Em casa, ela conta como perdeu 52kg e assumiu a grife após morte do pai
Há seis anos, Sharon Azulay (23), dona da grife Blue Man, sonhou com a morte do pai. De manhã, contou o pesadelo ao estilista David Azulay. Brincando, ele disse que era sinal de sorte e vida longa. No dia seguinte, David, aos 56 anos, teve um infarto fulminante. Na mesma época, Sharon, que chegou a pesar 112kg, resignava-se em ouvir tantas vezes: “Você tem o rosto tão bonito, pena que é gordinha”. Dar a volta por cima não foi fácil. Assim como perder 52kg e tocar os negócios tão precocemente. Mas a menina criada pelo pai desde os 2 anos de idade porque a mãe era dependente química superou tudo e hoje olha para trás orgulhosa de sua trajetória, apesar de tudo. “Até poderia ser triste, porque me senti quase injustiçada. Mas se minha vida fosse diferente, não seria quem sou, uma mulher realizada”, conta ela, que dirige a tradicional grife de moda praia com cerca de 300 funcionários e 20 lojas próprias.
Hoje, na mesma casa na Barra, Rio, onde viveu com o pai, Sharon faz planos para o casamento em setembro com Michel Tauil (24). “Sou dona da minha casa, da minha vida e da minha história”, celebra ela.
Você se sente mais madura do que as meninas de sua idade?
É inevitável. A vida não foi fácil, então me tornei diferente. Meus valores e prioridades são outros. Se fosse solteira, dificilmente choraria por levar um fora. Choro por outras coisas.
O que acredita ter perdido?
Me tornei muito responsável. Acho que perdi aquele tempo de errar sem culpa, de fazer besteira, de ser inconsequente mesmo.
E o que ganhou?
Mais do que bens ou reconhecimento, um espaço que achei que não fosse capaz de ocupar. Tocar a empresa, a direção criativa, descobrir que sou boa em coisas que jamais havia imaginado ser.
Como foi viver sem seu pai?
Aqui em casa, durante um ano, ficou tudo como ele deixou, o cigarro, o controle remoto, a cama. Ficava só no meu quarto. Não sentia vontade de estar em outro lugar da casa. Então, após esse ano, decidi reformar tudo. Já que tinha 17 anos e precisava morar sozinha, que fosse na minha casa. Hoje, nem garfo e faca são os mesmos. Fiz o que queria: mesa de pinguepongue e tapete rosa na sala, dois closets. Voltou a ser meu lar.
Algo na casa remete a ele?
Não tem mais nada. O que mais lembra ele sou eu. Me olho no espelho e vejo ele. Meu jeito é igual. E tenho a assinatura dele tatuada na minha costela. Foi um cara que fez história, tem responsabilidade e um peso imenso ser sua filha. Há quase uma cobrança para que seja tão boa ou melhor. Mas tenho muito orgulho.
O que na empresa continua a cara dele e o que mudou?
O legado mais forte é a irreverência. Ele era mais ousado. Mas a marca vem ganhando meu olhar. Não tento pensar como ele, nem fazer como faria. No início, até busquei isso, mas mudei. Meu pai me ensinou. Então, o DNA está aí, tenho de confiar em mim. E hoje tudo que é estamparia, além da linha fitness, têm meu dedo.
Como vê o mundo da moda?
Dou graças a Deus porque biquíni é a única coisa que brasileiro leva na mala quando viaja.
A praia é trabalho?
Vou à praia porque gosto e também para observar. Mas sou o próprio laboratório: uma dessas garotas que passam a amarrar o biquíni de um jeito e isso vira tendência. Detalhes mínimos fazem diferença. Biquíni não tem ombreira, manga, colarinho, nada. Então, dentro de um triângulo, você tem que fazer um quadrado.
Como foi sua adolescência?
Meu pai ficava louco. Ele vendia vaidade, beleza, biquíni e tinha a filha gordinha. As pessoas falavam. Mas não acho que queriam fazer bullying, me diminuir. Tenho zero trauma. Zero. Era mesmo uma criança gordinha com rosto bonito. Achava que não me importava, não me incomodava, até ficar melhor. Aí vi que incomodava, não era normal, estava feia. Era bonita, podia conquistar o gatinho da academia, merecia ser olhada.
Quantos quilos perdeu?
Estava com 112 quando comecei e hoje tenho 70. Mas nunca estarei no peso ideal. Nunca estarei satisfeita. É a sina da mulher. Se não tiver 2kg para perder, qual a graça? Por que acordar e ir à academia se está tudo ok?
O que fez para emagrecer?
Bastante exercício, mas não cuidava muito da alimentação. Aí, fiz uma reeducação e vi que o total é boca, você é o que come.
Como é sua alimentação?
Como de tudo. Saio, bebo, tenho uma vida completamente normal. Me permito enfiar o pé na jaca eventualmente, mais do que deveria até, mas também tenho compromisso de acordar cedo todo dia para malhar. Sei compensar.
O que mais foi fundamental para perder e manter o peso?
Foco, determinação. Demorei 3 anos para perder 52kg. Meu pai sempre falava, para cada quilo que perde, um mês para manter. Queria então que meu corpo entendesse que eu era outra pessoa. Foi assim até chegar aonde estou. Não queria fazer nada radical porque engordaria na mesma velocidade.
E tem hoje certeza que nunca mais vai voltar ao peso antigo?
Tenho total segurança. Se, por exemplo, volto de uma viagem em que engordei, não há croquete que me faça sair da dieta.