Em entrevista à Revista CARAS, a apicultora Gisana Cristina ressalta importância das abelhas para equilíbrio ecológico e analisa trajetória
Referência em apicultura e meliponicultura em Goiás, a especialista Gisana Cristina (36) é um exemplo de como a paixão pela natureza pode transformar vidas e, ao mesmo tempo, contribuir para um futuro mais sustentável e equilibrado.
“Com paciência e dedicação, podemos transformar a maneira como as pessoas enxergam o meio ambiente”, entrega ela. Casada com Guilherme Martini (33) e mãe de três meninas, Alícia (14), Sofia
(11) e Helena (9), Gisana e sua família transformaram a conexão com a natureza em uma missão de
vida: a preservação das abelhas e a produção sustentável de mel.
“Nossa jornada com as abelhas começou de maneira inesperada. Tanto eu quanto o Guilherme trabalhávamos em outras áreas, mas sempre fomos apaixonados pela natureza”, conta.
“Em casa, plantamos um jardim de ervas medicinais e logo percebemos que as plantas visitadas por alguns insetos voadores se desenvolviam com muito mais vigor. Movidos pela curiosidade, investigamos mais a fundo e descobrimos que a maioria desses insetos eram, na verdade, abelhas nativas sem ferrão polinizando nosso jardim”, relembra a produtora.
Atualmente, Gisana gerencia apiários e meliponários na região Centro-Oeste do Brasil, realiza pesquisas científicas e trabalha em prol da educação ambiental. “Sem abelhas, não há alimento”, ressalta ela, destacando o impacto crucial das abelhas para todo o equilíbrio ecológico.
Entre os maiores desafios que enfrenta na produção de mel em Goiás, ela aponta as mudanças climáticas e o uso indiscriminado de defensivos agrícolas como fatores que prejudicam tanto as abelhas quanto a qualidade do mel.
“Nosso propósito é fortalecer a cadeia produtiva do mel, assegurar a preservação das abelhas e, acima de tudo, conscientizar a sociedade sobre sua importância crucial para o equilíbrio dos ecossistemas e do meio ambiente”, pontua.
Com criação de diversas espécies de abelhas nativas sem ferrão, como Jataí, Uruçu e Mandaçaia, Gisana destaca a importância dessas linhagens. “Elas são perfeitamente adaptadas ao nosso ecossistema e desempenham um papel específico na polinização das plantas nativas”, explica.
Além disso, a ausência de ferrão facilita o manejo, tornando o trabalho mais leve. “O mel das abelhas sem ferrão é altamente valorizado por seu potencial medicinal”, emenda ela, que também produz mel de abelhas com ferrão de diversas floradas do Cerrado, como Cipó-uva, Aroeira, Assa-peixe e Sucupira, cada um com características distintas.
“Cada tipo de mel oferece uma experiência única tanto no sabor quanto nos benefícios”, detalha.
Em um setor historicamente dominado por homens, Gisana enfrenta seus desafios com determinação e busca influenciar outras mulheres por meio das redes sociais, em que, atualmente, soma mais de 14 mil seguidores.
“A situação tem mudado graças às novas tecnologias, que tornam o manejo no apiário cada vez menos físico e mais intelectual. No passado, era mais difícil para as mulheres se inserirem nessas atividades, mas, hoje, as barreiras estão diminuindo”, afirma.
Para ela, o futuro da apicultura e meliponicultura está intrinsecamente ligado à conscientização ambiental e à preservação da biodiversidade. “Queremos expandir nossos projetos de educação ambiental e aumentar a conscientização sobre a importância das abelhas”, adianta.