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Datas Especiais / PAI ATENTO

Rafael Cortez sobre os desafios da paternidade na era digital: ‘Consertar o que o mundo estraga’

Em entrevista à CARAS Brasil, Rafael Cortez, que completa 48 anos nesta sexta-feira, 25, reflete sobre a era digital, que tem formado crianças que leem cada vez menos livros

Thaíse Ramos
por Thaíse Ramos

Publicado em 25/10/2024, às 07h00

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Nara no colo do pai, Rafael Cortez, que faz aniversário nesta sexta-feira, 25 - Reprodução/Instagram
Nara no colo do pai, Rafael Cortez, que faz aniversário nesta sexta-feira, 25 - Reprodução/Instagram

Rafael Cortez comemora 48 anos nesta sexta-feira, 25. Celebrando 30 anos de trajetória na Comunicação e nas Artes, o jornalista, comediante, músico, ator e apresentador lançou recentemente sua terceira obra literária: Atitude Transformadora - primeiro texto sobre carreira, uma das maiores motivações de sua vida. Em entrevista à CARAS Brasil, ele faz uma reflexão sobre a exposição indiscriminada de crianças e adolescentes as redes sociais e internet, o que acaba provocando, segundo estudiosos, queda no rendimento escolar. Pai de Nara, de 2 aninhos, ele reflete sobre os desafios da paternidade na era digital: "Consertar o que o mundo estraga". 

O uso de aparelhos tecnológicos, como smartphones e computadores, com acesso as redes sociais, tem feito com que as crianças em idade escolar leiam cada vez menos livros. Segundo estudo realizado na Grã-Bretanha, comandado pela National Literacy Trust, em 2011, fora da escola elas estão mais suscetíveis a navegar na internet ou enviar mensagens aos amigos do que ler obras literárias. Ainda segundo a pesquisa, entre os adolescentes com 14 e 16 anos, as chances de que leiam um livro em detrimento do uso do computador é 10 vezes menos do que entre os mais novos.

“Essa é uma geração que tem uma falsa sensação de privilégio. Em alguns aspectos, toda comodidade que a inteligência artificial, que o chatGPT, que as conexões nas redes sociais podem dar, podem sugerir um privilégio, de se sentir privilegiado em relação a minha geração. A minha geração é uma geração esquisita, porque a gente fazia trabalho de escola na biblioteca. Para você ter uma ideia, quando eu tinha 16 anos, trabalhei numa biblioteca e era o responsável pela hemeroteca (onde se encontravam coleções de jornais, revistas, periódicos e obras em série). Hemeroteca é o que a gente chamou de Google. Eu recortava, colava”, destaca Cortez.

“Os jovens agora vão olhar para isso e falar: ‘A nossa geração é privilegiada, nós nos conectamos, temos essas facilidades’. Ok, parabéns, mas tem um engano, tem uma arapuca nessa parada. Arapuca do não aprofundamento. A gente não se aprofunde em nada. Se o chatGPT escreve para você um trabalho, o que você, de fato, pesquisou? Se você dá um Ctrl C e Ctrl V num texto que alguém escreveu e coloca no seu trabalho, e leu no modo dinâmico, o que você tem de repertório? E vai demorar muito tempo para os jovens entenderem, agora, que o repertório é um crescimento”, emenda.

Para exemplificar o que fala sobre repertório, o apresentador cita Jô Soares (1938-2022). "A gente lamenta a morte do Jô Soares, por exemplo, pelo gigantesco comunicador, piadista, humorista que ele era, entrevistador sem precedentes (...)  Ele foi um dos caras com o maior repertório da TV brasileira. Ele podia entrevistar um filósofo, um chef de cozinha, uma bordadeira de tricô. Ele tinha repertório pra falar de todas essas coisas, por tudo o que ele leu, por tudo o que ele sabia da vida, por tudo o que ele se dispôs a aprender do mundo. E a falta de repertório vai custar muito caro para essa turma quando eles tiverem a minha idade”, pontua.  

“Mas vejo um contra-ataque acontecendo, não quero ser fatalista, por ter uma proporção, um número de pessoas que fala: ‘Vamos ler, vamos tirar o celular, vamos fazer essa galera se aprofundar, aqui é proibido usar a internet’. Não sou a favor de censurar nada, mas certamente ter um equilíbrio é vital. E eu vejo um contra-ataque. É difícil lançar livro, mas tem editora que quer apostar, quer publicar, sabe?”, completa o artista.

PREOCUPAÇÃO DE PAI ZELOSO

Rafael Cortez é pai da pequena Nara, fruto do casamento com a empresária Marcella Calhado. E ele se preocupa com a filha. “Me preocupo pelas conexões que ela faz fora de casa. Fora de casa, ela vai ter acesso ao telefone – a gente não vai dar tão cedo o celular para ela. Mas ela vai acessar, ela não vai viver em uma bolha. Nem a mãe dela, nem eu queremos isso, colocá-la numa bolha. Ela vai viver a vida, mas aqui dentro ela vai ler, conversar, escrever, desenhar”, reforça.

“A gente tem que fazer isso, tem que tentar consertar o tanto que o mundo vai estragar. O nosso papel como educador é tentar consertar um pouco o que o mundo estraga. Não é preparar para o mundo, sabe? Isso está quase impossível, a gente conserta um pouco o que o mundo estraga. Sorte que Marcella e eu temos o mesmo caráter e temos a mesma forma de pensar”, finaliza o humorista.