Em entrevista à CARAS Brasil, Grace Gianoukas fala sobre espetáculo em homenagem a Dercy Gonçalves, que retornou a São Paulo, e relembra encontro com a estrela
Estrelado por Grace Gianoukas (61), o monólogo Nasci pra ser Dercy retornou a São Paulo para uma curta temporada. O espetáculo – que segue até o dia 2 de fevereiro, no Teatro UOL – presta uma homenagem a Dercy Gonçalves (1907-2008), uma das maiores estrelas do auge do teatro de revista na década de 1930 e da produção cinematográfica brasileira a partir de 1940. Em entrevista à CARAS Brasil, a interprete de Leda Mancini de Família É Tudo (2024), novela da TV Globo, dá detalhes da peça, reflete sobre a importância da artista que quebrou padrões em sua vida e relembra encontro com a estrela. "Nunca vou esquecer", diz.
Com voz off de Miguel Falabella (68), o monólogo escrito e dirigido por Kiko Rieser é enorme sucesso de público e crítica. Pelo papel, Grace conquistou os prêmios APCA e Shell (2024) de melhor atriz, além do prêmio I Love PRIO (2024) de melhor performance. O dramaturgo Kiko Rieser venceu o Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Dramaturgia Original (2023). O espetáculo ainda foi indicado ao Prêmio CENIM por melhor monólogo, e ao prêmio Miguel Arcanjo, por melhor direção, peça e atriz.
“É um trabalho muito especial que vem de encontro aos meus 42 anos de profissão. É um trabalho que eu não esperava, que eu não projetei, não é uma produção minha, nem uma pesquisa minha, fui convidada pelo autor e diretor, Kiko Rieser, é uma produção da Ventilador de Talentos, e eu fui convidada para fazer esse trabalho. Toda essa repercussão de prêmios e tudo mais, considero como uma benção, uma dádiva”, destaca Grace.
“Sou extremamente grata a todos que participam desse trabalho – ao Kiko, ao Marcel, da Ventilador de Talentos, a todos os artistas que ajudaram a construir esse espetáculo, o visagista, o Cabral, o pessoal que fez a trilha, o figurino (...) É uma equipe de artistas, sou só a ponta de um iceberg. Então, é muito especial mesmo porque eu jamais esperei essa repercussão tão grande desse trabalho. Sou muito grata”, continua.
Para a artista, Dercy é um exemplo de mulher a ser seguida: “Porque a Dercy não teve nada que conseguisse oprimir a inteligência, a criatividade, a força, a garra e a resiliência desta mulher. Ela é muito importante para todas nós, mulheres brasileiras. E como artista, ela é de uma criatividade absurda, de uma rapidez de raciocínio que é identificada em grandes artistas, grandes criadoras, não só contemporâneas brasileiras, mas também de fora do Brasil. Ela é um gênio”.
'GRANDE RESPONSABILIDADE'
Para Grace Gianoukas, interpretar Dercy é uma grande responsabilidade. “Fiz um trabalho de pesquisa muito grande. Assisti muitas coisas da Dercy, não só vídeos de programas de TV dela, mas também filmes e entrevistas. Então, fui pesquisando o gestual, pois precisava saber quem era a Dolores Gonçalves Costa, acima de tudo, que é o nome de nascença da Dercy, porque Dercy é uma persona criada para defender Dolores Gonçalves Costa no mundo”, reforça.
“Então, fiz uma pesquisa muito intensa, vendo as perguntas, as respostas dela, o olhar, quando são coisas delicadas, coisas mais íntimas, mais dolorosas, quando ela está bem sincera, profundamente sincera, sem máscaras, sem estar no histrionismo. Então, interpretar Dercy é uma grande responsabilidade e eu tenho feito isso com muito cuidado, sempre com muito cuidado, em respeito à memória e a figura da Dercy”, continua a atriz.
Quando está no palco interpretando Dercy Gonçalves, Grace pensa muito na artista para ser o mais fiel que puder. “Quando estou interpretando a Dercy, em todas as facetas que o espetáculo traz – tanto o momento do teatro de revista, quanto nos momentos mais íntimos da infância dela, da vida dela, nas entrevistas, nos depoimentos – penso nela e penso nas referências que eu tenho para ser o mais fiel que eu puder a todo o material que ela deixou, que foi captado dela. E acima de tudo, a coisa que eu mais penso é ser fiel, ser fiel; é uma responsabilidade, tenho que levar a memória dessa mulher com a dignidade que ela merece”, salienta.
