Inspirada pela campanha de Madonna Badger, Daniela Schmitz relembra o caso de assédio virtual que a filha sofreu quando estava no 'MasterChef Júnior' e pede que as pessoas mudem de comportamento, boicotando marcas que objetificam a mulher
Daniela Schmitz, executiva da Edelman Significa e mãe da jovem Valentina, que participou do MasterChef Júnior na Band, decidiu falar sobre o assédio virtual que a sua filha sofreu quando participou do programa há oito meses. Na época, o caso da menina de 12 anos que foi alvo de comentários sexuais na internet, deu início à campanha #MeuPrimeiroAssédio nas redes sociais.
"Eu não ia falar sobre isso. Mas depois de assistir à palestra da Madonna Badger, não é possível se calar diante de tanta coragem e sabedoria", diz ela, em carta divulgada pelo Meio&Mensagem - Madonna Badger é dona da agência de publicidade Badger. Ela perdeu as três filhas e os pais em um incêndio na sua casa, na noite de Natal, em 2011. Após enfrentar o luto e a depressão, Madonna decidiu que iria usar sua vida para fazer algo positivo e deu início a uma pesquisa sobre a objetificação das mulheres na publicidade e sobre a cultura do estupro. Nesta semana, ela deu uma palestra em Cannes Lions, o maior festival de publicidade do mundo, para falar sobre sua campanha #WomenNotObjects.
Daniela afirmou que não pretende falar mais sobre o caso, por ele ter sido amplamente divulgado e discutido na mídia e nas redes sociais. "No entanto, há muito o que falar sobre o que leva as pessoas a acharem que alguém como ela, por estar participando de um programa de tv, ser menina e ser bonita pode ser assediada, publicamente sexualizada e virtualmente estuprada", continuou a mãe de Valentina. "Muitos dirão, são doentes, são pedófilos. Discordo, senhores. A maior parte deles são simplesmente rapazes que desde sempre foram impactados por imagens e mensagens nas quais as mulheres ou pedaços delas eram tratadas como objetos sexuais. Imagens e mensagens contidas nos anúncios, nos filmes e outdoors que os leitores deste jornal criaram, aprovaram e veicularam. E assim, cresceram, crescemos… ajudando através da publicidade a construir a cultura do estupro".
"Eu não ia falar sobre isso, porque é muito dolorido ver a tua própria família se tornar vítima de uma cultura que de alguma forma direta ou indiretamente você ajudou a construir. E ainda ver, supostos influenciadores, cobras que ajudamos a criar, ironizando o caso e desmerecendo a importância da discussão que se deflagrou a partir dele com a campanha #meuprimeiroassedio", falou. "Mas depois de ouvir a história da Madonna Badger, tive vergonha da minha dor e do meu silêncio. O que ela tem feito, em nome do legado que ela diz querer deixar paras suas 3 filhas, é algo tão poderoso e tão importante, que não pode ser mantido em silêncio", disse.
Daniela pede que as pessoas vão além de assistir e refletir sobre uma campanha, mas mudar o comportamento radicalmente, deixando de consumir marcas que objetificam a mulher. "Checando e deixando de contratar pessoas que planejam, criam ou aprovam essa forma de “comunicação”. Porque isso não são campanhas publicitárias, isso é contribuir ativamente para a construção de um padrão de comportamento estuprador, desumano e que coloca a mulher, desde bem pequena, num contexto profundamente humilhante e incentiva os homens, desde cedo a tratá-las como objetos. Não é brincadeira, não é sexy e muito menos engraçado. Isso não é nem mesmo propaganda. Isso é algo que vai contra a reputação das marcas e das pessoas por trás dessas marcas. E isso a Badger & Winters também comprovou através de suas pesquisas", argumentou. "As filhas da Madonna Badger morreram num incêndio há muitos anos, quando ainda eram bem pequenas. Portanto, as filhas, as netas… que vão se beneficiar de fato das mudanças que devem ocorrer a partir dessa luta, são as nossas. Obrigada por não se calar", encerrou o texto.