Não há como ficar indiferente ao nome Clodovil Hernandes mesmo quatro anos após a sua morte. Ele foi - e ainda é - um nome consagrado da moda brasileira, principalmente no segmento “moda noiva”. As criações do estilista eram objeto de desejo de mulheres da alta sociedade até a década de 1980, que disputavam horário em seu ateliê, e das telespectadoras que assistiam Clodovil desenhar croquis ao vivo no TV Mulher, da Rede Globo. Mas o próprio estilista tinha uma noiva idealizada. E, para essa mulher, ele desenhou um vestido de noiva longo, bordado e glamouroso. Mas o modelo nunca deixou de ser um croqui. Pelo menos até agora. É que o vestido será executado e exposto na 2ª edição da Casamoda Noivas, em março.
Clodovil desenhou o modelo no final dos anos 1980. Ele não encontrou a “dona” do vestido nem antes, nem depois de terminar o desenho. “Uma tarde estávamos Clodovil, Klaus Agabiti (amigo e parceiro profissional do estilista) e eu tomando chá tarde quando vi o croqui sobre a mesa. ‘Que lindo! De quem é?’, eu perguntei. Ele respondeu: ‘não sei. Ela nunca esteve aqui”, conta Maurício Petiz, ex-assessor e amigo de Clodovil. Não se tratava de uma noiva que havia feito uma encomenda e não foi buscar. O estilista esperava conhecer uma mulher que pudesse usar o vestido. Para o amigo, a inspiração veio da mãe, Isabel Hernandes. “Ela partiu pouco antes de ele criar o vestido. Os dois eram muito apegados. Por isso, acredito que ele possa ter feito o vestido para ela”, diz Petiz.
O desenho ficou arquivado por alguns anos junto com o demais croquis - cerca de seis mil - no ateliê. Mas Klaus Agabiti decidiu guardá-lo como lembrança devido ao valor afetivo da peça. Quando Clodovil faleceu, em 2009, Agabiti e Petiz se uniram para montar o Instituto Clodovil Hernandes. Entre os arquivos resgatados está o croqui inédito do estilista. “Nós buscamos na casa dele algumas coisas e juntamos às nossas memórias também. Esse vestido não podia faltar”, diz o ex-assessor de imprensa. E claro, ele não poderia ficar de fora também da exposição sobre a vida do estilista, apresentador de TV e deputado federal.
O look executado não terá o chapéu, como no croqui original. Clodovil propôs mais duas formas de utilização: com flores e borboletas em tons pastel e chapéu de crina branca, ou com borboletas coloridas e chapéu de palha. “Escolhemos não usar chapéu porque os manequins de alta-costura não têm cabeça e o vestido será feito sob medida. Não faz sentido. Por isso, escolhemos executar a terceira proposta do estilista”, comenta Petiz.
O Casamoda Noivas, que começa no dia 01 de março, terá um espaço dedicado a contar a trajetória profissional desse ícone da moda brasileira. Lá, os visitantes vão conferir uma reprodução do ateliê de Clodovil, com croquis, vestidos de antigas clientes e o modelo inédito que será confeccionado com flores brancas por toda a extensão. A execução está a cargo de José Luis Martins, o costureiro que trabalhou ao lado de Clodovil durante a sua carreira como estilista. E a nós, só resta aguardar - ansiosamente - pelo resultado.