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Teatro / ALESSANDRO MARSON

Ex-autor da Globo, Alessandro Marson resgata origens em dose dupla no teatro: 'Voltando pra casa'

Dois meses após o fim de seu contrato com a Globo, Alessandro Marson emplaca duas peças no teatro carioca e comemora repercussão

Arthur Pazin
por Arthur Pazin
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Publicado em 15/08/2024, às 17h07

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Autor Alessandro Marson - Foto: Divulgação
Autor Alessandro Marson - Foto: Divulgação

Alessandro Marson (54) encerrou seu contrato com a Globo em junho após 25 anos. Bastaram apenas dois meses para o ex-autor da principal emissora do país se ver envolto em uma realidade que resgata suas origens e volta há algumas décadas: estar mergulhado no teatro. Em cartaz com duas peças de suas autorias no Rio de Janeiro (RJ), o novelista comemora a fase: "É muito bom, é onde comecei. Me sinto voltando pra casa", afirma Marson em entrevista à CARAS Brasil.

Roteiro de séries, humorísticos e 11 novelas. De 2000 para cá, a realidade de Marson era emendar uma obra na outra. A situação, no entanto, impossibilitava o criador de tramas como Novo Mundo (2017) de se jogar no teatro, local onde ele começou, ainda como ator, nos anos 1990. Sem contrato fixo, o profissional, agora, tem a oportunidade de reviver uma realidade adorável. "A gente fica sem fazer e vai esquecendo", explica.

Apesar de ser um outro local, Marson enxerga na habilidade de captar o mundo o tempo todo algo comum entre o autor de novela e o dramaturgo teatral. "Essa coisa da antena", se refere o escritor, que levou aos palcos sua última peça entre 2016 e 2018: A Invenção do Amor, comédia protagonizada por Guilherme Piva (56) e Maria Clara Gueiros (59), assinada em parceria com Thereza Falcão.  

Atualmente, é possível assistir até o fim de agosto dois textos de Marson em cartaz na capital fluminense. Pandemônio, que tem direção de Breno Sanches (41) e está em cartaz no Teatro Poeira, em Botafogo, e Um Só, espetáculo com direção de Viétia Zangrandi (54) em cartaz no estúdio Film In, no mesmo bairro.

Com apenas semanas de apresentações, Marson já avalia como positiva sua experiência pós-global. "Assisti aos ensaios gerais antes das estreias e fiquei muito feliz. Depois, com o público foi surpreendente ver as reações e como aquilo mexe com as pessoas. A gente faz teatro pra isso", analisa o autor, que enaltece a possibilidade que o teatro tem de estar em contato com a plateia. "É uma cachaça, um vício", brinca.

ALERTA PARA O FUNDAMENTALISMO

Pandemônio traz no elenco Pedro Carvalho (39) e Jéssica Marques (24). A obra surgiu a partir de um texto criado por Marson em meados de 2013 ou 2014.  À época, o autor, que ainda era colaborador de autores como João Emanuel Carneiro (54), Thelma Guedes (62) e Duca Rachid (62), resolveu escrever sobre a distopia de um Brasil que viria a ser dominado pela extrema-direita sob a influência de líderes religiosos, que já se mostravam potentes. "Não era tão nítido como hoje, mas eu já começava a achar as coisas estranhas com os movimentos de então", conta.

Apesar da ideia que o consumia, Alessandro Marson não achou, à época, que o texto estivesse preparado para ir para os palcos. "Tinha cinco personagens, fizemos uma leitura, mas lembro que achei o texto panfletário, um ensaio, discurso", pontua. Engavetado, o texto voltou às mãos do autor durante a pandemia do coronavírus.

peça pandemônio

A pedido de um amigo, Marson trabalhou no texto e o reduziu para dois personagens, cedendo-o para uma leitura on-line entre dois atores: Otávio Martins (54) e Carolina Ferraz (56). Em seguida, veio o desejo de montar sua produção, vontade que ficou guardada para o momento atual, uma vez que entre a pandemia e os dias de hoje ele ficou á frente de duas novelas das seis: Nos Tempos do Imperador (2022) e o remake de Elas por Elas (2023).

O objetivo do autor com a peça é refletir sobre o cuidado com o avanço do fundamentalismo religioso. "A gente precisa estar o tempo todo vigilante. O avanço do fascismo e da extrema-direita está acontecendo no mundo todo e é um sintoma do tempo que vivemos, que cria um ambiente propício pra instalação desses regimes", reflete.

Para Marson, temos em mente que nossas religiões não são como as de locais distantes, que causaram estragos ao entrar para a política de diversas nações. No entanto, o autor defende que a mistura de religião, política e poder é perigosa em qualquer lugar. 

A ARTE PELA ARTE

Em Um Só, Alessandro Marson leva três atores em cena como atores. Ambientado em um verdadeiro estúdio de cinema, o elenco - formado por Eduardo Mello (27), Felipe Hintze (31) e Felipe Silcer (33) -  representa uma história criada pelo autor, que conta a saga de um trio de artistas em busca de testes para as telonas. "Não estávamos conseguindo encontrar um teatro, porque está tudo muito cheio, o teatro vive um momento muito legal. Então por que não ambientar no próprio cenário da peça?", conta.

Na peça, o autor tem como proposta falar do universo de fazer arte. "Trago muito do universo da arte, o que é ser artista e por que as pessoas querem ser artistas, qual a função disso", explica Marson, que tem como experiência para todo este processo seu trabalho de mais de duas décadas na TV.

Peça Um Só