RETORNO DO PÚBLICO
Ao final de cada apresentação, Grace faz questão de receber pessoalmente o carinho do público e ouvir a opinião de cada um deles. “Tiro fotos, estou sempre lá, e tenho ouvido coisas maravilhosas. Lembro de um senhor que veio me dizer: ‘Meu Deus, jamais poderia imaginar que a Dercy passou por tudo isso, mudou completamente a minha visão dela. Agora, sei o valor incrível dessa mulher, tudo que ela enfrentou. E realmente aquela imagem da velha louca que falava palavrão, da desbocada, deu lugar a outra coisa, a uma mulher de garra, de fibra’. Outras pessoas vêm me contar: ‘Meu Deus, sempre fui louca pela Dercy’. Mulheres vêm me dizer: ‘A Dercy foi referência para mim. Lembro muito da minha mãe, que adorava ela, não podia ficar falando isso aos quatro anos ventos, mas ela adorava’. Então, é muito legal”, fala.
“Claro, a Dercy teve milhões de fãs, um público enorme a vida inteira, um respeito, mas é muito bacana ouvir o quanto as pessoas podem falar da Dercy Gonçalves hoje em dia, sem medo de serem julgadas, mal julgadas por gostarem dela. Hoje as pessoas podem encher a boca para falar da grande mulher que foi Dercy Gonçalves. E eu acho que elas também se encorajam com isso a partir do momento que assistem ao espetáculo. Claro que o mundo mudou, mas o preconceito ainda existe, né?”, pontua Grace.
ENCONTRO COM DERCY GONÇALVES
No final dos anos 1980, a partir de uma sugestão da atriz Christiane Tricerri (63), Grace Gianoukas foi convidada pelo Jornal da Tarde para, ao lado de outras atrizes comediantes, assistir ao show de Dercy no teatro e conversaram com ela no final.
“O tempo que eu tive com a Dercy foi muito rápido, mas ela foi de uma simpatia muito grande, de uma sabedoria muito grande. E ela contou pra gente uma coisa que é muito importante para uma mulher de quase 90 anos, ela falou assim: ‘Meninas, não fiquem mostrando o corpo de vocês a torto e a direito, deixem para fazer isso quando vocês tiverem a minha idade, porque aí, uma mulher mostrar os seios aos 80 anos, aos 90 anos, isso é uma transgressão, é revolucionário. Agora, vocês ficarem mostrando o corpo da juventude, isso é só exploração sexual da imagem de vocês’. Então, só por isso eu já acho a Dercy brilhante, uma mulher brilhante, sábia. E ela sempre foi muito delicada, muito gentil, muito querida conosco. E é um encontro realmente do qual eu nunca vou esquecer”, relembra.
NOVELA FAMÍLIA É TUDO
O último papel de Grace Gianoukas na telinha foi na novela Família É Tudo (2024). Na trama de Daniel Ortiz (52), ela deu vida a “pegadora” Leda Mancini. Ela conta que se divertiu muito com este trabalho. “Amei fazer Família É Tudo! Minha personagem se tornou uma porta-voz das mulheres 50 mais, foi extremamente bem recebida pelo público, pelas mulheres. Fui parada nas ruas muitas vezes, com muita torcida pela personagem, isso é maravilhoso. E trabalhar com Fred Mayrink, que é o diretor, e toda a sua equipe de diretores, e interpretar as personagens criadas pelo Daniel Ortiz, autor do espetáculo, é uma maravilha”, fala.
“Os meus colegas, que gente maravilhosa. Todas as pessoas com quem trabalhei ali no meu núcleo, a Daphne Bozaski, Ana Hikari, Daniel Rangel, Cristina Pereira, minha querida, Thiago Martins, que fazia meu filho, meu Deus, que maravilha! O Marcelo Medici (...) É uma galera maravilhosa, inesquecível. Também a Danielle Winits, a Cris Viana, a Ana Carbatti (...) Nossa, uma maravilha. Morro de saudade de todo mundo, da personagem e desse núcleo de trabalho que a gente construiu ali, dessa família de faz de conta. Morro de saudade”, emenda.
'ME DESAFIA COMO ATRIZ'
A veterana confessa que adora fazer novelas. “Gosto de entrar nesse universo do faz de conta que é a novela, criar uma personagem e entrar nessa brincadeira com os outros atores. Isso é tão maravilhoso. Defender a personagem, por mais que ela possa ser uma vilã, sabe? Mas entrar nos motivos, nos motos dessa personagem é um exercício muito bacana, é muito legal, isso me expande como pessoa, me desafia como atriz, como profissional e eu gosto muito de fazer novela”, declara.
“E gosto também porque numa novela só tenho que interpretar, tenho que estudar, saber meu texto, minha personagem e eu tenho que estar inteira, pronta para entregar o que os diretores me pedem, e isso é muito legal também. Claro que quero voltar logo, amo fazer novela, mas também amo fazer teatro e também amo fazer cinema. Enfim, gosto de trabalhar com a profissão que eu escolhi”, finaliza Grace.
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