O designer Hans Donner abre seu lar, fala de atemporalidade e alça novos voos
Responsável pela criação de lendárias vinhetas e aberturas de programas da Globo, além do próprio logo da emissora, Hans Donner (74) — um alemão de alma e coração brasileiros — faz da Cidade Maravilhosa uma eterna fonte de inspiração. Em seu refúgio carioca, com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas e para o Cristo Redentor, ele recebeu CARAS para um bate-papo exclusivo e, logo na chegada, exaltou o cenário com o qual é contemplado todas as manhãs.
“Essa é minha grande inspiração, eu me sinto totalmente abraçado pelo Cristo Redentor, todas essas curvas me inspiram”, diz o designer, que acaba de abraçar uma missão para lá de especial: assinar o logo de aniversário dos 30 anos da revista CARAS. “Eu já não faço mais esses trabalhos de criação de logo, mas foi um convite irrecusável, ainda mais quando se trata de 30 anos, olha o tempo novamente aí se fazendo presente”, celebra Donner, mostrando seus rascunhos até chegar à ideia final do logo, que permeará todas as festividades da revista ao longo do ano.
Radicado no Brasil desde 1975, Donner foi casado por 26 anos com a eterna Globeleza Valéria Valenssa (51), com quem teve João Henrique (20) e José Gabriel (19). Hoje, está solteiro e focado em sua arte. “Estou realizando a minha liberdade”, frisa ele. Após anos atuando na emissora, o mago das vinhetas alçou novos voos. E foi longe! Ele tem provado o talento ímpar ao flertar com o universo da arquitetura, além de criar peças de design.
– Após anos dedicados à TV, você tem aplicado sua criatividade no design de peças únicas e na arquitetura...
– Agora, as pessoas podem ter meu design na casa delas. E se trata de uma arquitetura revolucionária, porque coloco a minha assinatura ali.
– Considera a atemporalidade a sua grande marca?
– Eu acho que, de fato, tudo que criei até hoje parece que não envelhece. Eu não busco isso, eu tenho isso dentro do meu espírito. E os prédios que estou assinando o design, eles dançam...
– O logo criado para CARAS segue a mesma linha?
– O meu encontro com CARAS foi lindo. Chegar a tantas pessoas com a minha arte é atingir uma memória afetiva. Gosto muito do design no formato de bolas e assim foi com o logo da TV Globo, por exemplo. Foi desenhado em guardanapo, que guardo até hoje! Para a CARAS, desenvolvi esse túnel com as capas da revista, em que você pode encontrar da atual até o primeiro exemplar que foi para as bancas. É um túnel do tempo, vem lá de trás, junto com as palavras, até chegar ao atual. Dessa forma, você vai encontrar verdadeiramente o tempo.
– Como é para você ser lembrado pelas icônicas aberturas de tramas das novelas da Globo? Que análise faz do que a TV oferta hoje ao público?
– Eu tenho um carinho muito grande pela trajetória que percorri e por toda a confiança que o Boni teve no meu trabalho. Sou grato e fui feliz. É uma honra quando alguém comenta sobre alguma abertura de novela, as pessoas ficaram com ótimas memórias afetivas, mas não fico saudosista. Hoje, algumas pessoas me perguntam se tal abertura tem minha assinatura e explico que não. Fui muito feliz na emissora, mas com a mudança de direção de alguns setores, eu fui ficando ali, guardadinho, para que outras emissoras também não buscassem os meus trabalhos.
– Nessa sua nova fase profissional, nós podemos dizer que você continua entrando na casa das pessoas, porém, de uma forma diferente, certo?
– Olha que interessante, hoje, as pessoas podem ter uma arte minha dentro do lar delas. Sempre quis desenhar móveis.
– Seu apartamento parece ter muitas referências de trabalhos que realizou anteriormente...
– Pode se dizer que sim! Aqui nesta sala, por exemplo, temos a abertura da novela Explode Coração, e já
conseguimos ter uma ideia tecnológica do que estava por vir. Lá em cima, temos uma parte do cenário de abertura do programa da Xuxa, esses cristais fizeram parte do cenário e, quando não seria mais útil, trouxe para cá e olha que maravilha ficou. Então, realmente, entrei na casa das pessoas com ideias que estão no meu dia a dia, no meu lar.
– Sua decoração tem elementos futuristas e ligados ao tempo. Em seu apartamento, o tempo passa de forma diferente?
– Olha, esse relógio que eu estou usando, por exemplo, é revolucionário, é algo que nunca ninguém viu e estava pronto há muitos anos. Se Steve Jobs estivesse vivo, pagaria uma fortuna para mim! Tudo que você vê aqui faz parte do tempo, do meu tempo. É tudo atemporal, tudo envolve o design em formato de círculos, bolas. Quero mostrar que, assim, nesse relógio sem ponteiro, sem números, as pessoas vão desacelerar, relaxar, essa é a ideia por trás dessa peça.
– A vista exuberante do apartamento, de certa forma, também soma à decoração, não?
– Olhar para essa vista me acalma, essas curvas da natureza me inspiram. Amo o Rio. Aqui, faço exercícios no segundo pavimento com uma vista para o Cristo e, depois, vou para a piscina, me sinto abraçado por ele. Esse é o lugar preferido do meu apartamento. Me sinto acolhido, é minha inspiração, sou muito grato a tudo que já vivi e ainda vivo aqui no Rio de Janeiro.
FOTOS: SELMY YASSUDA