"Essa entrevista vai ser publicada antes do Carnaval?", pergunta Andressa Urach ao receber a reportagem de CARAS Digital em seu apartamento, na Zona Sul de São Paulo. "Se for, você pode colocar: Carnaval nunca mais. Só se precisar ir a algum camarote para alguma reportagem, mas desfile, exposição do corpo, nunca mais", comenta a apresentadora e modelo, que nesta quinta-feira, 12, pediu demissão do programa Muito Show, da Rede TV!, para dedicar-se a novos projetos.
A declaração é bem ilustrativo da "nova fase" de Andressa, que após passar 25 dias na UTI de um hospital de Porto Alegre por complicações ligadas ao uso de hidrogel nas pernas, tornou-se evangélica e foi batizada na Igreja Universal do Reino de Deus.
A distância do Carnaval, no entanto, não é a única mudança que a apresentadora e modelo diz ter feito em sua vida. Conhecida pela intensa exposição das curvas e pelas polêmicas em que se envolveu nos últimos anos, Andressa garante ter dito não de vez também aos ensaios sensuais, às bebidas alcóolicas e ao cigarro. As noites de baladas, segundo ela, foram trocadas por tranquilos passeios no Zoológico ao lado filho, Arthur Urach, que deixou Porto Alegre, onde vivia com a avó, para morar com a mãe na capital paulista.
Durante o bate-papo com a CARAS Digital, em que contou como está vivenciando esta nova fase, Andressa pediu desculpas à Barbara Evans e Cristiano Ronaldo, disse que, desde que voltou do coma, não sentiu mais falta de se envolver intimamente com ninguém, garantiu não ter medo de perder a fama, contou que "perdeu o preconceito" com relação ao dízimo e creditou parte do seu problema de saúde à uma questão espiritual. "Quando eu neguei o pacto que tinha feito e decidi seguir a Cristo, começou a inflamação nas minhas pernas", afirmou.
Leia abaixo os melhores trechos da entrevista:
- Eu imagino que você deve estar cansada de relembrar em entrevistas os dias que passou na UTI...
Não, de maneira nenhuma. Não estou cansada, sabe por quê? Porque estou me sentindo lisonjeada de repetir e repetir. Estou tão feliz de estar viva, a experiência que eu passei foi tão forte que quero muito que isso ajude muitas pessoas. O meu excesso de vaidade quase me levou à morte, e minha experiência com Deus foi única. Então eu disse que se Ele me desse essa nova chance eu louvaria o nome Dele aos quatro cantos do mundo.
- Qual foi a maior lição que você tirou de todo esse sofrimento?
Nasci de novo. Eu digo e repito: aquela Andressa Urach que as pessoas conheciam morreu. Ela morreu dia 30 de novembro, quando internei no hospital e renasceu dia 3 de dezembro. Aprendi que o corpo é só uma casca, que o que importa é o ser humano. A vida inteira busquei preencher um vazio através de bens materiais, de cirurgia plástica. Tive muitos traumas de infância. Queria ter o corpo mais perfeito, as melhores roupas, os melhores carros, mas tudo isso é vazio. Passei a dar valor a caminhar, a um copo de água, a trocar um canal na TV. Eu sou muito mais feliz, me amo mais e me acho mais bonita que antes.
- As cirurgias plásticas estão definitivamente fora da sua vida, mesmo as que poderiam corrigir as cicatrizes causadas pela infecção nas pernas?
Não, nunca mais, não quero. Deixa assim como está. Todo guerreiro tem as suas cicatrizes. Elas vão ficar pequenas até, mas mesmo se tivesse ficado horrível, agradeço por ter pernas, por caminhar, tenho outros valores.
- Como foi exatamente seu processo de conversão?
Sempre fui uma pessoa que não acreditava muito em Deus. Minha mãe freqüenta a Universal há 30 anos e durante esses anos eu tentei preencher esse vazio dentro de mim em outras religiões.Tinha depressão, chorava. Procurei igrejas e até o candomblé, batuque, macumba. Acreditei nisso. Paguei valores altos pra ser famosa, para conseguir namorado, para ter sucesso. Só que senti que estava vendendo a minha alma. Respeito a religião de cada um, mas me senti fazendo um pacto. Conquistei tudo que eu queria e era extremamente infeliz. Tinha uma cobertura no Rio de Janeiro, carro importado na garagem, bolsas de R$ 15 mil, relógio de R$ 20 mil e me sentia sozinha, sofrendo, chorando.
