Cerimônia Judaica
Segundo a tradição, os noivos não se falam ou se veem na semana anterior ao grande dia. No casamento, o noivo se cobre com o Talit, um manto usado em orações. E para evitar o engano de Jacó, que se casou com Léa em vez de Raquel por não ver sua face, a noiva entra com o rosto descoberto e o noivo só o cobre com o véu antes de entrarem na chupá, uma cobertura aberta nos quatro lados, que faz referência à tenda de Abraão, receptiva a todos. Esse ato mostra a superficialidade da beleza e reconhece que se casa também com o que é invisível.
Sob a chupá, a noiva circunda o noivo sete vezes. Entre as interpretações das sete voltas, uma faz referência à conquista da cidade de Jericó pelos judeus, quando eles deram sete voltas ao redor das muralhas e elas caíram. É como se a noiva derrubasse as barreiras que poderiam existir na união. Outro significado vem da clássica história de que Deus criou o mundo em 6 dias e no 7º descansou. Naquele momento, o casal está criando o mundo deles.
Para que seja vista por todos, a aliança é colocada no dedo indicador. Ao aceitar o casamento, quem recebe o anel o transfere para o dedo anelar. Nas cerimônias mais tradicionais, só o noivo coloca a aliança na noiva. Já a assinatura da Ketubá, um contrato matrimonial, demonstra que não se trata apenas de uma união física e emocional, mas de um compromisso legal e moral.
Em seguida, são ditas as sete bênçãos, que se referem à criação do mundo e do homem, à sobrevivência do povo judeu e da terra de Israel, ao casamento, à felicidade do casal e à criação da família, e o noivo tira o véu da noiva. Com a quebra do copo, ele encerra a cerimônia e lembra que, paralelamente à alegria, existe a tristeza. E da mesma forma que o copo não pode ser emendado, o casamento muda os noivos para sempre. Em seguida, é dito Mazal Tov, a expressão hebraica de boa sorte.
Cerimônia budista
Com base na filosofia humanista de Nitiren Daishonin, a cerimônia de casamento budista é celebrada por alguém que o casal escolhe, uma pessoa que seja importante na vida deles e que tenha a base da filosofia sólida para dirigir as orações e proferir algumas palavras de cumprimentos aos noivos. “Assim, a cerimônia se torna muito especial, envolta pela consideração e carinho tanto do celebrante quanto dos noivos”, diz Silvana Vicente, da Associação Brasil SGI (BSGI).
Entre as principais tradições dessa celebração está a recitação do Nam-Myoho-Rengue-Kyo, que significa devotar a vida à Lei Universal de Causa e Efeito para adquirir a compreensão sobre a essência real da existência. Também são ditos os dois principais capítulos do Sutra de Lótus.
Outra tradição milenar, chamada de San-San-Kudo, significa literalmente “três três nove vezes”. Três taças são oferecidas, cada uma delas, três vezes aos noivos. A primeira representa gratidão, a segunda, o juramento e a terceira, o desejo de prosperidade. Na cultura oriental, o número três é um símbolo de boa sorte e o nove, a aspiração máxima à boa sorte, fartura e felicidade.
Para o casamento ter a bênção e acontecer segundo as tradições budistas, basta que pelo menos uma das pessoas faça parte da religião. Mas, neste caso, pede-se ao não budista e seus familiares o pleno consentimento da cerimônia religiosa. “Afinal, sendo o budismo uma filosofia humanista, é primordial a realização da cerimônia com muita harmonia e alegria”, afirma Silvana.
Cerimônia católica
Na Igreja Católica Apostólica Romana, o casamento é um dos sete sacramentos, sinais visíveis nos quais o próprio Deus age para comunicar a sua graça aos fiéis e têm o objetivo de aproximar cada vez mais o homem de Deus em suas diferentes fases da vida.
De forma geral, a cerimônia pública se divide em acolhimento e ritos iniciais, liturgia da palavra, rito do matrimônio, oração universal ou dos fiéis, liturgia eucarística e bênção final. Durante as promessas, os noivos afirmam estar ali por livre e espontânea vontade e prometem, além de fidelidade “por toda a vida”, receber os “filhos que Deus vos confiar, educando-os na lei de Cristo e da Igreja”. E no consentimento, recebem-se como marido e mulher. Os padrinhos são testemunhas e devem colaborar para que a união se mantenha indissolúvel e que o casal cumpra sua missão dentro da Igreja e da sociedade.
O buquê, o véu e o vestido não têm papel no rito religioso, mas há uma herança cultural. Os antigos diziam que o significado das flores do buquê tinha relação com a fertilidade. Já no período da Idade Média, as noivas iam a pé para a igreja e, no caminho, recebiam flores, ervas e temperos para trazer sorte e felicidade. O véu, que em árabe significa “o que separa as duas coisas”, é o elemento que separa a vida de solteira da de esposa. A cor branca do vestido reflete a pureza da noiva.
A aliança é a lembrança das alianças realizadas por Deus com seu povo e é um sinal visível do compromisso entre os noivos, a “promessa mútua de proteção, fidelidade, amor e uma lembrança contínua da missão que receberam”, como é dito na oração.
A cerimônia é feita na igreja e pode ser celebrada em qualquer época, mas os domingos, a Semana Santa e o Natal estão reservados por conta do calendário litúrgico. Para receber um sacramento, é necessário ser batizado, algo que pode feito a qualquer tempo da vida.
Cerimônia ecumênica e inter-religiosa
O casamento ecumênico, ou interconfessional – nome oficial, segundo o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – acontece entre cristãos de igrejas diferentes: católica, anglicana, batista, etc. “Quando um dos noivos não é cristão – um é católico e o outro é budista, por exemplo – o casamento passa a se chamar inter-religioso”, explica o reverendo Rogério de Assis, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. Na cerimônia ecumênica, pelo menos um dos noivos deve ter recebido o batismo cristão. Já o casamento inter-religioso tem mais detalhes e varia de igreja para igreja. “Cada uma tem seu ritual específico e o mesclar desses rituais entre os celebrantes é que dá o tom inter-religioso”, diz o reverendo. A cerimonialista Beth Kos já organizou muitos casamentos ‘mistos’ e revela que, na maioria das vezes, a solução encontrada é realizar uma união civil. “Agrega-se à cerimônia civil uma bênção religiosa, que pode ser feita por um representante de cada uma das religiões envolvidas ou pelos próprios pais ou irmãos”, conta. Ela ainda lembra que a cerimônia católica só pode acontecer dentro da igreja. Já a judaica, protestante e as uniões civis podem ser realizadas em outros locais, permitindo a montagem do espaço no local da recepção. O ideal é que a cerimônia seja marcada pelo equilíbrio, sem privilegiar uma ou outra religião. “O respeito deve ser o norte. O que se celebra é o amor que une, não as diferenças”, conclui o reverendo.