Criar novos desafios é tão importante quanto cuidar da socialização na hora de educar crianças acima da média
O significado da palavra “prodígio” é tão abrangente quanto os supostos diagnósticos de genialidade feitos pelos pais corujas. Se no dicionário o termo inclui desde “sobrenatural”, passando por “notável e excepcional”, até “autista”, no dia a dia ele engloba pequenos realmente fantásticos, crianças espertas ou mimadas, superestimuladas ou superestimadas.
“Em todos os casos, trata-se de um desafio para pais e educadores”, diz a pedagoga Luciana Acorsi. Diante de uma nova geração, de realidade altamente tecnológica e um mundo muito competitivo, vários pais e familiares têm certeza que “esse menino é um prodígio”. Mas nem tudo o que advém de tal “diagnóstico” é saudável: paparicos, estimulação em excesso, aplausos demais.
Segundo Fernanda Teixeira, diretora pedagógica da Escola Capítulo I, a criança prodígio se caracteriza por, desde cedo, desenvolver um talento excepcionalmente notável em uma ou mais áreas científicas ou aquisições intelectuais ou artísticas. “Seus talentos são, normalmente, descobertos quando elas ainda são bastante jovens: por exemplo, uma criança que lê aos 2 anos, resolve problemas complexos de matemática aos 5 ou passa no vestibular aos 10”, explica.
Para Luciana, colocar ou não um talento em evidência é uma decisão complexa. Por um lado, para haver aprendizagem, é preciso fazer com que o indivíduo sinta-se desafiado, motivado. “Mas com a supervalorização de uma genialidade, ou com a falta de cuidado principalmente com as questões sociais e emocionais, essas crianças ficam frustradas ou em busca constante da aceitação”, explica. Ainda podem ser excluídas da turma por se colocarem em uma posição superior ou, simplesmente, darem as respostas antes que a maioria tenha a chance de tentar responder.
É comum ouvirmos que crianças pequenas possuem “janelas” abertas para o aprendizado. E isso é a mais pura verdade. “Podemos aproveitar isso para ensinar línguas ou esportes, pois elas assimilarão melhor e naturalmente”, diz Fernanda. “Porém, é importante que qualquer aprendizado respeite o ritmo de cada um e seja prazeroso”, completa. Afeto e socialização são fundamentais nesta fase. E pressão demais pode resultar em crianças estressadas, com déficit de atenção...
Outro possível erro é estimular o aprendizado de apenas uma habilidade, aquela mais evidente, e ignorar o indivíduo como um todo. E é quase inevitável que a criança busque, espontaneamente, as áreas que domine melhor e evite aquilo que não gosta ou não sabe. Por isso, Fernanda indica três passos a serem tomados em relação aos talentos de uma criança prodígio: estabelecer metas, parabenizar as vitórias e desenvolver um conjunto de capacidades.
Cabe ao adulto ter bom senso, oferecer de tudo um pouco, negociar o que der e exigir o que for necessário. Verdadeiros gênios são raros, mas toda criança é especial.
Por Camila Carvas