- Você acha que tudo isso que você conquistou foi por causa desses pactos que você fez?
Olha... Ao mesmo tempo que eu ganhei, no momento em que eu me afastei disso, eu perdi. Essa religião é assim. Quando eu não quis mais, quando decidi que queria seguir a Cristo, vendi o apartamento, comprei um carro mais econômico e diminuí meu custo de vida para não precisar mais viver por interesse. Para não precisar ter um namorado que poderia me dar uma condição de vida melhor. Para não ter que aceitar uma proposta que recebi de uma revista masculina para me exibir em uma webcam por R$ 300 mil. Eu estava no limite. Se eu fizesse aquilo, cometeria suicídio. Não queria aquilo pra mim. Quando neguei o pacto que tinha feito e decidi seguir a Cristo, começou a inflamação nas minhas pernas.
- Você acredita que o seu afastamento desse tipo de pacto influenciou no seu problema de saúde?
Existem os dois lados. A medicina fala que foi o excesso do hidrogel. A religião fala que na verdade eu estou pagando pela rejeição da religião. Cada um acredita e fala o que quer. Quando eu entrei em coma, estive na presença de Deus. Eu não O vi, mas O senti, e precisei disso para crer. Minha vida passou pelos meus olhos e senti vergonha daquela Andressa que eu fui. Aí, eu clamei a Deus por perdão, pedi que Ele me deixasse voltar. Ele me deu uma segunda chance. Quando eu voltei, minha mãe estava lá orando, me ungindo, e espíritos da morte rondavam minha cama. Eles queriam levar minha alma, porque eu havia feito esses pactos com entidades. Então pedi pela minha mãe para que pastores da Universal fossem lá rezar por mim e nisso minha fé cresceu. A minha conversão veio a partir daí.
- Qual era sua relação com a Universal antes da conversão, quando só sua mãe fazia parte da Igreja?
Ah, eu sempre fui muito crítica com relação a Igreja, sempre fui contra o dízimo, sempre condenei muito minha mãe por dar dinheiro para a Igreja. Só que o vazio que eu senti aos 27 anos da minha vida só foram preenchidos ouvindo a Palavra, ouvindo a Bíblia. E eu entendi que quando eu fui para o batuque eu gastei quase um apartamento para pedir riqueza e nunca liguei. Só que está na Bíblia! Dez por cento tem que ir para a casa do Senhor, independente da Igreja que você freqüentar, é para o Evangelho, para que a palavra seja dada a outras pessoas que precisam. Eu entendi para que é o dízimo, e aí rompi essa barreira de preconceito. Desde que eu me batizei, muitas transformações já se realizaram na minha vida.
- Em que sentido?
Isso é uma coisa que sinto que preciso explicar.Não vou virar beata. Eu respeito quem é, mas eu não vou sair falando sobre a palavra de Deus para quem não quer ouvir. Eu perdi muitos amigos porque me converti, porque eles não querem ouvir. Mas eu estou em paz. Não foi balada, não foi bebida, não foi amigo que preencheu esse vazio, foi Jesus. Não vou sair com a Bíblia debaixo do braço pregando pela rua, mas quem quiser saber da minha história, vai saber de Deus, porque foi Ele que me salvou.
- Então não procedem esses rumores de que você vai virar pastora?
Olha, na Universal eu nem sei se tem pastora, eu nunca vi mulher pastora lá, só pastor homem, mas tem obreiras, que ajudam com a palavra. Nasci para ser comunicadora, eu amo a televisão. Não é porque Deus entrou na minha vida que eu vou largar a minha carreira. O que vão mudar são minhas atitudes.
- De que maneira?
Vai mudar que eu não vou posar mais nua, não vou mais fazer ensaio sensual, não vou usar roupas tão decotadas ou curtas como usava antes. A conversão significa temor a Deus. Sigo o que está na Bíblia. Se eu cheguei até onde cheguei sem Deus, com Ele do meu lado eu vou arrebentar. Eu não vou andar vestida da cabeça aos pés, tapada. Mas não vou andar vulgar. Tudo tem seu limite.
