Primeiro álbum solo de Assucena, Lusco-Fusco proporcionou uma descoberta para a cantora. A artista revela detalhes do processo criativo e fala sobre mensagem do trabalho
Publicado em 18/03/2024, às 19h46 - Atualizado em 19/03/2024, às 10h15
Indicada ao Grammy Latino duas vezes (2019 e 2020), Assucena (35) homenageia Gal Costa (1945-2022) nesta quarta-feira, 20, com show Baby, te amo - Tributo à Gal Costa, no projeto Rolling Stone Sessions, no Blue Note, em São Paulo. A cantora transgênera segue colhendo os frutos do primeiro álbum solo Lusco-Fusco, lançado em setembro do ano passado. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, a artista revela detalhes do processo de criação do disco e detalha os desafios da nova fase da carreira.
"[O álbum] tá bonito, estou com muito orgulho e entendendo que um disco solo idependente é muito diferente de um disco solo quando você tem uma gravadora por trás. É um trabalho muito artesanal, tanto o trabalho do backstage artesanal quanto o trabalho do cuidado com a obra e do fazer musical. Demorei um pouco fazer esse disco, errei muito no processo, acertei muito também porque eu vinha de uma banda e quando você vem de uma banda querendo ou não as tarefas estão divididas os movimentos são diversos, mas são divididos. Agora na carreira solo, não, tudo vem para cima de você, até a própria organização da equipe, se está funcionando ou não você tem que estar de olho em tudo", conta ela.
Natural de Vitória da Conquista, a baiana fez parte do trio As Baias até 2021, o que marcou sua carreira com indicações na principal premiação da música mundial. Além disso, venceu o Prêmio da Música Brasileira em 2018 na categoria de Melhor Grupo e Melhor Álbum. Seu primeiro projeto solo foi o show Rio e Também Posso Chorar, que marcou sua estreia em dezembro de 2022 com canções em homenagem aos 50 anos do disco Fatal de Gal Costa. Agora, um ano depois, ela se prepara para novamente reafirmar sua admiração pela voz de Chuva de Prata.
Assucena, nome artístico inspirado no da personagem de Carolina Dieckmann (45) na novela da TV Globo Tropicaliente (1994), também está na estrada com canções do Lusco-Fusco. "Eu coloquei alguns passos à frente de outros, então foi muito importante ter a Céu comigo nesse primeiro processo porque eu quis trazer o Lusco-Fusco, primeiro por entender a beleza dessa palavra. Sempre achei uma palavra que nomeia dois momentos do dia: o amanhecer e o entardecer. Tem muitos sinônimos que poderia ter colocado, o nome de Crepúsculo [o filme], o caso, anoitecer, amanhecer enfim. Mas não era esse o caso, não era esse o acaso. Eu coloquei Lusco-Fusco pela musicalidade que tem a palavra e pela contradição, isso me deixou muito feliz por encontrar essa palavra", afirma.
A artista diz que o disco convoca o ouvinte a refletir sobre a polarização no mundo atual. Ela ressalta o processo de transição em diferentes camadas da sociedade, além de apontar interpretações sobre ciclo natural do dia e da noite.
"A gente não tá gostando de discutir contradição, a gente vive numa sociedade polarizada ou não discute a contradição desse processo. Ela é muito mais complexa do que a polarização, não é sobre a polarização de uma sociedade polarizada de quase de forma Universal, o mundo tá polarizado. Lusco-Fusco tem essa polarização, mas essa polarização é multicromática pois entende os processos dessa mudança de estado. O que é um Lusco-Fusco? É um processo de transição da luz pro breu ou do breu pra luz. Não basta dizer o que é essa luz ou esse breu. A luz pode ser o dia e o dia é o momento da praia, o momento do picolé, do parque, mas também o momento litigio, é o momento do suor, da labuta, é o momento em que a gente tem que enfrentar de forma burocrática os nossos problemas. O que é a noite? A gente interpreta como a solidão, como a tristeza profunda. Não existe namoro sem a noite, sem a lua alta e as estrelas incandescentes", finaliza.