Em entrevista à CARAS Brasil, especialista explica como funciona a diálise peritoneal, tratamento feito por Cid Moreira em seus últimos anos de vida
Publicado em 03/10/2024, às 21h00 - Atualizado em 04/10/2024, às 12h41
Cid Moreira (97) morreu nesta quinta-feira, 3, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Ele estava internado no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, com quadro de insuficiência renal crônica desde o último dia 4 de setembro. Segundo o médico Nélio Gomes Junior, que cuidou do jornalista no último mês de vida, por mais de três anos o famoso fazia diálise peritoneal em casa para tratar o problema de saúde.
A CARAS Brasil conversou com o Mário Ernesto, médico nefrologista e vice-presidente regional da Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplantes (ABCDT) para entender como estava o quadro do primeiro âncora do Jornal Nacional.
De acordo com o especialista, a terapia de diálise peritoneal é indicada para pacientes renais crônicos com estágio avançado da doença, como era o caso de Moreira. O profissional explica que também tem as mesmas indicações da hemodiálise, com a mesma eficiência, mas que é realizado pelo paciente em sua casa.
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"A diálise peritoneal tem como característica maior utilizar a membrana peritoneal, membrana que recobre toda a cavidade abdominal e bastante vascularizada, como filtro de troca entre o sangue e um líquido infundido no abdome de forma intermitente. O sangue com as impurezas a serem retiradas, em contato com um líquido limpo, transfere para esse líquido o que precisa ser removido e este quando drenado é desprezado junto com as impurezas filtradas. É um tratamento realizado pelo paciente, em sua casa, após um período de treinamento para a realização do tratamento. É indolor e não necessita de filtros externos nem de punções venosas", afirma.
Cid Moreira morreu com quadro de pneumonia, o que pode ter agravado a saúde do artista. O médico explica que a doença não tem relação com o problema renal que o jornalista estava tratando há três anos e que o caso é isolado.
"A pneumonia desenvolvida pelo senhor Cid Moreira é uma intercorrência isolada da diálise peritoneal. Não existem trabalhos que mostrem associação entre esses dois eventos. Podemos afirmar entretanto que fatores outros tem essa relação tais como a idade avançada, doenças respiratórias prévias e um paciente acamado por muito tempo, entre outros", destaca.
A doença renal crônica, em suas fases iniciais pode não apresentar sintomas. "Se lembrarmos que 75% dos pacientes em programa de diálise apresentam diabetes, hipertensão e, mais comumente as duas associadas, os sintomas iniciais podem ser apenas os dessas patologias. Em fases mais avançadas temos os sintomas relacionados às consequências da falta de função renal. Podemos ter inchaço (edema) nos pés e na face, anemia com fraqueza e palidez, perda de apetite, desânimo, pressão alta, redução no volume urinário, náuseas e vômitos. É muito importante o diagnóstico precoce das fases iniciais da doença renal e isso pode ser feito em pacientes sem sintomas, com a realização de dois exames simples que são o exame de urina para avaliação da presença de proteína na urina e a dosagem no sangue de uma substância chamada de creatinina. Exames simples, baratos e disponível na rede pública de saúde", conclui.