O pensador inglês Samuel Johnson (1709-1784) é pouco lido, mas uma de suas frases, de tanto ser repetida, converteu-se quase num mantra: “O segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a experiência!” Trata-se de um dito paradoxal: otimista, uma vez que se refere à esperança, e ao mesmo tempo pessimista, pois deixa no ar a ideia de que houve uma primeira experiência negativa. E a palavra “triunfo” aponta para um conflito que teria sido resolvido mais por júbilo exaltado do que pela consistente superação de eventuais dores.
Ora, a bem da verdade, sem boa dose de otimismo não haveria sucesso no primeiro, nem no segundo ou no quarto casamento — conjugalidades seriais tão comuns nos dias de hoje. O amor, em si, é uma aposta no valor, nas qualidades da outra pessoa, em detrimento de seus eventuais defeitos, que acabam por merecer compreensão generosa. Nesse sentido, ele é uma vitória da suave tolerância sobre a aversão implacável.
Então, você deve estar se perguntando, só os otimistas amam? Eu diria que os otimistas são mais propensos a amar. O pessimista, quando um casal se separa, exclama: “Não falei?” Gente assim pode até manter um
relacionamento — de preferência com um otimista, senão, que inferno! —, mas o outro terá de suportar suas críticas, descrenças e amarguras. Já o otimismo facilita que duas pessoas fiquem juntas na alegria do amor e da vida a dois. Quando o clima fica difícil, frente às inevitáveis nuvens negras que rondam toda relação, em lugar de sucumbir às tormentas, os otimistas pensam no dia de amanhã e nas coisas boas que desfrutam
junto de sua cara-metade, Ainda que atingidos, não se afogam, aguentam até que o amor reencontre a calmaria. Por enxergarem o lado positivo de tudo, costumam estar sempre alegres e se refazem mais rapidamente das adversidades.
Mas não sejamos ingênuos com os otimistas! Herdeiros do professor Pangloss, o célebre personagem do filósofo francês Voltaire (1694-1778), alguns são tão chatos que só um otimista — que paradoxo! — seria capaz de suportá-los! Muitos pombinhos vivem numa realidade (ou fantasia) própria, com os pés longe do chão. Porém, insistir em que a vida seja bela — como no filme do italiano Roberto Benigni (60) — é algo apropriado para iludir crianças em campos de concentração, mas não adultos na complexa quase guerra entre os sexos. O que eles e elas precisam perceber é que não há uma divisão assim tão estanque entre a visão pessimista e a otimista da vida amorosa: as duas concorrem o tempo todo, se alternam e, não raro, se expressam simultaneamente. Quando o otimista ou o pessimista tentam reinar absolutos, o primeiro não admitindo enxergar limites, desgastes e imperfeições da vida amorosa e o outro excluindo amargamente a sua parte gostosa, romântica e reconfortante, aí, sim, a coisa se complica.
Atitudes otimistas ou pessimistas são frutos do temperamento inato de cada um, em complexa interação com as experiências positivas ou negativas da vida, claro. É importante que saibamos qual é nossa predisposição para que ao menos tentemos dosar o seu impacto na vida amorosa. Pois amargura ressentida ou entusiasmo desligado da realidade não são bons conselheiros nem do coração, nem da razão.