Em entrevista exclusiva, Roberto Shinyashiki relembra período detido na Índia por conta da pandemia e fala sobre as mudanças na rotina pós-coronavírus
O médico psiquiatra e terapeuta, autor de diversos livros e um dos palestrantes mais requisitados do Brasil, Roberto Shinyashiki retornou recentemente ao Brasil após ficar detido na Índia por conta da pandemia do novo coronavírus.
Em conversa exclusiva com a CARAS Digital, ele relembrou o episódio. O profissional estava em uma clínica fazendo um tratamento ayurvédico [terapia alternativa] quando foi decretado o toque de recolher. "Na Índia começou o isolamento social, mas eles foram para uma medida radical de isolamento mesmo. Então, foi ótimo esse período de introspecção, de mergulho, mas ao mesmo tempo eu queria voltar pro Brasil", disse ele.
Roberto acabou retornando em um voo humanitário da embaixada brasileira. "Foi muito bonito o trabalho da embaixada brasileira [...]. A embaixada teve o cuidado de mapear os brasileiros que estavam na Índia e fizeram um sistema de transporte".
Durante o bate-papo, ele recordou os dias difíceis longe da família e como usava a força da mente para tentar se distrair. "Enquanto eu estava na clínica, eu falo de uma competência de utilizar os dois cérebros simultaneamente. Eu estava em uma situação muito precária porque essa clinica tem 46 funcionários e, de um dia pro outro, esses 46 funcionários não podiam mais trabalhar [...]. Uma parte do meu cérebro procurava criar as melhores condições para eu ficar instalado nessa clínica, então no andar que eu estava, era o melhor andar, mas não tinha wi-fi. Eu consegui arrumar um novo apartamento que chamei de meu escritório onde consegui wi-fi e ficava trabalhando. Uma parte [do cérebro] procurou organizar minha vida, mas a outra queria dar um jeito de eu sair de lá. Uma parte do meu cérebro trabalhava pra ficar instalado e outro pra me tirar de la".
MUDANÇAS DO CORONAVÍRUS
Questionado sobre as mudanças que o Covid-19 irá trazer para a população, Roberto acredita que a crise é um "acerto de contas do que deveria ser feito e não foi feito".
"O sistema de saúde do planeta terra de uma maneira geral é sempre deficitário. Mesmo o Canadá e Inglaterra, que tem um sistema de saúde público, tem suas deficiências. Há anos os cientistas estão falando que vem uma pandemia, mas parece que as pessoas só acordam quando bate a água no pescoço. Essa pandemia está mostrando uma série de transformações que são necessárias."
Para as empresas enfrentarem essa pandemia, ele ainda recorda: "Quando eu trabalhava com mulheres com câncer de mama, quando o médico chegava para a mulher e falava que ela tinha um câncer, que iria precisar fazer um tratamento, é normal a pessoa entrar em estado de choque, mas essa paciente um dois dias depois tem que procurar o tratamento. Não pode ficar em estado de choque um, dois ou três meses porque isso pode significar a progressão da doença e a pessoa poder desenvolver metástase desse câncer".
"O que está acontecendo nesse momento, as regras dos jogos mudaram, tem que ser home office, perderam clientes, nossos eventos foram adiados. Então, aquele primeiro momento é choque, mas a pessoa, a empresa, o empresário não pode ficar em estado de choque mais de dois, três dias. O que eu estou vendo é que as pessoas estão em estado de choque por dois meses, três meses. Poxa, vai ser fatal", alerta.
Ele acredita que as pessoas estão olhando muito para os problemas, para as dificuldades, mas discutindo pouco a solução. "Hoje, nos nossos treinamentos, tenho trabalhado muito esses três pontos. Primeiro destravar o cérebro, segundo é parar de olhar para os problemas, para esse drama que o pessoal está construindo e olhar pro caminho, e o terceiro ponto é parar de procurar solução no passado."
Sobre as mudanças no jeito de trabalhar, ele garante que isso exigirá que os profissionais se especializem no que ele chama de "novas competências". "Cada vez mais as vendas vão ser online, treinamentos onlines. Isso exige novas competências. A primeira competência é a leitura, leitura do silêncio, de uma frase. Cada vez mais não vai ter tempo e oportunidade de ter aquela conversa. As pessoas precisam ler o que está acontecendo na sociedade, no grupo. Essa é uma competência importante",
"Os pontos chaves são: destravar o cérebro, fazer leitura rápida do que esta acontecendo e aprender a usar os dois cérebros", conclui.