Recentemente esteve no Brasil um dos grandes mestres da arquitetura e do design contemporâneos: o italiano Gaetano Pesce, que em 50 anos de carreira já criou muitos móveis, objetos e até edifícios mundialmente reconhecidos
Redação Publicado em 18/08/2011, às 08h18 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43
Recentemente esteve no Brasil um dos grandes mestres da arquitetura e do design contemporâneos: o italiano Gaetano Pesce, que em 50 anos de carreira já criou muitos móveis, objetos e até edifícios mundialmente reconhecidos. Aqui no Brasil ele é famoso pela parceria com a Melissa, para a qual fez um sapato totalmente customizável (algo que a marca nunca havia feito) com o objetivo de estimular a criatividade das pessoas. “Quando somos criativos é que somos felizes”, disse durante a conversa que tive com ele – e que você confere logo abaixo.
A definição de design é a mesma de 50, 40 ou mesmo 30 anos atrás?
Não, não é, pois geralmente o tempo muda tudo. Hoje, o design é, talvez, uma das expressões mais importantes que existem. Antes, era quase sinônimo de decoração, mas atualmente ele serve para ajudar as pessoas a pensarem, enquanto possibilita que todos se sintam mais cômodos para trabalhar, descansar, dormir, andar. Isso o aproximada da arte contemporânea, cuja única função é fazer pensar.
E como isso acontece?
Uma poltrona pode criticar o preconceito que existe contra as mulheres. Eu, por exemplo, fiz uma que representa o corpo da mulher, e tem cordas amarradas nos pés, ou seja, ela representa um prisioneiro. Infelizmente, as mulheres sempre foram obrigadas a viver uma vida de privações. Hoje não é mais assim, as coisas lentamente vão se abrindo, mas não para todas: no mundo islâmico não se abriu, nem no indiano; no chinês, só um pouco. Na América, as mulheres recebem menos dinheiro que os homens apesar de fazerem o mesmo trabalho. Sendo assim, um objeto como essa poltrona, na qual podemos nos sentar e que ainda fala sobre essa questão é um típico exemplo de arte política, que nos faz pensar.
O que é a beleza? Como definir o belo?
É uma dúvida, pois o que era belo antes pode não ser mais belo hoje. Mas é fato que a beleza, hoje, traz defeitos. A beleza mais bela é aquela que exprime as dificuldades humanas, porque apenas as máquinas são capazes de fazer as coisas com perfeição.
Como identificar um bom design hoje?
Um bom design hoje é aquele que tem a capacidade de fazer as pessoas pensarem. Um bom design não é mais uma questão de forma, mas sim de inventar processos, que podem ser de materiais e de técnicas, que quando postos em prática criam novas formas. A forma não é mais determinada pelas pessoas, pelo designer, mas sim pelo processo. A forma é menos importante que o conteúdo.
Por que o design italiano encanta tanta gente?
Porque o design italiano não é feito apenas pelos designers, mas também pelos industriais, pelos vendedores. Todos juntos criaram esse fenômeno. Os industriais italianos são muito curiosos e muito abertos a receberem novas ideias. E isso é muito importante porque eles recebem ideias de jovens designers de todo o mundo, de lugares onde não há bons industriais. Um exemplo disso é o que acontece com os irmãos Campana, que são brasileiros. Com essa abertura, criamos uma tradição de dar forma às novidades.
O senhor diz que nosso tempo é líquido, e não rígido. O que isso quer dizer?
O tempo é líquido porque as ideias mudam constantemente. Não há estabilidade, tudo se move. E esse movimento me faz pensar em algo líquido. Por isso os objetos que eu crio são geralmente moles, elásticos, porque eu acredito que eles devem representar o tempo. A liquidez do tempo é a pluralidade de pensamentos diferentes que existem. E todos eles estão certos, todos têm razão e são válidos.
Na galeria de imagens da coluna eu postei fotos das criações de Gaetano Pesce – não deixe de ver. E se você quiser saber mais sobre os grandes nomes do design, acesse meu blog: livingdesign.net.br. Até mais!
