JOSÉ DE ABREU ENCONTRA SEU EQUILÍBRIO

por Luciana MarquesJosé de Abreu (60) admite que já não é mais o mesmo. O ator, que vem arrancando elogios por sua atuação em Amazônia, em que interpreta o coronel Firmino, encara com bom humor as transformações pelas quais vem passando."Pela primeira vez eu sou fiel", assume ele, que diminuiu a boemia e já admite voltar atrás na decisão de não ter mais filhos. Há pouco tempo viu ruir outro dogma, ao comprar seu primeiro apartamento. Tantas mudanças foram inspiradas especialmente por duas pessoas que o acompanharam em visita à Ilha de CARAS: a mulher, a estudante de pedagogia Camila Paola Mosquella (25), 35 anos mais jovem e com quem está há dois anos e meio, e o caçula, Bernardo (6), do namoro com Andrea Pontual (36). "A chegada do Bernardo deu uma mexida em mim, não planejava outro filho. E também me bateu um certo medo quanto ao futuro", confessa ele, que, em 2007 festeja 40 anos de carreira. Com pique de garoto, além da minissérie, ele se prepara para a estréia carioca, no mês que vem, do monólogo Fala, Zé!, no Centro Cultural Solar de Botafogo, e para as filmagens de um documentário sobre os colonizadores judeus no Rio Grande do Sul. "Os papéis vão diminuindo. Mas não dá para pensar em aposentadoria", constata ele, que passou por três casamentos e é pai também de Theo (32), Ana (31) e Cristiano (24) - da união com Nara Keiserman (56). Do relacionamento com a advogada Neuza Serroni(61), teve o filho Rodrigo, morto em 1991. - Algum arrependimento em 60 anos de vida e 40 de carreira? - Sou de deixar as coisas acontecerem. Não me arrependo de nada. Meu analista acha que eu não acredito na morte, por isso não penso no futuro. Ganho bem há muito tempo, mas não tenho bens. Tenho os vinhos que eu tomei, os países do mundo que eu conheci, as alegrias que passei, as dores. Invisto tudo o que ganho em mim, em ser e não em ter. Só depois de dez anos de análise é que comprei um apartamento e comecei a pensar no futuro. - Você é mais pai ou avô do Bernardo? - Continuo pai, dou ordem, mas ele não obedece muito (risos). Confesso que nunca tive muita moral com meus filhos, mas sempre fui de conversar. E Bernardo gosta de dialogar. Mas, de vez em quando, tem um ataque. E até digo não, com os outros não conseguia. Acho que evoluí como pai. - O encontro com a Camila também contribuiu para o seu amadurecimento? - Embora eu seja bem mais velho, vivemos coisas semelhantes. Somos do interior - ele é de Santa Rita do Passa Quatro (SP) e ela, de Teresópolis (RJ) - pegamos ovo no fundo do quintal, tiramos leite da vaca. Quando fomos a Paris, demos uma caipirada braba. Não temos problema em falar como é bom dar um beijo em frente da Torre Eiffel. E a gente pode botar para fora isso um com o outro sem pegar mal. Você não vai fazer a mesma coisa com uma carioca criada em Ipanema, que vai dizer: 'este cara é louco!'. - A diferença de idade atrapalha?Zé - Aos 51 anos estava solteiro e comecei a perceber que era desejado por mulheres muito novas. Notei que o perfil dessas meninas era o mesmo: são filhas de pais separados. E, quando a menina fica adolescente, o pai não sabe muito bem o que fazer. Há um afastamento natural. O que cria nessas meninas a necessidade de estar ao lado de um homem mais velho. Camila - Meus pais são separados, mas acho que isso de carência não tem muito a ver. Meu primeiro namorado também era bem mais velho do que eu. Sempre gostei de homens maduros. Não sou de noitada, de bebida, então achei que teria uma vida mais tranqüila ao lado de um homem mais velho e experiente. - Mas este não é bem perfil do Zé...Camila - Realmente, ele sempre foi muito agitado. Quando casamos, queria sair toda noite. Pensei que não iria agüentar. Não bebo e nem fumo, sou totalmente caretinha. Conversamos muito. Acho que apresentei a casa para o Zé. Tanto que agora saímos muito pouco. - E vocês planejam filhos?Zé - Vou ter que pensar bastante e ela sabe disso. Se tiver, serei um pai muito vagabundo, só vou querer curtir o lado bom. Já lavei muita fralda, acordei de madrugada, levei filho ao médico. Tudo bem que agora posso ter uma babá e a Camila tem energia. Não queria ter, mas estou pensando em mudar de idéia. E Camila também é responsável por isso. Seria uma sacanagem grande com ela a gente ficar junto e não ter um filho. Camila - Desejo muito ter e não vou abrir mão. Mas só pretendo engravidar com 30 anos. E quero um filho com o Zé. Mas não é o momento de ficar conversando. Ele tem que curtir o Bernardo. E eu tenho que me formar e preciso arrumar um bom trabalho. - O fato de ser pai mais velho angustia?Zé - Pelos planos de Camila, estaria com 65 anos. Angustia no sentido de que ele vai ser órfão, teoricamente, com 20 anos, se eu chegar aos 85. Mas minha mãe tem 99 anos. Camila - Vou estar mais apaixonada ainda. Brinco dizendo que ele poderia estar com 70 anos. Zé é brincalhão e tem muito conhecimento, me conta histórias fabulosas. A gente viaja e ele sabe tudo. É um aprendizado 24 horas. - Fidelidade é importante?Zé - Está sendo bom ser fiel. Depois que passa a ansiedade, não é difícil. Acredito que dá para fazer sexo com todas as mulheres tendo uma só. Você consegue isso depois de um certo aprendizado. A Camila falou que achava legal, que eu tinha que ser fiel, que não ia tolerar uma traição, então falei: 'tá bom'. Camila - Quando nos conhecemos, não sabia da fama dele. Todo mundo dizia: 'Nossa, Zé, mais uma? Cadê a de ontem?' Falavam de brincadeira, mas, depois, ele mesmo contou que era verdade. Mas estava apaixonada e a solução era mudar isso. E ele mudou. Confio muito no Zé. A gente sabe quando o homem está traindo. Se eu não faço, porque ele vai fazer? Não aceito traição e estamos felizes. Sou fiel e acho que estou levando ele para o caminho do bem. Coordenação de Produção: Claudio Lobato; Beleza: Duh. FOTOS:MARIANA VIANNA