação, o nosso feminino e o masculino estão indo muito fortes. Tem a Carol, que vem puxando uma fila muito bacana no feminino, com a Mari Gesteira e Cecília. No masculino, o Gabrielzinho, o Gabriel Bandeira, Samuca. Tem Talisson e Felipe, atletas experientes. Todos são bons nomes e vão trazer bons resultados para a gente", lista o veterano. "Isso mostra o quanto a gente vem crescendo e se desenvolvendo", finaliza.