Queria ficar grávida. Planejei. Desejei. Meus nove meses de gestação foram uma delícia. Não enjoei, não engordei muito, até curtia minhas roupas “especiais”. Brincava com o meu marido que se eu tivesse certeza de que as outras também seriam assim, poderia engravidar umas dez vezes. Sempre quis ter parto normal e amamentar exclusivamente no peito até seis meses, que é o recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Mas, assim como me preparava para encarar possíveis dores e dificuldades, tentava me convencer de que se algo não desse certo, sem problemas. Importante era estarmos nós dois, meu filho e eu, bem.
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Os dois esforços valeram a pena e foram úteis. Fiz uma cesárea. Diante da afirmação do médico de que era o melhor a se fazer, aceitei depois de perguntar se havia outra opção e receber um não como resposta. Lembro de ficar com os olhos marejados, mas levei de fato numa boa. Otto nasceu saudável, com 49 centímetros e 3,2 quilos. Ainda na sala de parto, foi posto no meu colo para mamar. Um peito foi tranquilo, o outro doeu. E machucou.
Não era nada grave, mas daí em diante, toda vez que ele ia mamar nesse peito, doía um pouco. Na maternidade, aproveitei para pedir ajuda das enfermeiras um milhão de vezes. Sem frescura. E fui apresentada à pomadas cicatrizantes, disquinhos de hidrogel refrescantes e, por fim, a um bico de silicone. Foi amor à primeira usada. Apesar de estar escrito na embalagem que ele não deveria ser usado por muito tempo porque pode prejudicar a amamentação, esse não foi o nosso caso. Ainda bem! Meu filho engordava o que era esperado e mais um pouco! E, assim, continuamos nós três, firmes e fortes. Mas sei que algumas pessoas torceram o nariz, porque, afinal, havia algo entre nós. E de plástico.
Mas havia o contato, havia o tal olho no olho e havia a troca de fraldas, as brincadeiras, as "conversas" e os apertinhos. A amamentação não era o nosso único momento de intimidade. Talvez nem o melhor deles. E meu pequeno, todo mundo diz, é bem sorridente. Deve ser uma criança feliz, não?
Curti amamentar. Mais do que isso, curti cumprir o que eu havia planejado. Mas cansei e quis parar. Se por alguns dias, talvez semanas, eu cogitei seguir em frente por mais alguns meses, o cansaço que veio com a volta ao trabalho rapidinho me deu a certeza de que não ia rolar. Havia chegado ao meu limite. Amamentar tem, e é indiscutível, inúmeros benefícios. Se puder, faça. Mas sinta prazer. Se não na hora propriamente dita, pelo menos pelo feito, por saber que está dando o melhor alimento possível para o seu filho.
Quando voltei a trabalhar, amamentava correndo de manhã, trabalhava correndo até a hora do almoço, saia correndo, amamentava correndo, comia correndo, voltava correndo, trabalhava correndo até a hora da ordenha, passava pelo menos meia hora trancada no banheiro tirando leite (e não me sentia muito confortável com isso!), corria mais um pouco, corria para casa e peito de novo. Tinha a sensação de que não fazia nem uma coisa nem outra direito. E ficava sempre chateada de pensar que não, eu não poderia dormir mais um pouquinho porque amanhã era sábado.
Para mim, talvez essa tenha sido a parte mais difícil da amamentação. Essa dependência. Só serve você. Não importa o que acontecer, de três em três horas, tem que ser você. E no começo demora. A mamada em si é mais longa mesmo e ainda tem tudo o que vem antes e depois. Às vezes durante também. Quando você acha que acabou, ele faz um cocozão, suja tudo e lá vai você trocar a roupa toda da criança de madrugada ou bem na hora de sair. Ou, simplesmente, quando você estava muito cansada e sonhava com um banho. Na época que antecedeu a volta ao trabalho, ainda tinha a ordenha a cada mamada. E o lavar e fever tudo todas as vezes.
Somado a isso, não tinha o desprendimento de dar mamar em qualquer lugar. Não por causa do peito, por vergonha. Mas porque eu sempre achava que, em condições adversas (leia-se longe da nossa poltrona), ele não mamava direito. Meu marido brinca que dei de mamar pelo menos mil vezes e em todas achei que tinha algo errado. É verdade, confesso. Se ele mamava muito, eu me perguntava se ele estava só “chupetando”. Se mamava pouco, ficava aflita achando que ia sentir fome. Se pingava leite na hora do banho, achava chato. Se não pingava, queria saber se estava secando. Sonhava com peitos transparentes! E essa constante apreensão também cansa. Na ânsia de fazer tudo certo, não conseguia evitar.
Mas chegamos aos seis meses só com leite materno. Meu filho, eu e o bico de silicone. E, claro, meu marido, que não podia dar o peito, mas me ajudava em todo resto e foi muito importante. O banho é, oficialmente, dele. Trocou fraldas, colocou para arrotar, conversou comigo enquanto eu dava de mamar e tentou me acalmar nas mais de mil vezes que fiquei preocupada. Até hoje faz tudo isso. A diferença é que agora ele também sabe como é dar de mamar. E curte.
Tomei remédio para o leite secar. Quando parei de dar o peito, doía bastante. O peito ficava enorme, duro. Se eu não ordenhasse, doía só de pegar meu filho no colo. Mas agora faz uma semana que voltei a dormir sem sutiã e andar por ai sem absorventes nos peitos. Meu pequeno não sofreu com a mudança, não mudou seus hábitos de sono, está se acostumando com o pai o colocando para dormir, pega a mamadeira e leva para a boca, toma suco, come frutinha e acaba de estrear na sopa. E eu fiquei orgulhosa de mim. Não só por ter conseguido amamentar. Também. Mas por ter chegado onde eu queria com um filho saudável e alegre. Apesar da inquietação, foi demais. Se eu tiver mais filhos (não os dez de antes), quero repetir.
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