Mesmo repletas de versos preconceituosos, marchinhas de Carnaval continuam bombando entre brasileiros
O Carnavalé de longe uma das festas mais aguardadas entre os brasileiros, principalmente depois de dois anos de pandemia e muitas restrições. No entanto, com a chegada da festa é visto que hábitos antigos não mudaram, como por exemplo, a execução das clássicas marchinhas repletas de versos preconceituosos.
Em pesquisa realizada pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), foi apontado que as tradicionais marchinhas de Carnaval continuam a fazer sucesso pelo Brasil.
Entre as músicas mais tocadas durante a folia dos últimos anos estavam faixas como Maria sapatão, Índio quer apito, O teu cabelo não nega e Cabeleira do Zezé, canções que atingem diretamente a comunidade negra, LGBTQIA+, mulheres e povos originários.
A informação chega após nos últimos anos surgir um movimento por todo o Brasil a fim diminuir a propagação de algumas dessas marchinhas durante bloquinhos e festas de rua. O cientista social e cantor Carlos Barros avalia que, de fato, pode ser a hora de buscar por alternativas mais contemporâneas para essas músicas.
"Acho que há tempo de rever essas faixas clássicas, sim, substituí-las por outras que são importantes também. Não necessariamente cancelar, no sentido de não entender em que contexto foram feitos, mas evitá-las. Acho que é possível evitá-las e isso não tira a essência da festa, porque as composições de Carnaval continuam sendo feitas", disse em entrevista à CARAS.
Barros ainda analisa o motivo que leva essas canções com versos problemáticos continuarem fazendo sucesso, mesmo em tempos onde bullying e situações discriminatórias não são mais aceitas em diversos espaços.
O especialista aponta que o Brasil é um país que continua repleto de preconceitos e estas canções acabam ocupando um lugar que legitimam atitudes historicamente intolerantes. "É residual achar que é comum, que é possível e que é que é algo aceitável, que esse tipo de manifestação seja aceita com legítima", argumentou.
Apesar de alguns artistas estarem revendo canções antigas para se adaptar aos tempos atuais, o cientista social avalia que isso não deve servir para algumas marchinhas, que têm versos problemáticos do início ao fim. "Talvez a solução seja realmente escolher outras marchas mais contemporâneas ou outras contemporâneas a essas, que não tem esse teor tão preconceituoso", disse.
"De todo modo, eu acho que o Carnaval é um bom espaço para a gente perceber qual a temperatura da dos preconceitos, qual a temperatura da aceitação e não aceitação da sociedade para algumas modificações nas suas sociabilidades que acho que são importantes", finalizou.