CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil

Certas pessoas amam tanto amar que se esquecem do objeto de seu amor

Redação Publicado em 08/11/2011, às 12h32 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
.
.

Os estados subjetivos experimentados por quem ama são altamente mobilizadores, cheios de intenso movimento e em geral prazerosos — a menos, claro, que essa vivência tenha o sabor sofrido da paixão não correspondida, do amor impossível, da dor pela perda do objeto amado, ou algo assim. Quando a situação é favorável, quem ama se sente preenchido pelo que tem de melhor. Justamente em razão disso, corre um sério risco: o de se apaixonar pelo estado amoroso experienciado, perdendo de vista aquele ou aquela que crê amar. A pessoa, nesses casos, ama amar, mas nem sempre o parceiro se beneficia desse amor.

A experiência subjetiva de amar corresponde ao despertar de funções até então silenciosas, ainda que potencialmente disponíveis. O amor retira a pessoa dos parâmetros em que ela se encontra imersa e inaugura um novo modo de ser. É o nascedouro de uma dimensão do “eu” até então desconhecida, porque ainda não exercida. O amor imprime à personalidade uma vitalidade incomum, uma prontidão, um encantamento. Todas as áreas da vida repentinamente passam a ser avaliadas como muito positivas. O mundo, enfim, assume aos olhos de quem ama o colorido que preenche a alma do amante, como se refletisse a imagem de sua subjetividade em estado de plenitude, magia, sensualidade, ternura, força e disposição para viver.

Cabe indagar, no entanto, qual é o lugar que tem o outro, o objeto do amor, nesse enredo. Frequentemente o outro é mesmo o promotor do movimento amoroso, o estímulo que desencadeia a resposta amorosa. Mas às vezes essa resposta é tão forte que o suplanta. A pessoa fica tão superlativamente avassalada pela vivência de amar que já não tem mais contato humano e verdadeiro com aquele ou aquela a quem supostamente seu amor se destinaria.

Se o destinatário desse tsunâmi amoroso tem a capacidade de estranhar o que vem em sua direção, tudo pode se acertar. Para isso, é necessário que ele não perca a sensatez, que dedique ao outro um amor maduro, alicerçado num autoconhecimento seguro e numa abertura tranquila para a inclusão do ser amado na sua vida, nas suas emoções. Se, diferentemente, ele sofre da mesma dificuldade do amante, o resultado é um dramalhão: ambos ficam identificados com uma parcela de si mesmos que percebem no outro: justamente o paradisíaco estado de apaixonamento. Ou seja, nenhum dos dois será capaz de ver o outro, seus olhos estarão eclipsados por sua própria subjetividade. Com o passar do tempo e o aquietamento do movimento amoroso, acabarão se dando conta de que o objeto real e a imagem idealizada não coincidem. Então, dois desenlaces são possíveis: num extremo, a paixão se transforma em amor, quando cada um passa a conhecer o outro e a experimentar por ele um novo sentimento, mais seguro, mais sadio, mais compatível com a realidade; em outro extremo, a frustração da expectativa idealizada pode resultar em decepção, dor, ódio, tristeza, sentimento de perda, de traição (de ter sido traído pelos próprios olhos), ressentimento e desespero.

Mais comum do que se imagina, essa predisposição para amar com maior intensidade o amor do que o objeto dele pode ter sua origem nas matrizes amorosas da pessoa, na qualidade dos vínculos a que ela foi apresentada desde pequena. A psicoterapia é um bom caminho para ajudar na sua superação.