Na Ilha, atriz de 'A Força do Querer' revela sentimentos e encara polêmicas
Os impressionantes olhos azuis podem tirar o foco do que realmente importa para Bruna Linzmeyer (24). “O coração é o soberano”, avisa, realçando o poder dos sentimentos e mostrando-se bem mais diversa do que parece à primeira vista. A complexidade vai da bela mistura de raças, tem sangue alemão, português, índio e negro, à coragem com que assume posições menos ortodoxas, na vida pessoal e profissional. A atriz, estrela de A Força do Querer, une autenticidade e serenidade para falar na Ilha de CARAS de temas como bissexualidade, preconceito e da própria trajetória.
– O que leva em conta antes de aceitar um personagem?
– Muitas coisas. Que eles sejam diferentes, sempre, com gosto de desafio e me deixem com medo. Tem que ter algo desconhecido. Preciso inventar e descobrir.
– O desconhecido dá medo?
– A mim e a todos. Mas medo é igual a desafio, que é igual a criação. Tudo junto. Trabalhar com grandes diretores também interessa, estar perto de quem admiro.
– Cibele, sua personagem na novela, vai se envolver em uma traição. Como vê a questão?
– Quando conversado e combinado, acho tudo válido. Não sou contra nada, cada um segue seu coração. Precisamos sentir, não é só o que sociedade impõe. Não pode aceitar traição? De repente, pode sim. Segue o coração, se ele acalmou, tudo bem. Não existe um método para lidar com isso.
– E uma relação aberta?
– Eu já tive de tudo, aberta e fechada. Depende de como você está e com quem está. É um encaixe. Não é só sobre você.
– Como foi sua formação?
– Meus pais me ensinaram algo forte e bonito: sentir o coração. Por isso sempre respeitaram minhas escolhas. Me deixaram sair de casa muito cedo ao sentir que era importante para mim. Tive uma educação com bastante liberdade, conversa, amor e consciência.
– Foi difícil se mudar sozinha para São Paulo aos 16 anos?
– Não. Vivia em Corupá, cidade com 10000 habitantes no interior de Santa Catarina, mas tinha vontade de ver outras coisas. Meus pais ficaram um pouco assustados, mas também encantados. No fundo, claro que foi difícil. Mas eu queria muito. E meus pais estiveram ao meu lado o tempo inteiro.
– Mas é preciso coragem?
– Sim. Coragem para permanecer. Mas foi mais difícil para meus pais. Viver a adolescência sozinha em cidade grande era divertidíssimo. Claro que com responsabilidades. Foi ótimo aprendizado.
– Como foi a experiência lá?
– Fiz um curso de teatro porque uma amiga fazia. Mas não sabia o que queria. Depois de um ano e meio, meus pais falaram: o dinheiro acabou. Pensei no que fazer, fui a uma agência de modelos e fiz teste para a Globo. Era a forma de ganhar dinheiro para continuar vivendo aquilo. Passei para a série do Luiz Fernando Carvalho. Duas semanas depois estava no Rio.
– Você já divulgou fotos de toplesss. É uma mensagem?
– Por que homem pode e a mulher, não? Por que ela tem que se cobrir? É machismo. Mamilo é das partes mais sensíveis do corpo. Na amamentação, há muita dor e sofrimento porque a pele é sensível, nunca pega sol. Então, faço consciente, tiro o biquíni porque é saudável e porque sou contra a concepção social de que nós não podemos mostrar, mas o homem, sim.
–Você enxerga a sociedade muito machista ainda?
– Muito. Uma mulher é estuprada a cada um minuto e meio no Brasil. É muito sério. Meu corpo, não. As mulheres estão começando a se posicionar agora. Está todo mundo junto nessa. Pequenas coisas vão virando grandes.
– Você também já teria assumido que namora mulheres...
– A gente se apaixona por pessoas, não é pelo sexo delas. Eu sou assim. A paixão é por um ser humano, não importa o gênero.
– Foi vítima de ataques homofóbicos por isso. Como reagiu?
– Qualquer demonstração de preconceito me choca. É comum em filmes a gente ver mulheres e gays sempre frágeis e confusos. E homens brancos, bem resolvidos. Isso vai entrando por osmose. Há quem veja um negro na rua e atravesse. É muito difícil de lidar, mas estamos aprendendo.