Interprete de Delzuíte, Solange Badim diz que prefere não julgar o amor de sua personagem por Pescoço (Nando Cunha) e admite que já sofreu por amor. "Chorei muito, mas não tenho medo de viver"
Doze anos após ter feito sua primeira novela, Solange Badim (49) conquistou o público na pele da batalhadora Delzuíte, a moradora do Morro do Alemão de 'Salve Jorge" capaz de perdoar as traições do marido, o mulherengo Pescoço, vivido por Nando Cunha (46). Com 30 anos de carreira no teatro, e fazendo sua segunda novela, a atriz se diz feliz com a repercussão da personagem, mas ressalta que o sucesso na trama de Glória Perez (64) não modificou sua rotina. "Sou uma pessoa normal". Veja a seguir a entrevista de Solange exclusiva para CARAS Online.
- Delzuíte tem dividido a opinião das mulheres ao fazer vista grossa para as malandragens de Pescoço. E você, que interpreta a personagem, o que acha da atitude dela?
- Em primeiro lugar, acho difícil fazer qualquer julgamento quando se trata de amor. Cada um sabe de suas carências e necessidades, que são tão diferentes de pessoa para pessoa. Então é muito difícil julgar alguém envolvido pelo amor.
- Como você definiria a Delzuíte, uma mulher capaz de perdoar tantos erros do homem que ama?
- A Delzuíte é uma mistura de muitas mulheres, por isso ela ganha uma pincelada mais forte. É claro que existem muitas Delzuítes por aí... mulheres que amam demais – tema que já foi abordado numa novela de Manoel Carlos - mulheres que são muito inseguras, com a autoestima mal trabalhada, que tem medo de ficar sozinha. Ela gosta desse homem, é uma mulher batalhadora, sofrida e que se sente feliz com ele. O Pescoço é um bom amante, divertido e ela acaba fechando os olhos para outras coisas... Também tem um instinto maternal. Ela não se importa se é ela que banca, que corre atrás para manter a casa. São escolhas que a pessoa faz. Ela passa muitas dificuldades, mas só o fato de estar com aquele cara já a faz feliz.
- Você já experimentou alguma situação como a vivida por sua personagem?
- Um pouco, não do nível da Delzuíte, nada relacionado à traição, mas coisas de incompatibilidade de vida mesmo. É aquela história de pensar: ‘sei que isso uma hora vai acabar, mas não vou matar o amor, uma hora ele vai acabar’. E chegou um momento em que disse: ‘essa história acaba aqui’. Chorei muito, mas não tenho medo de viver.
- Na reta final de ‘Salve Jorge’, Delzuíte é envolvida pelo tráfico de crianças ao descobrir que Aisha ( Dani Moreno (27) é realmente a filha que ela imaginava morta. O que acha da novela ter discutido esse assunto?
- Discutir essa questão é muito bacana. Quando começou a novela, vi alguns documentários de meninas que tinham sido ‘doadas’ de maneira estranha... a Glória é genial, teve muita sensibilidade de abordar essa questão. Esse vazio que a Aisha sente é muito comum em meninas que passam por essa situação, um vazio que elas sentem e que talvez nunca seja suprido.
- Como se sentiu ao gravar as cenas do encontro de Delzuíte e Aisha?
- Sou mãe de uma menina de 13 anos. Todas as preocupações do mundo são relacionadas ao filho, tudo gira em torno deles, é uma referência. Eu me emocionei muito. Desde o início da novela rolou uma empatia muito forte com a Dani, a gente se abraçava e dizia: quando é que esse encontro vai acontecer? No dia de gravar, estava muito ansiosa e fiquei muito emocionada. Fiquei imaginando como deve ser louco você encontrar uma pessoa que não vê há 20 anos. O ideal é que as pessoas não criem muitas fantasias sobre esses encontros, às vezes rola uma rejeição... No caso da Aisha, ela vai ter uma rejeição pelo fato daquela família ser pobre, morar na favela...
Meu desejo é que elas fiquem amigas, que tenham afeto, que isso acalme o coração da Aisha e que cada um siga sua vida.
- Você não é um rosto muito conhecido em televisão. Como tem sido a experiência?
- Tenho 30 anos de carreira e essa é a minha segunda novela depois de 12 anos, a primeira foi Porto dos Milagres. Fui pisando em ovos. Na televisão é difícil dimensionar essa coisa do sucesso. As pessoas me dizem que estou fazendo sucesso com a Delzuíte, eu me surpreendo e pergunto: estou? No teatro a resposta e imediata, na televisão, não. Nas ruas as pessoas sempre me olham e dizem para eu não deixar o Pescoço maltratar a Delzuíte. Fico feliz com o carinho.
- Sua vida mudou com o sucesso na novela?
- Acho que essa coisa de celebridade é você quem acaba fazendo, dá para se preservar, você escolhe. As pessoas me param, pedem para tirar foto e fico feliz. Eu sinto que as pessoas querem te tocar por você estar na televisão, isso não me infla. Sou desligada dessas coisas, sou uma pessoa normal, que leva a filha no colégio. Eu gosto de andar bem, mas se tiver que ir na rua de chinelo e camiseta, eu vou, não vou me maquiar por causa disso.
- Pretende continuar na televisão ou deseja voltar para o teatro?
- O teatro está no sangue, é uma necessidade física e intelectual. Mas espero não dar um hiato tão grande na televisão, é outra forma de interpretar, são outros desafios.
- Qual o fim que gostaria de ver para Delzuíte e Pescoço?
- Acho que ela tem que terminar a novela com ele, mas ele tem que arrumar um trabalho.