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Ásia: o futuro do luxo

Com o aumento do poder de compra da população asiática, sob a liderança da china, o continente se torna no centro de interesse das marcas tradicionais e dita moda para o restante do planeta

Redação Publicado em 05/09/2011, às 14h31 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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Desfile da Prada, na China. Para agradar aos chineses, que não gostam de roupas que lembrem uniformes, muita cor e brilho. - Divulgação Prada
Desfile da Prada, na China. Para agradar aos chineses, que não gostam de roupas que lembrem uniformes, muita cor e brilho. - Divulgação Prada

Em janeiro de 2011, a Prada fez seu primeiro desfile na China. Na plateia estavam as estrelas de cinema Gong Li, Maggie Cheung e Liu Ye; os bilionários Pan Shiyi e Zhang Xin; o top model Godfrey Gao e a elite chinesa. Ao som de Go West, do Pet Shop Boys, imagens de modelos vestindo malhas estampadas com a bandeira da China eram projetadas em um telão. Se para boa parte do mundo nomes como Li, Cheung, Shiyi, Xin, Gao e Ye são desconhecidos, para as grandes marcas de luxo, como a Prada, eles são o futuro. E o efeito Ásia já é visível na moda.

Em 2007, a Fendi realizou um desfile na Grande Muralha da China, e o aval de Karl Lagerfeld deu status de ícone à região. Depois disso, as coleções 2011 da Louis Vuitton, John Galliano, Carolina Herrera e Ralph Lauren buscaram inspiração na Ásia. Riccardo Tisci, diretor criativo da Givenchy, apresentou um desfi le de alta-costura em Paris onde todas as modelos eram orientais. Há ainda um número crescente de estilistas de origem asiática ganhando as passarelas ocidentais: Jason Wu, Alexander Wang, Phillip Lim e Prabal Gurung, entre outros. Mas são os números que explicam como a Ásia se tornou a obsessão da moda. A Prada, somente em 2010, viu suas vendas crescerem 51% na Ásia. Apenas na China o crescimento foi de 75%.

E o fenômeno se estende a outras marcas. Uma pesquisa realizada pela consultoria Bain & Company mostrou aumento de 20% no consumo dos produtos de luxo por parte dos hineses. Entre agosto e dezembro de 2010, 80 novas lojas de grifes internacionais abriram na China. Xangai tem tantas lojas de luxo por pessoa quanto Nova York. Mas enquanto o mercado
americano está saturado, os asiáticos (à exceção do Japão) ganham milhares de novos consumidores a cada dia. Segundo a consultoria CLSA, em 2020 a Ásia será responsável por quase 50% do crescimento do mercado de luxo no mundo. Sendo que os milionários chineses são, em média, 15 anos mais jovens que seus pares nos países desenvolvidos. Graças a essa crescente elite com poder de compra e atenta ao que acontece no restante do mundo, os chineses, a exemplo de seus vizinhos, estão desenvolvendo um gosto apurado e não aceitam imitações. Quanto mais exclusivo, melhor. O que para as grifes estrangeiras também signifi ca se adaptar ao mercado local. Na Itália, o desfi le da coleção primavera/verão da Prada, em dezembro de 2010, trazia vestidos básicos de algodão. Como os chineses evitam roupas que lembrem uniformes, essas peças na China foram substituídas por criações
com uma matriz de lantejoulas, listrados esmeralda, preto e muitos babados e brocados com um clima de festa e glamour. A Hermès foi ainda mais longe. A grife que já tem a China como seu maior mercado consumidor no mundo lançou uma nova marca, a Shang Xia (que significa alto-baixo, uma referência aos opostos yin yang), que oferece produtos fabricados com matéria-prima local e desenvolvidos para o público oriental. Como boa parte da história das marcas ocidentais é ignorada pelos chineses, as grifes também investem no fortalecimento de sua imagem. Culture Chanel foi a primeira mostra sobre uma estilista no Museu de Arte Contemporânea de Xangai. A exposição reuniu 400 peças, entre fotos, roupas e documentos sobre a vida de Coco Chanel. Em 2009, a Cartier também realizou uma mostra com 350 peças no museu da Cidade Proibida, em Pequim.

A influência da Ásia na moda ocidental é milenar. Desde a descoberta da seda na Antiguidade, passando pelos anos 1920, quando o estilista francês Paul Poiret buscava inspiração
na região. Nos anos 1970 e 1980, a obi e o quimono voltaram às passarelas e as criações de Kenzo Takada ganharam destaque internacional. Apesar do histórico, assim como em boa parte da Ásia, artigos de grifes ocidentais até há pouco tempo eram sonhos distantes. Ainda hoje, menos de 1% da população chinesa compra artigos de luxo, afi rma um relatório da
consultoria Mintel. Mas a ascensão dos Tigres Asiáticos, como são chamados os países da região que se desenvolveram nos últimos anos, foi rápida. Enquanto as nações da Europa Ocidental levaram entre 150 e 200 anos para aumentar o PIB per capita de US$ 1.000 para US$2.000 em termos reais, esse processo demorou apenas 40 anos no Japão e somente uma década na China. No Brasil ocorre um processo parecido, mas em menor escala. A Burberry inaugurou uma loja no país em 2010, mas anunciou que pretende abrir 50 unidades

MADE IN CHINA
Em 2020, a China seráresponsável por metade do crescimento do mercado de luxo no mundo. Mas, até o momento, o país não possui uma marca local capaz de competir com as grifes
estrangeiras tradicionais na China. E novamente a explicação está nos números. A população chinesa é quase sete vezes maior que a brasileira. “As grandes marcas internacionais já chegaram ao Brasil. Mas na China o mercado é maior porque a população é maior e há mais pessoas com alto poder de compra”, diz Marcos Campomar, professor de Marketing da Faculdade de Economia e Administração da USP. Assim como no Brasil, na China a pirataria é um problema. Porém, os chineses estão comprando cada vez menos fora do país, ao contrário dos brasileiros. Comprar em Hong Kong ou Macau garante produtos com menos impostos, já que grande parte das mercadorias, como as das marcas Yves Saint Laurent e Ralph Lauren, é fabricada na região. E quando os chineses saem do país, normalmente buscam produtos que não encontram localmente. Os itens que mais compram no exterior
são joias e relógios. Diane von Furstenberg já declarou o desejo de “vender uma camiseta para cada chinês”. Se cada chinês pagar um dólar por camiseta, ela vai faturar US$ 1.3 bilhão. Mas uma camiseta da grife de Diane é vendida por até US$ 200. Um negócio da China.