Ao alertar para o risco de a poliomielite, conhecida também como paralisia infantil, voltar a proliferar-se internacionalmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende barrar a doença e evitar que retorne a países nos quais foi considerada erradicada, como o Brasil. Os principais focos hoje estão no Paquistão, Afeganistão e Nigéria, mas ultimamente o vírus se manifestou também em Camarões, Síria, Iraque, Guiné Equatorial, Etiópia, Israel e Somália.
A doença se chama poliomielite porque pode infectar as massas cinzentas da medula espinhal. É causada pelo poliovírus, que infecta crianças, sendo rara em adultos. A poliomielite foi uma das doenças infantis mais temidas na primeira metade do século passado. Com a descoberta da vacina Salk e, posteriormente, da Sabin, e uma intensa campanha de vacinação mundial, conseguiu-se que os casos fossem reduzidos em até 99% nos últimos 25 anos. Mas conflitos e falta de investimento na saúde em regiões pobres do planeta ainda dificultam a chegada da vacina a todas as crianças. Essas situações, somadas à facilidade de se viajar, trouxeram de novo o risco de propagação da doença. A OMS recomenda que os países afetados ampliem as campanhas de vacinação e seus habitantes viajem com documentos provando que foram imunizados.
O Brasil não está entre os países com risco de reinfecção. Mas, para que a pólio não atinja nossas crianças, é fundamental que todas continuem sendo vacinadas nas campanhas anuais. Adultos que pretendem viajar para lugares onde a doença não foi erradicada e não têm certeza se estão imunizados também devem vacinar-se. Em laboratórios, é possível medir os anticorpos contra o vírus e checar se o organismo está protegido ou não.
Há dois tipos de vacina: a Salk, intramuscular e hoje utilizada em pessoas imunodeficientes, e a Sabin, popularmente chamada “vacina da gotinha”, por ser administrada por via oral. Essa última é ministrada anualmente em todos os bebês, como reforço, até fazerem 5 anos. A transmissão do vírus se dá pelo contato oral (beijo, fala ou tosse) e fecal-oral (manipulação de objetos e ingestão de água e alimentos contaminados por fezes). O vírus entra no organismo pela boca e se multiplica na garganta e intestinos. Quando atinge a corrente sanguínea e chega ao cérebro, destrói neurônios motores. Pode causar paralisia flácida dos músculos, levando à incapacidade de movimento de um dos membros ou total. Um quadro ainda mais grave é a paralisação dos músculos associada ao sistema respiratório, muitas vezes fatal.
Mais de 90% das pessoas que se contaminam com o vírus não manifestam a doença, porque seu sistema imunológico o elimina. Uma pequena parte a desenvolve, apresentando sintomas semelhantes aos do resfriado, como mal estar, febre e dor de cabeça e na nuca. Ou, ainda, dor abdominal, náusea, vômito e, menos comum, diarreia. Em 3% dos contaminados, o vírus atinge o sistema nervoso e leva à paralisia. Apesar de a pólio ser irreversível, os músculos afetados não perdem a sensibilidade e alguns movimentos podem ser recuperados com fisioterapia. Não há tratamento para a doença, só dos sintomas. A única proteção contra a pólio é a vacina, que não deve ser negligenciada jamais.