A inspiradora trajetória da produtora rural que conquistou o agronegócio paraense
Publicado em 10/04/2025, às 08h00 - Atualizado em 23/04/2025, às 13h49
Renata Salatini, 47 anos, nasceu e cresceu no campo, onde encontrou sua verdadeira vocação. Após um longo período de trabalho como secretária executiva trilíngue, longe das raízes rurais, ela assumiu o comando da fazenda da família em Itaporã, no Mato Grosso do Sul e, posteriormente, em Paragominas, no Pará. Transformando desafios em oportunidades, foi uma das primeiras mulheres da sua região a atuar diretamente no campo. Consolidou-se como referência feminina no setor a partir da gestão da sua propriedade, da liderança no agro e por inspirar outras mulheres a acreditarem que também podem ocupar espaço e fazer a diferença no agronegócio.
Nascida em Assis, no interior de São Paulo, Renata passou a infância no campo. Até os cinco anos, morou no sítio da família, em uma pequena cidade chamada Florínea. Lá, desenvolveu seu amor pela terra e pelos animais. E o mais importante: conheceu William Wesnei Salatini, com quem se casou em 1994, aos 17 anos. Pais de Maria Júlia, de 30 anos, o casal é parceiro de vida e jornada.
Por razões profissionais de William, em 1996 a família se mudou para São Paulo. Em 1999, foram para Rio Claro, cidade onde ele vive até hoje, atuando como empresário do setor sucroalcooleiro. Naquela época, Renata dividia seu tempo entre os cuidados com Maria Júlia e a vida profissional: auxiliava o marido na administração da empresa e, em 2004, formou-se como secretária executiva trilíngue pela Faculdade Uniclar de Rio Claro.
Apesar da carreira ter tomado um rumo distante das origens no campo, Renata reencontrou sua conexão com o agro. Em 2000, o casal adquiriu sua primeira fazenda em Itaporã, no Mato Grosso do Sul. Foi em 2010 que ela teve sua primeira grande experiência como produtora rural. Em meio aos preparativos para uma colheita e diante de uma situação inesperada, precisou assumir completamente a gestão da propriedade. Mesmo sem prática, mergulhou de cabeça no desafio. “Foi um tiro no escuro”, relembra. Sua formação administrativa ajudou, mas foi o aprendizado diário, ao lado da equipe, que moldou suas habilidades em gestão no agro.
No início, os obstáculos foram grandes. “Eu não tinha nenhum conhecimento sobre operações agrícolas. Meu contato com o campo, até então, era apenas em férias e datas comemorativas. De um dia para o outro, tive que aprender a plantar, comprar, negociar, gerir e colher”, conta. Mas ela se saiu bem. Já adaptada aos negócios e à vida na fazenda, em 2015 o casal adquiriu novas terras em Paragominas, no Pará, apostando no potencial do estado. Renata seguiu residindo na propriedade, agora em solo paraense, dando continuidade a sua atuação à frente da gestão rural com a mesma dedicação de sempre.
Ao longo dos anos, ela buscou se desenvolver por meio de treinamentos, dias de campo e estudos constantes. Transformou seu escritório em sala de aula, promovendo capacitação contínua para os colaboradores — e, ao mesmo tempo, para si mesma. Os temas abordados iam além das técnicas do agro, alcançando também áreas como educação financeira e desenvolvimento pessoal. “Procurei transformar o que era simples em conhecimento grandioso, para que eles pudessem aplicar tanto na fazenda quanto em casa, com suas famílias”, explica.
Até 2022, Renata liderava o plantio de soja, mas naquele ano a família decidiu arrendar a área agrícola e direcionar o foco para a pecuária. A mudança foi estratégica: buscava-se mais qualidade de vida e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. “Eu vivia 24 horas por dia dentro da fazenda, só trabalhando. Era muita dedicação e autocobrança por resultados. Quando percebi que precisava balancear o ser, o fazer e o ter, decidimos, juntos, arrendar a agricultura e manter a pecuária, para desfrutarmos mais do que conquistamos e prepararmos o futuro com mais presença e propósito”, conta Renata.
Com o tempo, a realidade novamente se transformou. Hoje, Renata não está mais à frente da produção rural, mas sua contribuição ao agronegócio permanece mais viva do que nunca. Toda a experiência construída ao longo de anos no campo — liderando uma propriedade, superando barreiras, ensinando e aprendendo com sua equipe — hoje é compartilhada com outras mulheres que vêm encontrando, cada uma à sua maneira, seu lugar no agro.
São mulheres que atuam dentro e fora da porteira: produtoras, profissionais do setor, empreendedoras, técnicas, estudantes. Algumas não são produtoras e nem vêm de famílias rurais — mas encontraram, por meio da sua inspiração, coragem e direcionamento para se posicionarem, trabalharem e contribuírem com o agronegócio brasileiro.
Renata agora percorre o Brasil e até outros países como palestrante, mentora e formadora de lideranças femininas. Em suas falas, leva histórias reais, estratégias de gestão e, sobretudo, um exemplo vivo de coragem, resiliência e propósito. Onde antes semeava soja e criava gado, hoje planta conhecimento, desperta lideranças e colhe transformação.
Seu legado ultrapassa cercas e porteiras. Ele ecoa na voz de outras mulheres que, após ouvi-la, decidem acreditar que também podem. Renata prova que não é preciso estar na fazenda para estar no agro — basta manter as raízes firmes, o olhar atento e o coração comprometido com o desenvolvimento humano e sustentável do campo.