Em entrevista À Revista CARAS, Eli Ferreira revela como usa a voz para alcançar pessoas e ter sucesso
Sua voz forte já virou marca pessoal. O traço, que chegou a ser motivo de bullying na adolescência, agora é seu maior orgulho. Depois de emprestar o vozeirão para narrações da Globo, Eli Ferreira (33) também é a responsável por dar vida a Tédio, uma das personagens de Divertidamente 2, da Pixar, que recentemente se tornou a animação de maior bilheteria de todos os tempos no mundo.
Dá para acreditar? “Tenho voz grave como a maioria das mulheres da família. Quando comentam, brinco que a mulherada lá em casa fala grosso! Sofri bullying, sim, até mesmo de uma preparadora de elenco. Foi um tempo de muita angústia, acreditando que minha voz não era legal. E, neste ano, o universo me presenteou com esse filme lindo e necessário. Só respostas maravilhosas depois de tantos anos falando baixo para não chamar atenção”, celebra a atriz, em conversa com CARAS.
A dublagem é somente um dos vários motivos de orgulho para Eli. Atualmente, ela também vive a professora Lu em Renascer, trama global das 9, e acaba de realizar um grande sonho: a compra de sua primeira casa própria. “Ainda estou processando esse momento e todos os amigos que também passaram por isso, por essa conquista, ainda buscam palavras para descrever”, explica.
“Consigo dizer que é um misto de sentimentos e de lágrimas. São muitas camadas. Vivemos em um país que escravizou corpos pretos, acabou com a humanidade deles e quando não pôde mais, os jogou nas ruas à sua própria sorte. Ter minha casa própria é uma conquista que honra meus pais, avós, quem veio antes e alimenta meus contemporâneos”.
A importância de relembrar e celebrar os antepassados é crucial para Eli. A atriz entende que faz parte de um momento único na história da televisão brasileira, dedicado ao maior protagonismo negro, e reconhece a jornada de artistas que abriram as portas para ela e tantos outros.
“É mais um momento histórico até aqui, né? Assim como foi quando o primeiro ator negro apareceu na TV, quando tivemos a primeira família preta, os primeiros protagonistas… E isso se deve a eles também! Honro e agradeço a existência de cada um deles, que calçaram o caminho para a gente viver isso, agora e futuramente. Outros se inspirarão em nós”, reforça a artista.
Em Renascer, é por meio da professora Lu que o público debate temas como sexualidade e Eli sabe dos ensinamentos que a personagem traz. “Quando ela é usada como veículo para abordar questões profundas, assuntos importantes e delicados, reafirma questões que acredito”, aponta.
Criada na Igreja Evangélica, Eli passou por uma grande transformação em 2022. Naquele ano, ela fez seu primeiro contato com um terreiro de candomblé. Abandonar os preceitos evangélicos abriu os olhos da atriz para muitas dificuldades e percalços aos quais foi exposta durante toda a vida. “O impacto da religião teve muitas faces. Eu vivia sob culpa, medo e muitas proibições. Muitos preconceitos e julgamentos”, revela.
Hoje, a atriz segue os ensinamentos do culto de Ifá, uma religião de matriz africana. “Eu tenho buscado praticar a espiritualidade. Onde a religiosidade me aprisionava, a espiritualidade me liberta e mostra caminhos de autoconhecimento e de amor. A espiritualidade me impulsiona a melhorar como ser humano e ser pensante; não me prende numa caixa, mas me ensina a viver as consequências das minhas escolhas. E é uma transformação constante que tem seus altos e baixos. É o reflexo da vida sob olhar e direcionamento de algo muito maior e que me ensina sobre muitas coisas, entre elas, o que vim fazer na Terra”, define a estrela, que sempre destacou a fé como o principal combustível para enfrentar os desafios.
“Eu sempre tive muita fé. Eu podia até não saber descrever, mas lembro de ter fé no que queria fazer. Agradeço e honro cada pedra que pisei e pisarei durante minha vida”, destaca a fluminense.
Há três anos, Eli vive um relacionamento à distância com o baiano Ajaye Damasceno, e comemora que a relação dos dois consiga fluir mesmo vivendo em cidades diferentes. “A gente se vê com mais frequência do que as pessoas imaginam! Conseguimos aproveitar e otimizar ainda mais o tempo quando estamos no mesmo espaço. Tem funcionado por isso, por termos conversas difíceis, mas necessárias e por nós sermos amigos! Temos objetivos e metas a serem cumpridas”, explica.
E se o assunto é justamente os objetivos e as metas, Eli sabe exatamente aonde deseja chegar nos próximos anos. “Quero cada vez mais expandir minhas possibilidades artísticas, vivendo cada uma delas com honestidade! Emprestando voz, corpo, mente e criatividade para contar histórias cada vez mais empolgantes, potentes e próprias!”, conclui a artista, animada com o futuro e sem medo de abraçar novos desafios e caminhos em sua jornada pelo mundo das artes.
FOTOS: Guilherme Lima