- Mas você gostaria de poder passar uma borracha na maneira como iniciou sua carreira?
Não, de maneira nenhuma. Todo mundo começou em algum lugar. Eu comecei pela minha imagem. Eu sou muito grata ao Miss Bumbum. Se não fosse o concurso, eu não seria conhecida internacionalmente. São fases da minha vida. Eu posei nua sim, me fez feliz naquele momento. Eu adorava expor a minha imagem, meu bumbum. Eu não conhecia a palavra de Deus. Hoje é tudo diferente.
- Você guarda muitos arrependimentos do seu passado?
Sim, eu cometi muitos pecados, eu me arrependo de como eu era antes. Se eu fosse homem, teria vergonha de andar com a Andressa que eu fui. Eu não estava nem aí, nunca respeitei minha nudez, deixei o ódio tomar conta de mim dentro de um reality show. Aquela coisa de cuspir em A Fazenda, que coisa terrível. Me envergonho, mas é meu passado, mas não tenho como apagar, e não vai ser com palavra, mas com atitudes no decorrer dos anos.
- Tem pessoas específicas que você se arrepende te ter magoado?
Quando eu acordei do coma, eu senti a necessidade do perdão e liguei para algumas pessoas que eu tinha discutido, que já não tinha mais amizade e pedir desculpas. Deixo minhas desculpas para a Bárbara Evans e para a Denise Rocha, com as quais eu discuti na Fazenda, até para o próprio Cristiano [Ronaldo] por ter exposto o que a gente viveu. Por mais que ele tenha me ameaçado, talvez eu tenha errado sim em expor. Se eu o prejudiquei, peço perdão por aquilo. É uma questão de libertação, perdoar a si e aos outros.
- Tem vontade de encontrar um amor nessa nova fase?
Eu olho o mundo com outros olhos. A experiência que eu estou vivendo é tão boa. Eu me sinto preenchida. Existem casamentos sólidos, verdadeiros, sem traição. Não é na balada que vou encontrar isso. Vai estar nas mãos de Deus. E tenho certeza de que Ele vai colocar. Eu quero constituir uma família, mas não tenho pressa. Não sinto falta de sexo. Desde que entrei em coma, não fiz mais sexo. Estou bem comigo mesma, renascendo. Não é mais uma necessidade como era antes. Se tiver que acontecer, vai ser com um pai para o meu filho, um homem sério, e não sexo por sexo. Não sinto necessidade de sexo, estou bem comigo mesma e com Deus.
- Além disso, fez outras mudanças em sua rotina?
Também não bebo mais, não fumo mais, não vou mais a baladas. Meu corpo é um templo, não quero atacar meu fígado com bebida, não quero morrer, não é a Igreja que me proíbe. Não quero um câncer de pulmão com cigarro, dou valor à vida. Prefiro ir a um zoológico com meu filho, apreciar um cinema, um teatro.
- Quase tudo que você fez até hoje teve como objetivo ser famosa. E agora, nessa nova fase, não tem medo de perder a fama que você obteve com as polêmicas e a exposição do seu corpo, de cair no anonimato?
Não. Uma coisa que eu descobri é que a fama é rápida de conquistar, e o sucesso leva anos. Eu amo televisão. Quero fazer jornalismo, quero fazer carreira. Lembra que eu dizia que queria ser a futura Hebe Camargo? A gente tem que sonhar alto. Não que eu vá ser ela, que é insubstituível, mas quero me inspirar nela. Não quero mais ser famosa, quero é ter sucesso.
- Você é uma pessoa sobre a qual a nem a mídia especializada em celebridades e nem seus leitores são indiferentes: há quem goste e quem não goste, mas todos têm uma opinião. Você lê o que dizem a seu respeito?
Eu procuro não ler mais nada do que dizem a meu respeito. Estou numa fase de purificação. Na minha religião, isso se chama o Jejum de Daniel. São 21 dias longe das informações do mundo. Só ouço coisas boas, nada de notícias ruins, só energias boas. Antes, já procurava não ler. Sempre respeitei a opinião das pessoas. Se nem Cristo agradou a todos, quem é Andressa Urach pra agradar?